13 - SNOOPY

1.4K 60 2
                                    

Kiara

Quando cheguei em Charleston já era tarde da noite.
A entrada do colégio interno lembrava uma mansão de filme de terror. Ao observar o meu redor, notei vários grupos de freiras andando para cima e para baixo.
Merda.
Era um internato católico.
Como se não fosse ruim o suficiente, notei que não haviam meninos no prédio, com exceção de um padre que folheava uma bíblia dentro de uma capela que ficava bem no meio de um jardim a céu aberto.

A equipe do colégio me levou até meu novo quarto, onde eu passaria meus dias pelo resto do ano ou, pelo menos, era isso que eles achavam que eu iria fazer.
Assim que eu entrei, vi que dividiria o espaço com uma colega de quarto.

"Maravilha." Pensei ao esbarrar meus olhos na menina e perceber que ela usava um uniforme ridículo que eu, provavelmente, teria que usar também.
Era um conjunto cafona de blusa polo branca e uma saia quadriculada azul que combinava com as cores daquela prisão.

— Querida, esta é a Sophie. Sophie, esta é Kiara. - Disse a senhorinha que tinha me acompanhado desde casa. — Ela será sua colega de quarto. Espero que sejam boas amigas.

A garota fez um sinal de hang loose para mim e eu respondi com um sorriso amarelado.

— Relaxa aí, Beth. Vamos ser ótimas colegas de quarto! - Disse a menina colocando os braços em volta dos ombros da senhorinha e lhe dando um beijinho no rosto.

Beth lhe lançou um olhar de reprovação e se retirou do quarto.

— Ela me ama. - Disse Sophie enquanto fechava a porta do quarto. — Prazer, eu sou a Snoopy. - Ela me estendeu a mão.

— Snoopy? - Perguntei confusa.

A menina tirou um baseado de dentro da saia e, em seguida, o ascendeu e levou até a boca.

— Ah, entendi.

— Então, coleguinha, qual é a sua história? - Ela perguntou curiosa.

Já que eu não tinha o que fazer pelos próximos dias, contei tudo o que tinha acontecido nos últimos meses. Inclusive, deixei claro que não tinha intenções de ficar ali.

— Garota, você tá encrencada. - Disse ela rindo da minha situação.

— Nem me fala... Mas e você? Como veio parar aqui?

— Ah, você sabe. Meu pai não ligava muito pra mim e a minha madrasta era um pé no saco. Coloquei fogo nas coisas dela duas vezes e, na terceira, fui pega bem na hora... Digamos que eles já não tinham mais tanta paciência. - Ela disse rindo enquanto ficava chapada.

— Que merda. - Falei me sentindo mal pela garota. — Mas me conta, você já tentou sair daqui?

— Já. E, por muitas vezes, eu quase consegui. Não é tão difícil assim. Você só precisa conhecer as pessoas certas. - Ela respondeu enquanto brincava com o isqueiro.

Me lembrei do JJ. Aquilo era a cara dele.

— E o que você ainda tá fazendo aqui? - Perguntei curiosa.

— A) Não tenho pra onde ir; B) Minha namorada também tá presa aqui e C) O baseado que me vendem nesse colégio é surreal. - Ela respondeu contando nos dedos.

— Então, lésbicas e drogas... É, aqui tem mesmo cara de um internato católico.

Snoopy riu de mim.

— É uma droga que eles não deixem a gente usar o celular aqui. Preciso falar com os meus amigos. - Disse frustrada.

— Qual é, amiga? Esqueceu que você é a minha colega de quarto? - Disse Snoopy retirando um celular clandestino debaixo do colchão.

— Garota, você é fogo. - Falei cheia de alegria.

— A mamãe aqui tem seus contatos. - Disse Snoopy enquanto repuxava sua gola polo como uma gângster.

Me isolei nos fundos do quarto e liguei para o JJ.

__________

Sei que as coisas ficaram meio tensas, mas já já vão melhorar 🔥

NOSSO ÚLTIMO VERÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora