Capítulo 17

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04/02/2020

Por Miguel.

Andei notando uma proximidade muito grande entre a Bruna e o Mark, bem mais que nas últimas semanas. Ela está se afastando um pouco de mim, mesmo eu demonstrando que gosto dela, eu só não falei a verdade ainda.

Hoje é a entrega do trabalho de artes, talvez com isso a Bruna volte para mim. É óbvio que fiz uma coisa que eu acredito que significa tanto para ela quanto para mim.

- Bom dia, turminha. -a professora de artes entra na sala. -Hoje quero ver os trabalhos, vocês irão mostrar o desenho e dizer o porque o fizeram, o que ele significa.

- Posso ir primeiro, professora? -pergunta uma garota, acho que é a Letícia.-

Ela mostra o desenho e diz o que significa, outros alunos também se apresentam.

- Bruna Melo, sua vez. -a professora a chama.-

Ela se levanta, um pouco nervosa pela atenção que vai receber e mostra a folha onde ela desenhou um livro azul, em volta tem umas nuvens brancas e algumas estrelas azuis.

- O que significa? -a professora pergunta.-

- "A culpa é das estrelas", meu livro preferido, eu já li mil vezes e nunca me canso dele. Ele tem um significado muito grande, além de que a história é incrível. -ela fala um pouco baixo.-

Seus olhos encontram ao meu, nós dois sabemos bem o que aquele livro significa.

- Muito bem, Bruna. -a professora anota algo em seu caderno. -Pode sentar.

Ela volta para o lugar.

- Miguel Mendes. -ela me chama.-

Eu me levanto, caminho até a frente da sala e mostro a folha com o desenho de um pote de sorvete escrito na embalagem "napolitano".

- O que significa, Miguel? -a professora pergunta, observando o desenho.-

- Significa que eu gosto muito de sorvete e napolitano é um dos meus sabores preferidos. -digo e a professora me olha como se esperasse que eu falasse mais. -Sempre que estou num péssimo dia, eu tomo sorvete para melhorar e me sinto muito melhor.

- Tudo bem, pode sentar. -ela manda e anota algo no caderno.-

Volto para o meu lugar, atrás da Bruna. Outros alunos apresentam, inclusive o Mark e a Tori.

...

Toca o sinal para o almoço.

- Muito bem, turma. Parabéns pelos trabalhos, adorei ver diferentes desenhos. -a professora fala e sai.-

- Quer passar na biblioteca depois? -escuto o Mark perguntar a Bruna enquanto ela organizar as coisas dela.-

- Fazer? -ela pergunta para ele.-

Ele arqueia uma sobrancelha olhando para elas e os dois riem.

- Tudo bem, te encontro lá depois. -ela aceita.-

Eles se despedem e o Mark sai com os amigos. Pego minhas coisas e espero a Tori.

- O que foi isso? -pergunto a Bruna que também está esperando.-

- Isso o que? -ela me olha.-

- Você e o Mark. Esses olhares, encontrinho na biblioteca... -respondo tentando não demonstrar raiva.-

- Vamos? -a Tori atrapalha.-

- Bruna? -a chamo e ela me olha.-

- Oi, Miguel. -nos encaramos.-

Como sobramos só eu, ela, a Tori, a Júlia e a Carol na sala, um silêncio se instala no lugar, apenas nós dois nos encaramos.

E acho que pela primeira vez eu não consigo decifrar seu olhar... Se ela não gosta mais de mim, não teria porque ter feito aquele desenho não é?

- Nos deixem a sós, por favor?! -ela pede as meninas que saem da sala.-

Ela respira fundo e aponta para as carteiras que estávamos antes, nos sentamos.

- O que foi? -ela pergunta, quebrando silêncio entre nós dois.-

- Como assim? -pergunto.-

- Você me deixa confusa, Miguel. -ela admite. -Em todos esses anos, você sempre me deixou confusa. O desenho que você fez... Nós dois sabemos o que o sorvete significa.

- O livro também, Bruna. -digo.-

- Eu sou muito idiota. -ela fala de si mesma e passa as mãos nos cabelos.-

- Eu quem sou idiota. -digo e ela me olha.-

- Por que você seria, Miguel? -ela pergunta e agora reconheço esse olhar, triste com uma leve paixão. -Eu quem sou apaixonada por você, mesmo você me um fora praticamente todos os dias.

- Bruna... -pronuncio seu nome quase num sussurro.-

- Você precisa para de me deixar confusa para eu te esquecer. -ela pede e seus olhos se enchem de lágrimas. -Você não pode ficar me elogiando, ou fazendo esses desenhos, ou me encarando, me fazendo carinho e depois simplesmente me da um fora, como você sempre faz.

Uma lágrima escorre no seu rosto, eu a limpo com o polegar.

- Não faz isso. -ela se levanta de uma vez e mais lágrimas descem.-

- Bruna. -eu me levanto também. -Eu...

Eu travo, eu simplesmente não consigo falar que sou completamente apaixonado por ela, sempre fui apaixonado por ela.

- Olha, nós somos amigos, sempre seremos amigos, eu amo a nossa amizade. -ela fala limpando o rosto. -Mas eu preciso me afastar um pouco, eu preciso te esquecer. E acredito, dói em mim fazer isso, parte meu coração.

O meu também, Bruna. Te ver assim, nesse estado, parte meu coração em mil pedacinhos... Ela vira de costas para mim e respira fundo, como se tentasse se controlar. Sinto meu peito apertar e caminho em sua direção.

Não faz isso comigo.

Sua voz ecoa na minha cabeça e eu paro ainda distante dela. Ela se vira novamente, dessa vez seus olhos estão tristes, sem brilho, mas também sem lágrimas.

- Me desculpa por tudo isso. -ela pede e força um sorriso. -Eu vou para a cantina.

Ela caminha para fora da sala, mas para na porta.

- Eu só preciso de um tempo. -ela me olha um leve sorriso. -Eu sei que sua intenção nunca é me machucar, mas mesmo assim me machuca tudo isso. Vai ser dolorido, mas eu vou te esquecer e prometo não deixar as coisas estranhas entre a gente.

Bruna!

Minha voz não sai, é como se um nó tivesse se formado na minha garganta e tivesse uma pedra no meu peito que não me deixa respirar direito.

- Até daqui a pouco, Miel. -ela se despede e saí da sala.-

Permaneço imóvel, olhando para a porta e tentando controlar minha respiração. Era para ser diferente esse ano, mas eu simplesmente não consigo falar para ela, eu nunca consigo e parece que não demonstrei o suficiente... E agora eu estou a perdendo...

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