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JJ.

Honestamente, estou com medo; e não porque preciso encontrar um cara suspeito no meio da noite em uma cidade que mal conheço para entregar uma quantia de dinheiro que não faço ideia se vai ser o suficiente. Não, é porque Kiara está aqui, e se algo der errado, tenho medo de que ela faça algo estúpido como tentar resolver. Mas não externo minha preocupação, ao invés disso, apenas permaneço em silêncio no carro, aguardando a hora.

A escuridão já envolve sua caminhonete estacionada em um local mais afastado do ponto de encontro - ao meu pedido. Sugeri que ela ficasse na outra esquina, mais longe, contudo, ela não pareceu gostar da ideia de não poder me ver.

Meu olhar vai até ela de tempo em tempo, observando-a guardar o copo vazio de café que tomou em pouquíssimo tempo e tentar parar quieta no assento. Mas não consegue: mexe no celular e guarda o aparelho, então batuca os dedos no volante enquanto olha ao redor, seu joelho está mexendo em um ritmo agonizante. Perduro meu olhar em sua perna antes de pousar minha mão nela, pausando de súbito com seu tique nervoso e trazendo as íris castanhas surpresas até mim.

- Relaxa. - eu digo; vejo que meu toque a afeta, aprecio o modo que seus lábios se entreabrem e ela respira fundo.

- Eu tô relaxada.

Arqueio as sobrancelhas e ela cede com um suspiro.

- E só que... tem certeza que não é uma emboscada? Que vai ficar bem? E se eles tiverem armas?

Coço minha sobrancelha e desvio o olhar.

- Já fiz isso antes, tá legal? Vai ser de boa. – Não menciono que meu pai estava junto da outra vez. – Eles só queremo dinheiro, quando verem que eu tenho a grana vão me deixar em paz, confia em mim, ok?

As palavras são meramente para confortar - porque tenho zero confiança que é isso que vai acontecer. Ela umedece os lábios de maneira nervosa e ainda não parece muito confiante.

- Mas olha, se algo acontecer, tipo, sei lá, qualquer coisa fora do planejado, você dá o fora, tá legal? Eu -

- JJ, não, você acabou de dizer que vai dar tudo certo, o que tá dizendo agora?

- Eu sei, só tô falando que -

Ela fecha os olhos e sacode a cabeça; sei que foi uma péssima ideia deixar ela me trazer, sério. Porque não gosto de a assustar, mas cada vez mais percebo que Kiara é a garota mais teimosa que conheço.

- Não quero ouvir, se você tá dizendo que vai dar certo, não tem razão pra pensar que vai dar errado.

Solto um suspiro irritado e afasto minha mão de sua perna; por que diabos ela está aqui? Por que se importa e quer arriscar tanto por minha causa?

Viro meu rosto para a janela e encaro a rua escura e deserta por um momento, tentando me acalmar. Tudo que quero é a agarrar pelos ombros e a mandar correr mais longe dali.

O silêncio perdura por um longo momento, descanso a cabeça no apoio do banco e quase não escuto quando ela me chama baixo. Viro meu olhar para fitar uma Kiara me observando de uma maneira que faz meu peito sentir aquele negócio estranho onde meu coração bate mais forte.

- O que foi? – pergunto e minha voz sai em um múrmuro, porque não consigo desviar daquelas íris que me encaram, só penso em como quero me inclinar para frente e a beijar.

O pensamento me faz inconscientemente descer os olhos até sua boca, imagino como seria se eu a beijasse agora, o gosto do latte que ela recém tomou junto com o sabor de seu gloss. E droga, eu não devia estar pensando naquilo em um momento daqueles. Contudo, quando retorno a seus olhos, ela também fita minha boca. Será que...?

- JJ... – sua voz diminuta ecoa pelo carro, seu semblante denota certo receio; parece que ela quer muito me dizer algo naquele instante para caso o pior aconteça. Então aguardo pacientemente. – Eu, uh... Quero que saiba...

Ela aparenta estar totalmente vulnerável naquele instante, como se estivesse preparando-se para se despir dos seus pensamentos mais aterrorizantes.

Começo a pensar que sei o que ela quer dizer; consigo ver pela forma que gagueja, pelas orbes castanhas que me encaram. E também por ela estar aqui nesse carro comigo, arriscando-se por minha causa.

Desejo escutar na mesma medida que não, porque estou com medo - não sei exatamente do que, e não é o mesmo medo que sinto da situação que me encontro - simplesmente receio que as palavras que ela diga vá tornar, seja lá o que esteja acontecendo entre a gente, real. E eu não vou saber responder o que sinto quando meu peito se aperta daquela forma toda vez que eu a olho, sequer gosto de pensar sobre isso.

Mas então, se ela não falar, também julgo que vou me sentir decepcionado. Porra, por que eu tenho que ser tão ferrado da cabeça?

Ela abre a boca de novo para continuar; mas nunca escuto, porque o meu celular apita em minha mão e interrompe o momento - está na hora de ir. Não perco o olhar horrorizado que ela faz.

- Kiara, promete pra mim que vai embora se algo acontecer? Promete, por favor, eu não vou... Não vou conseguir ir tranquilo pra lá se não me prometer.

Dessa vez, Carrera ergue suas íris castanhas e me fita, há uma nova determinação em seu olhar quando diz:

- Prometo.

E sinto-me um pouco mais aliviado quando saio do carro - um pouco só, porque estou tremendo.

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amor pirata. - jiara.Onde histórias criam vida. Descubra agora