Capítulo 1 - Bia

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CAPÍTULOS PARA DEGUSTAÇÃO

PLÁGIO É CRIME. 


Sorrio ao me deparar com o prédio de quatro andares, todo em tijolinho à vista. Estava finalmente realizando meu sonho, não conseguia acreditar.

Uma sensação de conforto cresceu em meu peito, com a ideia de que de hoje em diante ali seria meu lar.

Paguei o taxista que gentilmente retirou minha mala do carro. Olhei maravilhada ao redor. O bairro dos Bandeirantes, situado na cidade de Bela Vista, era muito bem localizado. Nas ruas que o taxista percorreu, pude perceber que bem próximo ao prédio existem vários estabelecimentos comerciais e áreas para lazer.

Achei isso o máximo, pois pelo fato de eu ser uma "caipira" nessa cidade, não vou correr tanto risco de me perder.

Voltei meu olhar para o prédio e algo se aqueceu dentro de mim. Pensei com carinho que ali se iniciava uma nova etapa da minha vida.

– Vida nova Bia – Falei baixinho para mim mesma.

Peguei minha pequena mala, e caminhei até a entrada. Passei por um jardim muito bem cuidado e me deparei com uma grade de ferro que dava acesso ao condomínio. Olhei o painel luminoso em minha frente, e retirei da minha bolsa a senha que Clarissa tinha me passado no dia anterior.

Lembrei-me da nossa conversa e de como nos tornamos amigas apenas nas poucas vezes que nos falamos sobre o aluguel do apartamento. Tudo bem, assumo que sou carente e que me sinto amiga de todos que trocam meia dúzia de palavras comigo, mas Clarissa realmente foi muito gentil, espero que sua irmã, a Danny, seja tão simpática quanto ela.

Assim que digito a senha ouço o sinal sonoro demonstrando que o portão foi destravado, menos-mal, Carla minha irmã, não parava de falar que eu tinha caído no conto do vigário, e que perderia o dinheiro que depositei antecipado como aluguel. Ufa, ainda bem que, pelo menos, a senha estava certa, vamos testar agora a chave do apartamento.

Subi os quatro lances de escada porque claro, para o meu azar o apartamento ficava no último andar. E como o prédio é de pequeno porte não havia elevador.

Deparei-me com um hall com quatro portas, e logo localizei o número 43 do lado direito do corredor. Segui por ali até parar em frente a porta, estranhei por não ter nenhuma planta ou enfeite na porta, mas logo pensei melhor e deduzi que a Danny deveria ser ocupada e não tinha tempo para essas coisas. Com certeza eu mudaria isso, adoro todo e qualquer enfeite de casa.

Coloquei a chave na maçaneta e girei-a devagar, sentindo uma realização crescer em meu peito que era difícil de explicar. Há tempos eu não tinha um lugar para chamar de meu, na casa de Carla sempre fui muito bem tratada, mas ali não era minha casa.

E a casa dos meus pais eu nem contava.

Meus pais não são más pessoas, mas não fui planejada para vir ao mundo. Eles só queriam ter um filho, de preferência homem. Então como primeira tentativa veio Carla. Meu pai ficou chateado, mas se acostumou com a ideia. Ela passou a ser a princesinha do papai. Só que o que ninguém esperava, era que em uma pequena cirurgia que minha mãe teve que se submeter, os antibióticos fossem cortar o efeito do anticoncepcional e ela engravidaria novamente. Meu pai surtou, pois não queria mais filhos. Mas como ainda tinha esperança de ser o tão sonhado filho homem, aceitou a gravidez.

Eu, teimosa que sou, não deixei que eles soubessem o sexo nos ultrassons que foram feitos durante a gestação. Então a esperança ficou até o último minuto.

Quando minha mãe entrou em trabalho de parto e eu nasci, a decepção foi geral.

Como Carla já tinha sete anos, ela praticamente me adotou. Minha mãe teve depressão pós-parto, e me rejeitou. Com meu pai foi a mesma situação. Eles nunca me maltrataram, porém nunca houve carinho e uma relação de pais e filho. Por isso sou tão apegada à minha amada irmã Carla.

Quando completei 12 anos, ela se casou com Henrique, e me chamou para ir morar com ela. Então juntei minhas coisas e sem pensar duas vezes mudei de cidade com ela. Meus pais não ligaram nem um pouco. Creio que foi até um alívio, pois eu estava entrando naquela fase de pré-adolescente rebelde.

