Capítulo 23

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11/02/2020

Por Bruna.

Não era a intenção chegarmos ao mesmo tempo na cantina, mas por algum motivo isso aconteceu. E todo esses olhares e atenção... Meu corpo congela.

- Somos amigos ainda né? -ele pergunta e eu concordo com a cabeça. -Então age como sempre e vamos pegar juntos o lanche e fingir que só estamos conversando.

Ele sai andando e paro no meio do caminho e me olha.

- Você vem, Bruna? -ele estende a mão.-

Meu olhar se direciona ao Miguel que está claramente com raiva por algum motivo. Talvez porque eu disse que não demoraria, mas demorei.

- Eu vou nos meus amigos primeiro. -digo.-

- Tudo bem. -ele vai até a fila do lanche.-

Tiro forças não sei de onde e caminho até a mesa com as meninas e o Miguel. Meu olhar não se desvia do dele nem por um segundo e a cada passo, é como se seu olhar esfriasse.

- Oi. -digo tentando sorrir, ainda encarando o Miguel.-

- Onde você estava? -pergunta a Tori.-

- Biblioteca. -respondo ainda encarando o Miguel.-

- Esse tempo todo? Só na biblioteca? Sozinha? -Miguel questiona.-

Respiro fundo e sinto meu estômago pesar.

- Sim. -respondo.-

Eu realmente estava na biblioteca, só não estava sozinha.

- Vocês vão discutir? -pergunta a Carol.-

- Por que eles discutiriam? -pergunta a Tori. -Não tem motivo, não é Miguel?

E finalmente ele para de me olhar e encara a Tori.

- Clima pesado hoje não, por favor. -pede a Júlia.-

Penso seriamente em me sentar junto com a Grazi e as outras meninas, mas ao ver que a Ana e a Eve cochicham entre si e me olhando de vez em quando, desisto da ideia.

- Senta Bruna. -manda a Carol.-

Me sento ao lado de Miguel, de frente para a Tori.

- Não vai almoçar? -pergunta a Júlia.-

- Estou sem fome. -respondo.-

Realmente estou, essa pequena mistura de sentimentos causou isso. Porém, normal.

- A Carol estava falando que o Daniel a chamou para sair. -a Júlia fala.-

- Sério? Que legal. -me animo um pouco.-

- Sábado, vamos para uma sorveteria. Aquela perto da sua casa. -a Carol fala escondendo a animação.-

Sinto o olhar do Miguel sobre mim e o encaro. Indescritível define bem.

- O que foi? -pergunto.-

- O que? Nada. -ele responde.-

- Eu fiz algo? -pergunto já sentindo uma pontada de culpa.-

- Você fez? -ele questiona.-

- Miguel! -as três repreendem ele.-

Sinto minha respiração descontrolar e meu peito pesar.

- Eu estava na biblioteca. -digo tentando manter minha voz firme.-

- Cadê o livro? -ele se refere ao livro que eu falei que iria pegar.-

Sinto o nervosismo me invadir e olho para a Tori, peço socorro só pelo olhar.

- Chega disso, Miguel. -a Tori se levanta irritada. -Poxa! O que você tem? Do nada fica irritado e sai descontando nos outros.

Ele se levanta também e os dois se encaram, pesando o clima na mesa.

- Fala, o que foi? -ela insiste gritando.-

Alguns pessoas olham para a nossa mesa. Ele me olha irritado e sai da cantina andando, atraindo mais olhares.

Eu não sei o que aconteceu aqui, mas por algum motivo eu sinto que causei tudo isso. Sinto uma vontade imensa de chorar e minha respiração descontrola.

- Eu vou atrás dele. -digo me levantando. -Vou falar com ele.

- Tem certeza? -pergunta a Tori.-

Não.

- Sim.

Saio andando da cantina, tentando ignorar ao máximo todos os olhares e a vontade imensa de ir para meu quarto e chorar.

Paro no corredor e pego meu celular.

_ Onde você está?

_ Miguel?

Miel: Jardim dos fundos

Guardo o celular e corro até o jardim dos fundos. O encontro sentado na grama, debaixo de uma árvore olhando para o nada. Me aproximo e sento ao seu lado.

- Sinto que sou culpada por tudo isso. -confesso baixinho, falando mais para mim mesmo do que para ele.-

Ele permanece imóvel e em silêncio. Isso me tortura muito. Ele simplesmente me puxa para o lado dele, fazendo com que seu braço fique em volta da cintura e eu encosto a cabeça no seu ombro. Minha respiração vai se normalizando aos poucos.

- O que foi? -sussurro.-

- Dia ruim. -ele sussurra de volta.-

- Sorvete? -sugiro e um sorriso se forma nos meus lábios.-

Ele solta uma risada fraca, olha para a grama e seu olhar se direciona ao meu.

- Você paga dessa vez. -ele fala rindo.-

- Tudo bem. -acabo rindo também.-

Uma de suas mãos está na minha cintura, a outra ele leva até meu rosto e se aproxima mais ainda de mim.

- O que você está fazendo? -pergunto sussurrando.-

- O que eu queria ter feito há muito tempo. -ele sussurra.-

Seu rosto se aproxima mais do meu e eu o afasto. Ele suspira.

- Desculpa. -peço, não sei nem porque.-

- É por causa dele né? -ele pergunto e eu o olho confusa.-

- Ele quem? -pergunto.-

Ele se afasta de mim e se vira para olhar o jardim. Continuo o olhando.

- O Mark. -ele responde.-

Sinto meu corpo gelar e minha respiração se descontrolar.

- Eu vejo como você olha para ele, é o mesmo olhar que você me olhava. -ele fala e sinto um pontada de decepção na sua voz.-

- Não te entendo, porque isso agora? Depois de todos esses anos... -digo e me viro também para olhar o jardim.-

- Lembra do dia que eu briguei com o Everton? -assenti. -Então, naquele dia eu...

Ele para de falar e me encara. Um sorriso se forma em seus lábios.

- Naquele dia eu me apaixonei por você. 

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