O Duque é uma duquesa

Capitulo 7

Decrepitar da lareira no escritório do jovem mestre era a única fonte de som além das folhas que estavam sendo passadas lentamente diante do olhar atento de Victor Masen.

Era de manhã, a neve caía pesadamente lá fora, o sol ainda não havia nascido, então havia apenas escuridão e frio.

O jovem mestre folheava documentos enquanto o jovem conselheiro bocejava em sua posição de pé com uma pilha de outros papéis na mão.

Vee se perguntou quando seu chefe tiraria uma folga para descansar em vez de intimidar seus subordinados para um trabalho que se assemelhasse à escravidão.

Ele só podia gemer em sua mente, ele ainda não tinha coragem de irritar seu chefe tão cedo, ele valorizava muito seus membros colados ao seu corpo.

— Não pense muito sobre isso Vee, posso ver que as engrenagens do seu cérebro estão funcionando.

A voz rouca tirou o jovem assistente de seu devaneio, e ele abaixou a cabeça, corando ao ser descoberto. “O jovem mestre pode ler mentes?”

— Ainda é cedo, jovem mestre. – disse Vee cautelosamente, – por que você não deixa esse assunto para depois do café da manhã?

— As pessoas no leste vão congelar antes disso. Estou analisando os contratos de fornecimento de lenha, tenho que ter tudo no lugar para que não falte lenha.

— Você está certo, como sempre.

Victor ignorou seu assistente o resto do tempo, até que a ampulheta que marcava a hora mostrava que o tempo havia passado e que a areia estava completamente de um lado.

O jovem Masen esticou os membros, levantou-se de sua mesa sem mais explicações e saiu.

Vee ainda estava parado, espantado ao ver seu mestre partir sem ter que ser forçado. Ele só podia agradecer à jovem da casa para fazer esse movimento.

A cozinha estava movimentada, principalmente porque todos sabiam que o jovem mestre era rigoroso com os horários e que a punição para quem não seguia as regras era severa.

Quando o belo jovem de cabelos grisalhos e olhos frios de safira apareceu, foi como ver um imortal entre os humanos. Sua aura distante e celestial dominava qualquer um que ousasse olhar o jovem mestre em seus olhos indiferentes.

As empregadas desviam o olhar, fazem uma reverência adequada antes de voltar ao trabalho em silêncio. Nem mesmo o chef se atreveu a interromper a inspeção de Victor Masen. O suor escorria por suas costas.

O jovem mestre vestia uma camisa de linho fina incapaz de manter qualquer calor, sua pele branca imaculada era visível através dos dois botões abertos na clavícula.

Ele caminhou lentamente até a fruta fresca e pegou uma maçã, trazendo-a ao nível dos olhos antes de dar uma mordida. Seus olhos inescrutáveis pousaram no líder que estremeceu, mas tentou não parecer tão patético na frente do mestre.

— Prepare uma salada de frutas, bolos e suco. A senhora adora doces, bem como algo para aquecer o corpo. Para mim, você já sabe disso.– Victor não esperou um aceno positivo, apenas se virou e saiu da cozinha, deixando os pobres criados respirarem novamente.

— O jovem mestre nunca vem à cozinha – comentou uma empregada.

— Parece que ele tem afeição pela senhora – disse outro calmamente.

— O duque e o jovem mestre são iguais, como ele poderia amar a dama?

— É melhor você trabalhar quieto, o jovem Mestre está de bom humor, ninguém pode garantir que ele não possa mudar. – falou o líder, exasperado que seus subordinados estavam conversando em vez de trabalhar.

Ele já estava feliz por não ter aqueles olhos gélidos sobre ele, só podia agradecer aos deuses pelo bom humor do jovem mestre da família Masen.

Lá fora, um guarda corre pelas portas, saudando rapidamente seu superior, ignorando sua aparência desgrenhada, ele começa a contar o motivo de sua entrada abrupta.

— Senhor, a aldeia perto do castelo foi atacada, tudo indica que são soldados inimigos.

O capitão da guarda sentiu que este assunto não era tão simples, seu coração ficou desconfiado mesmo quando ele ordenou que o guarda descansasse e cuidasse das feridas causadas pelo frio extremo do lado de fora do Palácio.

— Você, vá denunciar ao jovem mestre sobre este incidente, vou fazer uma patrulha para investigar o que aconteceu. – ordenou o capitão ao cavaleiro que estava ao seu lado para patrulhar o perímetro, ele estimou que esse cara da capital era confiável , então ele o atribuiu a essa tarefa.

— Obedecerei às suas ordens, Capitão Lian.

