☙ Vinte e Dois

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Interrompi minha crise para confirmar e ela continuou.

– Nós olhamos a gravação. Parece que havia duas pessoas. Uma delas o distraiu enquanto o outro pegava a mala. Ele já estava na escada rolante e quase fora do terminal antes de você perceber.

Imaginei se era possível o chão se abrir e me engolir. Fiquei rezando que fosse.

— Depois de ter feito tudo que era possível no aeroporto, fui de carro para o hotel. Sem tempo para substituir meu celular antes da reunião, liguei para o serviço de informações e pedi uma ligação para meu escritório. Blaise não estava lá, mas sua assistente me assegurou que mudaria minhas senhas pessoalmente e explicaria tudo ao blaise assim que fosse possível. Depois de prometer uma dúzia de rosas e um aumento, desliguei e sentei na cama, encarando o telefone enquanto decidia se contaria para Astroia.

Aceitando que não haveria um jeito fácil de escapar, liguei para o serviço de informações novamente e pedi uma ligação para o escritório de Astroia.

Miguel atendeu e fechei os olhos. Eu até gostava do cara, mas não estava a fim de lidar com ele hoje.

– Escritório de Astroia Greengrass – ele disse.

– A srta. Greengrass, por favor.

Ele fez uma pausa longa o suficiente para se tornar constrangedora, até que disse:

– E boa tarde para o senhor também, sr. Malfoy. Um momento, por favor.

Ouvi um clique quando fui conectado e esperei que ela atendesse.

Três chamadas depois, ela atendeu.

– Aqui é Astroia Greengrass – ela disse. Senti um calor se espalhar em meu peito.

– Oi.

– Draco? Não reconheci o número.

– Então. Estou ligando do hotel. Você está bem? Parece que está um pouco estressada.

– Pois é, tenho uma pilha gigantesca de pesquisa de preços na minha mesa. Eu deveria ter chegado ao trabalho antes do almoço, mas não posso dizer que me arrependo da minha manhã preguiçosa.

Ela fez uma pausa e eu fechei os olhos novamente, lembrando de seu rosto quando gozou na última vez.

– Como foi seu voo?

– Bom. Longo – eu disse. Fiquei de pé e andei até onde o fio do telefone permitia. Olhei pela janela e vi as pessoas lá em baixo perambulando completamente perdidas em seus próprios mundos. – Estou com saudades de você.

Ouvi quando ela se levantou e fechou a porta antes de sentar de novo.

– Eu também.

– Você conseguiu dormir?

– Um pouco – ela riu. – Alguém me cansou bastante.

– Deve ter sido um sortudo.

Ela gemeu com satisfação e eu tentei imaginar o que estava fazendo, o que estava vestindo.

Decidi que usava uma saia, sem calcinha, e botas de cano longo.

Péssima ideia, Draco. Ela está do outro lado do país e agora você está duro.

– Você vai ficar fora a semana inteira? – ela perguntou.

– Sim. Volto na sexta-feira de tarde. Você vai passar a noite comigo?

– Com certeza.

Respirei fundo, lembrando a mim mesmo que não tinha motivo algum para ficar preocupado. Provavelmente o ladrão iria apenas pegar meu telefone e notebook para vender.

– Então, minha mala foi roubada no aeroporto.

– O quê? – ela quase engasgou. – Isso é terrível! Quem faz uma coisa dessas?

– Filhos da puta.

– Qual mala? A que tinha suas roupas?

– Não, minha mala de mão – respirei fundo de novo. – Meu notebook, meu celular. Já mandei mudar as senhas de tudo relacionado ao trabalho, mas, Astroia… o cartão de memória que usei à noite estava lá e eu ainda não tinha apagado tudo. No meu celular também.

– Certo – ela disse, suspirando. – Certo – ouvi o som de couro e pude imaginar ela ficando de pé e andando pela sala. – Presumo que o ladrão não foi preso.

– Não… Eram apenas dois malditos moleques, pelo que eu pude perceber.

Alguns instantes de silêncio preencheram a ligação, e lembrei do porquê eu sou péssimo com telefonemas. Eu queria vê-la, estudar sua expressão e avaliar se ela parecia preocupada ou aliviada.

– Bom, provavelmente eles apenas estavam atrás de um dinheiro fácil, não é? – ela finalmente disse. – Provavelmente vão penhorar o notebook e o celular e jogar fora o cartão.

Até onde podemos supor, eles já devem ter apagado tudo e o cartão já está dentro de alguma lixeira.

Encostei minha testa na janela e suspirei, com minha respiração formando uma nuvem de condensação no vidro.

– Meu Deus, eu te amo. Eu estava completamente neurótico sobre como você iria reagir.

– Apenas volte logo para podermos tirar mais fotos, certo?

Sorri ao telefone.

– Combinado.

— A exposição de arte no sábado e a conferência no domingo foram completamente insanas.

Encontrei vários clientes pessoalmente com quem tinha conversado por meses apenas pelo telefone, e aceitei participar de algumas reuniões em Nova York para discutir possíveis investimentos. O ritmo do fim de semana manteve minha mente afastada do fato de que eu não tinha nenhuma foto de Astroia para me distrair.

Na segunda-feira, eu acordei num dia de céu cinzento com croissants e café do serviço de quarto. Por mais estranho que fosse admitir, eu até que aproveitei esse desligamento forçado causado pelo roubo da minha mala. Consegui um novo celular naquela manhã, e passaria bem o resto da semana sem um notebook; e, com exceção das fotos perdidas, foi bom me desligar um pouco das constantes ligações de trabalho.
Então notei que, ao lado da minha cama, uma luz vermelha piscava no telefone do quarto.

Será que eu tinha perdido uma ligação?
Checando o aparelho, percebi que o som estava desligado. Peguei o fone e apertei o botão do correio de voz.

A voz séria de blaise surgiu do outro lado da linha:

– Draco. Veja o New York Post e depois me ligue assim que possível. Temos vários incêndios para apagar por aqui.

Estranho Irresistível = Drastoria = Onde histórias criam vida. Descubra agora