Desde então, trabalhei duro em todos os bicos que arrumava. Juntei cada centavo que recebia, com o objetivo de tornar-me independente e realizar meu sonho de vir estudar em Bela Vista. Meu diploma em Arquitetura sempre foi o que eu mais almejei na vida.

E aqui estou eu, sentindo-me em casa, e chamando o local de meu lar. Estranho isso porque nem mesmo entrei – pensei sorrindo – Já disse que sou meio estranha? Pois é, sou.

Adentrei o local com cuidado, observando tudo ao redor. A sala não era tão grande, mas muito bem organizada.

Ao lado esquerdo da porta havia a sala de estar. Com um sofá de dois e outro de três lugares fazendo um "L". O sofá era em couro preto, aparentemente bem confortável, daqueles que você olha e tem vontade de se jogar.

Por muito pouco não o fiz.

Fixada em um painel de madeira escura, havia uma televisão enorme. Mas enorme mesmo, umas 50 polegadas talvez. Digo talvez, pois não entendo nada disso.

Um Xbox estava acoplado a TV e vários jogos organizados em uma rack igualmente em madeira escura. Reconheci o aparelho, pois é igual ao que o meu cunhado tem em sua casa. Aquilo era meio estranho, mas pensando por outro lado, às vezes Danny tinha um namorado meio viciado em jogos. Deixei esses pensamentos de lado.

Em frente à porta, do outro lado da sala, havia uma mesa de jantar para quatro pessoas. E logo adiante, um balcão com uma pedra preta reluzente que separava a cozinha da sala com três banquetas vermelhas, muito bonitas.

Achei o lugar meio impessoal, sem muitas cores. Tudo era escuro, meio másculo para dizer a verdade. Não sei o que a Danny fazia da vida, mas, com certeza, não tinha tempo para decorar o apartamento.

Infelizmente ou felizmente não pude terminar minha inspeção no local, pois escutei uma porta batendo e já coloquei um sorriso no rosto esperando para conhecer minha mais nova companheira de casa.

Fiquei esperando e simplesmente parei de respirar quando um homem alto, forte e lindo apareceu na sala enrolado em apenas uma toalha branca. Toalha essa que deixava seu abdômen exposto, e que abdômen meu pai amado.

Fiquei ali babando vendo umas gotas de água descendo. E como não acontecia em muito tempo, senti vontade de ir até lá e lamber cada gotinha, que desciam em direção a um "V" mais do que perfeito.

Acordei dos meus devaneios com um pigarro. Desgrudei, com muita dificuldade, meus olhos daquele corpo dos Deuses e visualizei o par de olhos mais azuis que já vi em toda a minha vida. Ele me olhava curioso com um sorrisinho de lado.

– Posso saber quem é você? - Ele perguntou com a sobrancelha arqueada.

– Desculpe você deve ser namorado da Danny né, sou Bia a nova colega de quarto dela – Aproximei-me oferecendo minha mão pra ele.

Ele fez uma careta confusa e olhou minha mão estendida.

– Não estou entendendo, como assim colega de quarto?

Sorri, pois a Clarissa tinha me falado que a família toda era um pouco esquecida. Com certeza a Danny não tinha comentado sobre isso com o namorado.

– Clarissa alugou sua parte do apartamento para mim, estou vindo para Bela Vista estudar, achei o anúncio de sua cunhada pela internet.
Abri os braços para dar ênfase ao meu discurso e finalizei:

– E aqui estou.

Ele coçou a nuca e continuou com aquela cara confusa. Eu por outro lado já estava babando de novo, admirando aqueles bíceps, tríceps e tudo mais com íceps que aquele homem tivesse. Sacudi minha cabeça para mandar para longe essa linha de pensamento. Nunca fui de cobiçar homem alheio não seria agora que começaria.

Ele por sua vez continuava ali estático sem mexer um músculo, e olha que tinha muito músculo, devo ressaltar, mas voltando, para acabar com o silêncio constrangedor fiz a pergunta que já estava me deixando desconfortável.

– Onde está Danny? Gostaria muito de conhecê-la.

E foi nesse instante que me mundo parou, pois ele me ofereceu um meio sorriso debochado e respondeu.

-Prazer, Daniel, porém a pirralha da minha irmã Clarissa insiste em me chamar de Danny.

*DEGUSTAÇÃO*  Minha Vida ao Seu Lado - Série Escolhas- Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora