Prólogo

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25 de dezembro de 2005.


Quanto tempo faz que estava sentado num banco frio? A quanto tempo continuou com a cabeça abaixada? estava muito frio, mas recusou-se a vestir seu uniforme vermelho deixando-o no mesmo lugar que o havia jogado anteriormente, não o vestiria depois daquela humilhante derrota que sofreu a algumas horas atrás.

Seu rosto marcado com os hematomas da batalha que foi sua ruína persistiram, igual as lágrimas que a tempo haviam secado, mas que mesmo assim quem o olhasse de perto perceberia as linhas que elas tinham deixado para trás. O silêncio reinou por toda a igreja, foi como se nunca tivesse acontecido uma disputar, a única forma que mostrava que tinha acontecido algo lá dentro foi pelos bancos normalmente enfileirados corretamente que agora estavam bagunçados, alguns objetos quebrados e claro, sangue pelo chão.

Ao todo ele estava com raiva, raiva de si mesmo e magoado com seus irmãos, por o fazer notar que sempre foi o errado da história.

— Nossa, você está bem destruído, hein.

Aquela voz… ele poderia reconhecer em qualquer lugar, apesar de fazer muito tempo em que a ouvira, talvez fizessem dois ou três anos, mas ele não poderia esquecer aquela voz que tanto o importunava e fazia seus irmãos rirem com uma felicidade que ele desconhecia.

— O que você está fazendo aqui? — Pergunto-lhe, ainda recusando-se a olhar para o portador da voz.

— Ora… — aproximar-se, sentando-se ao seu lado, não olhando para seu rosto, mas para a imagem de Jesus Cristo crucificada que estava acima do altar. — Apenas dando uma olhada no meu priminho.

O mais velho dos Shiba não conseguiu evitar virar para o sujeito ao seu lado, sua expressão transformou-se em frustração quando notou aqueles olhos calmos esverdeados o olhando como se fosse um animal abatido. E por um minuto ele realmente deixou-se pensar que era.

— Porque você não vai encher o saco de outro? garoto.

O rapaz sorriu, debochado, enquanto o olhava dos pés à cabeça.

— Que me lembro você é quem deveria ser chamado de garoto aqui, mesmo sendo uma girafa. E afinal, pelo que me consta, é falta de respeito tratar os mais velhos desse jeito, sou o seu avô aqui, vai limpar minha frauda quando eu me cagar?

— Tsc, você é só um ano mais velho que eu.

— Mas ainda continuou sendo o mais velho aqui. — Ele continha aquele sorriso sereno que sempre dava quando estava divertindo-se com a situação. Taiju jurou que adoraria dar um soco naquela face, mas desistiu da ideia, o sujeito simplesmente desviaria do seu golpe como se Taiju tivesse tentando soca o vento, ou se mesmo tivesse acerto em cheio em seu rosto e o ter mandado voando para o outro lado dos bancos em que estavam, ele normalmente levantaria-se e voltaria ao seu lado como se nada tivesse acontecido.

Então ele se levantou, mesmo sendo alto ainda parecia menor, se fosse outra pessoa Taiju riria, mas lembrando que quem estava em pé ao seu lado era um ser que zombaria dele sem nenhum medo, decidiu permanecer calado. Ele queria bater nele, desconta sua raiva e toda frustração que sentia naquele momento, porém, sabia que o outro perceberia que estava apena descontando sua fúria, espontaneamente o sujeito deixaria a ser espancado e no final sorriria e falaria como sempre falou com ele, mesmo que tivesse sangrando.

— Esse lugar está bem frio, não acha? e sem falar que também está uma encantadora bagunça, mas da mesma forma você não está muito melhor. — Ele falou, sua voz contendo uma calmaria que até por um instante Taiju achou que quem estava caminhando em direção ao altar fosse um ancião com anos de experiência. — Mas sabe… arriscaria te levar para meu apartamento, oferecer um bom achocolatado, limpar essa ferida nas suas costas e no final assistimos um filme ou talvez uma série… que tal A Noiva-cadáver? pelo que eu soube a crítica e o público foi bem positiva com esse filme.

— Mais que porr-

— O que eu quero dizer… — Ele o cortou parando em sua caminhada e abaixando-se, Taiju estava errado quando pensou que o rapaz estava indo ao altar, porque na verdade ele estava indo em direção do seu esquecido uniforme vermelho, o pegando em mãos e voltando. Parou mais uma vez a seu lado, seus olhos o olhavam agora com carinho. — Venha comigo, fique onde sua existência será reconhecida, e onde você poderá ser você mesmo, não uma fera enjaulada, mas um garotinho que em tão pouco tempo perdeu sua mãe e não conseguiu demonstrar realmente o que sentiu com a perda dela. Se quiser, não falaremos sobre isso, mas venha comigo, mesmo que seja apenas por uma noite.

Taiju não sabia o que falar, diante do misto de emoções que sentia agora, não sabia o que dizer, estava no mínimo incrédulo com aquelas palavras ditas por uma pessoa que ele nunca imaginou que pudesse as proferir. Mas lá estava, sorrindo para ele, segurando seu uniforme a sua frente para que o pegasse e o acompanhasse até seu apartamento para passar a noite.

Quando deu por si, estava de frente ao rapaz, a única coisa que fez foi baixar um pouco a cabeça, visto que o jovem era só alguns centímetros mais baixo, não conseguiu dar qualquer resposta além de um arquear de sobrancelhas e um sorriso de desdém. Estava começando a achar que seu primo tinha um parafuso a menos na cabeça, e se o próprio dissesse que realmente tinha, ele não questionaria.

— Ou você é muito estupido ou é louco. — Disse ele virando-se, mas antes pegou seu uniforme que o outro tanto insistia em silêncio que o pegasse. — E se continuar zombando de mim, juro que vou quebrar suas costelas.

— Esse é um fato meu querido primo. — Sua voz era em um tom brincalhão, enquanto ele caminhava ao lado do Shiba mais velho até a porta da igreja. — Eu não poderia me importar menos com isso. E se realmente você fosse quebrar minhas costelas, já teria feito isso a muito tempo, digo, logo quando eu me sentei bem ao seu lado, e mesmo que tivesse feito, não iria me assustar em nada, só teria que me levar ao hospital depois. Aliás, você gosta de mousse de limão? e vestiria um casaco com a temática Harry Potter? da casa sonserina a propósito. Espero que você não durma cedo, porque antes de vir pra cá eu tomei dois energéticos e não vou para a cama tão rápido. E você não respondeu minha pergunta anteriormente, vai querer assistir A Noiva-cadáver?

— Deus, como você é tagarela… que irritante, juro que se não calar essa marda de boca eu vou-

—  Meu pau na tua goela. — disse Eric sorrindo e ignorando a cara feia que seu primo lhe dava. — Tanto faz, tanto faz, vamos logo, tá ficando mais frio. E deixei um bolo no forno, não quero que queime.

E pelo caminho inteiro até ao apartamento de seu primo, Taiju Shiba não passava de um garotinho esperando que alguém visse o fundo de sua alma.

— Esperar.... VOCÊ DEIXOU UM BOLO NO FORNO LIGADO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

O primo dos ShibaOnde histórias criam vida. Descubra agora