Capítulo 23

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SN

Acordei com o cheiro dele ainda grudado em mim.

O sol não entrava pelas janelas, mas a luz amarelada do abajur ainda estava acesa, como se o tempo tivesse congelado durante a madrugada. Yoongi dormia ao meu lado, parcialmente coberto, uma das mãos pousada em minha cintura de forma possessiva mesmo em sonho.

Meus lábios ainda estavam sensíveis.
Minha pele ainda ardia onde ele tocou.
Era como se meu corpo tivesse memorizado o mapa das mãos dele.

Fecho os olhos por um momento, buscando o ar, sentindo um arrepio quando lembro do calor que ele deixou em mim, e dentro de mim.
O jeito como ele sussurrava meu nome. O peso do seu corpo sobre o meu.
A forma como ele me olhava, como se eu fosse um segredo precioso que ele não queria dividir com o mundo.

Deslizei meus dedos devagar pelo meu próprio corpo, sentindo onde ainda havia traços dele. Ainda podia sentir a mão dele em minhas costelas, os lábios entre meus seios, o gemido dele abafado no meu pescoço.

Suspirei.

A sensação de estar com Yoongi... foi como ser queimada por dentro e, ao mesmo tempo, ser salva.

E, mesmo assim, a realidade bateu à porta como um soco seco no estômago.

Hoje era o dia.

A entrevista.

Eu me sentei devagar, puxando o lençol para cobrir o corpo, como se isso pudesse proteger meu coração. A entrevista com o canal que investigava crimes familiares de pessoas ricas e influentes não era apenas uma forma de contar a verdade — era também um risco.

Expor meu pai e minha mãe. Suas ameaças. As manipulações. Os anos de controle, de mentiras, de abuso psicológico disfarçado de "amor".

- Vai fugir antes de eu acordar?.- Yoongi murmurou, a voz ainda rouca de sono.

Olhei para ele. O cabelo bagunçado, os olhos semiabertos, a voz arrastada. Era lindo. Lindo de um jeito real, vulnerável.

- Não conseguiria fugir de você nem se quisesse.- respondi com um sorriso cansado.

Ele se sentou, puxando o lençol para mim, como se quisesse me proteger até da brisa leve que entrava pela fresta da janela.

- Tá com medo?.- ele perguntou, direto.

Assenti. Não precisava fingir.

- Muito.

Yoongi passou a mão pelos cabelos e me puxou para seu peito nu. Me encaixei ali com facilidade, como se meu corpo tivesse sido feito para aquele espaço.

- Eu tô com você.- ele sussurrou. -Até o fim.

Ficamos em silêncio por um tempo, respirando juntos. Eu precisava daquele momento antes de tudo começar a desmoronar de novo.

____

Horas depois, sentada diante das câmeras, o estúdio silencioso e o repórter com os olhos atentos, senti meu estômago se revirar. A maquiagem cobria bem o nervosismo, mas minhas mãos tremiam levemente sob a mesa.

Yoongi estava ao meu lado, calado, firme, com o maxilar tenso e a mão apoiada sobre meu joelho, escondida das câmeras.

Perfeito. Aqui vai o texto com a inserção do ponto de vista do Yoongi, suas falas e revelações que deixam a situação ainda mais forte, intensa e emocional:

- SN, você está pronta para contar o que seus pais fizeram?.- a jornalista perguntou com cuidado.

Engoli em seco. O microfone parecia amplificar até meus batimentos cardíacos.

- Eu não sei se alguém está realmente pronto para isso... - comecei, a voz baixa. - Mas está na hora de parar de fingir que minha família era perfeita.

Fiz uma pausa. Olhei para Yoongi. Ele apertou minha mão, assentindo, me encorajando.

- Desde pequena, fui moldada como uma peça de vitrine. Minha mãe controlava cada palavra que eu dizia, cada roupa que eu vestia, cada sorriso que eu forçava para fotos. E meu pai... - fechei os olhos por um instante.-, meu pai transformou a minha vida num campo de guerra psicológico. Ele mentia, manipulava, ameaçava. Tudo isso em nome da "imagem da família".

As câmeras captaram meu tremor. A jornalista respirou fundo, mas se manteve firme.

- Você já disse em off que sofreu chantagens, isolamento emocional, e que até relacionamentos foram forçados ou proibido.

Assenti.

- Eu não podia amar ninguém que não fosse aprovado. E mesmo assim, ninguém era aprovado. Eles só queriam que eu me curvasse. Que eu fizesse parte do show de fachada que construíram.

Então, antes que eu continuasse, Yoongi apertou minha mão, olhou pra jornalista e, pela primeira vez, falou, com a voz firme, mas carregada de dor.

- Não foi só ela quem sofreu. - sua voz saiu rouca, tensa. - Quando éramos mais novos... quando a gente namorava, os pais dela depois de perceber que eu ajudava ela a se posicionar, eles.. - ele respirou fundo. -, eles não só ameaçaram acabar com a vida da SN, como vieram atrás de mim... da minha família também.

A jornalista arregalou os olhos, surpresa.

- Eles foram em minha casa, disseram que se eu não sumisse de Busan, fariam a vida da SN um inferno..e me convenceu, depois de ter sequestrado meu pai.- a mandíbula dele travou. - Eles queriam me destruir.

- Foi por isso que você disse que sentia falta de Busan?.-  a jornalista perguntou, com a voz mais baixa.

Yoongi assentiu, apertando mais minha mão.

- Sim. Nós fugimos. Sem dinheiro, sem rumo. Largamos tudo. Viemos pra Seul com o que cabia numa mala... e com a esperança de, algum dia, conseguir viver livres dessa gente.

As câmeras registraram o silêncio pesado que se instalou. A jornalista, visivelmente tocada, respirou fundo antes de dizer:

- O que vocês passaram é... devastador. E muito corajoso da parte de vocês estarem aqui, agora, falando sobre isso.

Olhei diretamente pra câmera, pro mundo lá fora, sentindo minha voz tremer, mas, ainda assim, firme:

- Meus pais não são só pessoas severas. Eles foram cruéis. Egoístas. Abusivos. E hoje, eu decido que não vou mais protegê-los com meu silêncio. Nunca mais.

Yoongi completou, olhando pra câmera também:

- E se eles acham que ainda podem controlar nossas vidas... estão muito enganados. A gente não se esconde mais. Não abaixa mais a cabeça.

A jornalista se manteve firme, embora os olhos estivessem marejados.

- Obrigada por confiarem em nós. Contar essa verdade... vai ajudar muitas pessoas.

A entrevista terminou. As luzes foram apagadas devagar. A tensão no ar era quase sufocante.

Quando saímos do estúdio, Yoongi me puxou pro lado, num canto do corredor. Me abraçou forte, como quem segura alguém que quase se quebrou.

- Você foi incrível, meu amor. - sussurrou contra meu cabelo. - A gente nunca mais vai ser refém deles. Nunca mais.

E ali, no silêncio do pós-caos, eu chorei. Chorei tudo o que nunca tinha permitido sair.

Ele segurou. Deixou. E beijou minha testa como se dissesse, sem palavras, que agora eu estava livre.

Livre pra ser quem eu era.
Livre pra amá-lo.
Livre, finalmente, pra viver.

Continua...

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