Este jovem cavaleiro não era outro senão Sir Henry. Ele estava procurando maneiras de justificar o contato com a princesa imperial sem levantar as suspeitas do jovem mestre Masen, era uma benção disfarçada de infortúnio, e enquanto caminhava em direção à entrada do Palácio, ele perdeu o olhar vindo do alto quarto do andar, apenas um lampejo de cabelo ruivo podia ser visto depois que a pessoa saiu.

Enquanto isso, nos corredores da masmorra, o jovem de cabelos platinados caminhava com passos graciosos, flanqueado por dois soldados e seu conselheiro Vee, este último se perguntando que pecado havia sido cometido para atrair a atenção do demônio sanguinário que era seu Mestre. Embora o rosto estóico do jovem Mestre parecesse normal, Vee podia sentir a aura assassina emanando de seu corpo em ondas, oprimindo qualquer um que ousasse chegar muito perto.

Os degraus descem à medida que a cena se torna mais sinistra, Victor para em frente à cela com uma porta de madeira e uma pequena abertura coberta de grades. Abrimos e, de dentro, descobrimos o motivo do chamado: um aristocrata está imobilizado por um soldado da patrulha.

Victor caminhou até a cadeira em frente ao aristocrata e sentou-se, acomodando-se. Seu olhar parecia conter lâminas de gelo quando ele pousou no homem trêmulo em roupas caras que estava sendo mantido de joelhos pelo soldado.

Ele parecia um nobre patético, Victor só podia imaginar o que pessoas como esse homem poderiam fazer para atrair atenção suficiente para parar neste lugar.

— Qual é o relatório?

— Este homem é o filho mais novo do juiz de pequenas causas da cidade, Conde Roy, ele foi pego cometendo um crime sexual contra uma mulher.– O soldado relatou, ele suspirou em seu coração, não por simpatia por esse jovem mestre Roy, mas porque seu mestre poderia levar muito tempo para punir pessoas como esse aristocrata imundo.

— Este jovem mestre não conhece as leis deste ducado? – O olhar frio e indiferente ficou ainda mais frio.– responda.

— Senhor, ela era apenas uma serva, o jovem mestre deve saber que esse tipo de coisa é comum. – O jovem mestre Roy sentiu o suor escorrer pelas costas, enquanto suas mãos ficaram extremamente frias diante do olhar vazio do jovem mestre Masen. – Além disso, não há provas de que eu tenha cometido tal crime. É a palavra deste servo contra a de um jovem mestre da família Roy!

A risada fria de Victor assustou Vee,  seus olhos e ouvidos pareciam estar pregando uma peça nele ou ele realmente tinha visto seu mestre rir. Foi um mau presságio, ele lamentou para si mesmo, observando esse aristocrata de segunda linha que estava tentando discutir suas ações desprezíveis com Victor Masen.

A atmosfera tensa na cela não foi impressão de Vee, o poder mágico de seu mestre estava realmente deixando escapar sua aura opressiva, ele estava realmente com raiva.

Com um aceno de mão, o soldado que o incriminou mais cedo estendeu um pergaminho mágico com o decreto imperial, este foi apanhado pelo jovem mestre e aberto em movimentos lentos.

— “Por decreto imperial, o território oriental do império, comandado pelo grão-duque Masen, espada do imperador e comandante celeste da família ancestral, tem jurisdição plena sobre todas as terras do território ducal, e é responsável pela criação de comarcas independentes, sistemas tributários, caravanas comerciais, sistemas jurídicos e serviços públicos, fornecidos por sua independência enquanto servia o imperador reinante da dinastia fundadora”.

— Você sabe o que significa este decreto imperial?

O aristocrata estremeceu depois de ouvir o decreto imperial, não que ele não soubesse que o duque Masen era o homem mais poderoso do império, até o imperador tinha que ser respeitoso ao conhecê-lo, mas ouvir em primeira mão foi diferente, e certamente havia nada que seu pai, o Conde pudesse fazer se o jovem Mestre Masen decidisse puni-lo. Ele só conseguia pensar em oferecer dinheiro para aliviar o humor do filho do duque.

— Jovem mestre, tenho dinheiro, podemos discutir esse assunto com mais tranquilidade?

Vee lamentou que este jovem estúpido fosse tão suicida, ele só podia ver o fim que seu mestre decidiria para ele.

O jovem mestre riu.

— Os crimes sexuais são punidos severamente, como o filho do juiz, você, mais do que ninguém deveria saber. Este caso já foi denunciado ao Censor Imperial, seu pai também será afastado de seu cargo, claro que não é tão fácil lidar com este caso com o status de Conde Roy, mas seu crime tem provas suficientes para que eu possa aplicar a pena de morte sem consequências.

— A pena de morte? – O rosto do jovem aristocrata ficou pálido quando ele não encontrou nenhum traço de hesitação nos olhos frios do jovem mestre Masen.

— Sim, mais a agravante da oferta de propina. Sua penalidade será a castração física e você perderá dois dedos. Este ducado não é um país de porcos para ter pessoas como você como cidadãos. Depois de cumprir sua pena, você será enviado para a prisão e permanecerá lá por cinco anos. Veremos se você mantém as mesmas inclinações perversas.

Os soldados na cela suspiraram ao ouvir esta sentença implacável.

Embora parecesse uma bênção disfarçada de infortúnio, já que criminosos sexuais comuns teriam sido mortos imediatamente, mandar um aristocrata para a prisão era apenas uma maneira cruel de fazê-lo sofrer mais do que a morte.

Todos sabiam que o Jovem Mestre era implacável com as punições pelos crimes cometidos sob sua jurisdição, seu humor era ainda pior quando os autores desses crimes eram pessoas poderosas que não podiam pagar facilmente por seus crimes devido às suas conexões.

A prisão era pior que a morte, as intenções do jovem mestre eram óbvias.

— Quanto à vítima do seu crime, ela receberá parte do seu patrimônio como indenização. Além disso, você está destituído de seu título de nobreza, então agora você é apenas um plebeu como o resto. Acho que tenho outros negócios para tratar. Você, certifique-se de que a sentença seja executada imediatamente.

—Jovem mestre!

Ignorado pelo jovem mestre Masen, o filho do Conde Roy continuou a gritar e implorar por misericórdia, os ouvidos de Vee doíam com o escândalo criado por este aristocrata imundo. Ele olhou com desgosto para o rosto pálido do homem e o chutou no corpo, o choque no rosto do jovem mestre Roy foi impagável.

— Tire esse lixo depois do castigo - Vee falou e fez questão de que os guardas entendessem suas palavras.
Ele se virou e correu atrás de seu mestre, apenas para encontrá-lo conversando com um cavaleiro, e pelo olhar congelado no rosto bonito, Vee sabia que o assunto não deveria ser agradável.

— Vee, venha aqui.

Pego de surpresa, Vee se aproximou e deu uma boa olhada no cavaleiro, ele não lhe era estranho, mas de onde ele o conhecia exatamente?

— Vee, é Sir Henry, ele acabou de me dizer que houve ataques na vila perto do castelo da patrulha.

— Não tem como eles serem soldados inimigos. – Vee disse sem pensar muito.

O reino vizinho do Ducado era hostil ao império, mas atacar aldeias perto do castelo onde a Primeira Legião do Exército Oriental estava montando acampamento era tolice mesmo para um louco. Um contra-ataque da Primeira Legião Oriental poderia capturar algumas cidades fronteiriças em questão de meses, o Reino de Westefal não atacaria um tigre com paus e pedras.

Victor tinha certeza disso, agora só queria saber quem era o responsável pelo ataque.

— Sir Henry, traga-me notícias o mais rápido possível, vou cuidar do café da manhã agora, em duas horas quero um relatório completo.

— Entendido jovem mestre – Henry deu um soco no próprio peito e inclinou a cabeça levemente antes de deixar Victor e Vee sozinhos.

— Bem, esta manhã foi um pouco mais agitada. – Vee comentou, então ele olhou para seu chefe. – Jovem mestre, você criou uma agitação entre os servos. Ouvi dizer que você foi à cozinha pedir que preparassem o café da manhã da senhora. Jovem mestre, fico feliz em saber que você também é humano.

Victor ignorou as bobagens ditas por seu assistente e continuou seu caminho para a sala de estudos, ele havia perdido o café da manhã por causa do caso do filho do conde Roy, provavelmente sua esposa já havia comido, Victor lamentou não acompanhá-la.

Seu rosto escureceu ainda mais ao se lembrar do Conde Roy.

Victor realmente deveria perseguir algumas famílias corruptas no Leste, ele só precisava ter provas suficientes para desalojá-los do poder, assim os próximos anos no comando do Leste não seriam tão grandes.

Vee sentiu um arrepio percorrer sua espinha, ele olhou para seu chefe com desconfiança, ele sentiu que haveria uma grande mudança em breve, seu chefe tinha um rosto estóico, mas Vee teria sido tolo em não notar a irritação assustadora no frio de Victor, olhos mortais.

Mais uma vez, Vee estava grato que ele não estava do lado ruim do jovem mestre, ele gostava muito de sua cabeça enfiada em seu pescoço.