Trovoadas em meio ao treino

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Acordei com leves empurrões de Kira, o que deixava claro que era minha hora de ficar na vigia.

- Andrew, sua vez de ficar na vigia- disse ela e, silenciosamente, seguiu até o seu saco de dormir e entrou nele.

Demorou alguns segundos para que meu cérebro começasse a trabalhar, e isso me deixou com olhos abertos e uma cara não muito boa. Quando meu cérebro tomou total consciência, percebi como eu tinha dormido nessa noite: abraçado com Henry.

Pelo menos era o que indicava, já que Henry tinha um de seus braços definidos em volta do meu corpo.

Eu ainda sentia o calor e a "proteção" que Henry me deu com aquele mero abraço. O seu corpo tinha algo que o deixava caloroso, assim como uma lareira. Era como se eu pudesse sentir algum abrigo entre aqueles braços definidos. Não importava o quanto eu negasse, eu sabia que não era só amizade que eu sentia por Henry.

Porém eu não estava apto para admitir isso para mim mesmo.

Existem dois caminhos quando você começa a gostar de alguém: o caminho mais agradável, conhecido como "amor recíproco". E o caminho desagradável, conhecido como "rejeição". Só que tem um caminho que pode ser mais doloroso do que a rejeição, o caminho do meio. Esse caminho é aquele em que você nega e não conta para ninguém sobre seus sentimentos, você apenas convive com a dúvida. E é essa dúvida que dói.

Levantei lentamente e tirei o braço de Henry de cima de mim tentando não o acordar. Dei uma olhada para o acampamento, e vi que todos estavam dormindo. Jasper e Miley dormiam abraçados, Lotte dormia com uma aura de confiança, Maia como raposa estava deitada debaixo de um pinheiro e Kirá que parecia tão cansada caiu no sono bem rápido. Henry dormia com tranquilidade, só que mexia as mãos no saco de dormir procurando alguma coisa ou alguém. Sentindo a falta de alguém.

Olhei para o vasto céu cheio de estrelas. Apesar das copas das árvores atrapalharem um pouco a vista, ainda era possível ver as grandes bolas de fogo a milhares de anos luz daqui. No meio desse céu brilhante, brilhava ainda mais uma esfera madre pérola mais conhecida como a lua. Ela era uma meia lua que mais parecia um sorriso de um gato que morava numa floresta em algum lugar mágico.

Sentei no chão mesmo e peguei a mochila que continha a água. Tomei uns goles, olhando para o mar de estrelas que ficava acima da minha cabeça.

Olhando para aquele vasto céu, minha mente puxou uma das minhas últimas lembranças com os pais.

Eu quase não lembrava disso, já que eu era tão novo. E todas as lembranças sobre o enterro, as pessoas dizendo que se lamentavam e meu tio Hanke me contando sobre como eles haviam morrido tinham evaporado como água ao fogo na minha cabeça.

Só que essa, por algum motivo desconhecido, foi salva da evaporação em massa.

Estávamos na nossa antiga casa. Uma construção típica americana com dois andares, um jardim bem cuidado com uma figueira e duas cadeiras de balanço na entrada. As paredes eram de cor creme e as janelas tinham cortinas brancas. Telhado de madeira cinza desbotado e uma varanda cheia de brinquedos de uma criança despreocupada.

Era uma casa perfeita. Sem nenhuma bebida no chão ou bagunça exagerada. Sem brigas, sem tios bêbados ou o medo morando nas sombras. Apenas eu, mamãe e papai.

Naquele dia, eu estava junto com meus pais no telhado de casa. Mamãe tinha feito um ótimo chocolate quente já que a noite era de um tremendo inverno. Os cobertores estavam colocados para deixar o telhado mais confortável. Eu estava no meio dos meus pais e nós estávamos mais felizes do que nunca.

Em todos os jornais só falavam de uma única coisa: A grande chuva de meteoros que poderia ser vista em praticamente todo o estado da Califórnia.

Eu já estava inquieto pela demora. A cada segundo passado, mais a minha ansiedade crescia.

O Último Feitiçeiro (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora