Amélia corria rápido. De uma maneira que pude ver todas as árvores da campina virando raios de borrão.
Após alguns segundos, a grama quase seca e as flores silvestres se transformaram em árvores jovens em uma grande floresta em uma inclinação, mostrando as copas das bétulas e olmos e carvalhos. Amélia começou a descer a inclinação, que não era muito íngreme; Charlotte apertou minha cintura.
A loba diminuiu a velocidade enquanto descia. Não sabia quanto tempo passou desde que saímos da ACE. Eu ainda me perguntava se algo de mal havia acontecido a meus amigos, e principalmente Henry.
Entramos mais a fundo na floresta. Um pequeno curso de água reluzia a as explosões que ocorrem no céu noturno de Avalya, além de um silêncio profundo e sombrio que cobria cada centímetro daquela nova floresta. Não havia nada além de árvores, até as luzes que brilhavam nas florestas pareciam estar extintas. Lembrei-me de que o Rei Elfo estava em uma caverna com todos os seres de sua floresta e sua corte de esnobes.
Amélia parecia inquieta quando começou a andar pelo silêncio da floresta. As folhas pendiam sobre nossas cabeças.
- Fique calma- disse Lotte- Não há nada a temer.
A loba passou por uma longa raiz de olmo que cobria a terra com flores.
- Entendo ela- comentei- Os elfos não são convidativos em nada, nem mesmo em seus domínios.
- Nunca entendi o porquê disso. Eles bem que poderiam ser mais abertos ou talvez não serem tão... eles.
Amélia continuou a andar pela floresta.
- Você tem medo?- perguntei.
Charlotte encarou a copa das árvores, esperando alguma luz ou ideia de como responder.
- Depende- respondeu ela, os baixos- Tenho medo de perder quem eu amo, mas eu preferiria morrer a ver você ou Becca ou qualquer um sofrendo.
- Mas e de tudo isso? Você não tem medo de sofrer nas mãos de Fayar ou de outra pessoa por isso?
- Morrer seria se eu perdesse alguém importante- ela sorriu-, Mas eu nunca deixaria alguém morrer. Você tem medo?
Demorei para responder, eu estava com tanto medo.
- Dos elfos.
Charlotte riu.
- Não... De acontecer alguma coisa- sua expressão era tão doce quanto a primavera.
- Falando a verdade, tenho sim- falei, olhando para frente e para a escuridão da floresta- Tenho medo de fracassar ou perder alguém. Porque quando eu lembro que só eu que posso derrotar ele, eu penso que se eu não conseguir, eu perco tudo. Ou, melhor, eu perco vocês.
Desde o dia em que o pesadelo me atacou eu fiquei desesperado em tentar mudar aquele futuro que eu via, sentindo tudo na pele. Às vezes, quando eu vou dormir eu lembro do sangue percorrendo os corpos de quem eu amo. Talvez seja por isso que eu sempre tente, por mais que eu não consiga, ser o melhor. Até porque se eu não for o melhor, eu perco. E todos morrem.
Charlotte passou a mão pelo meu ombro e encostou a cabeça na minha nuca, ela cheirava a fumaça e a musgo fresco.
- Você não vai fracassar.- ela fugiu o olhar para as sombras das árvores- Você foi abençoado com um dom milenar. É praticamente impossível fracassar. Além do mais Henry, Kirá e os outros estão seguros e logo Bagá virá.
Assenti com a cabeça.
Eu deveria parar de pensar assim. Respirei fundo. Não surte, ou se não tudo de errado pode acontecer; eu vou conseguir e não irei perder ninguém. Relaxei mais as costas e Amélia continuou a caminhar, fazendo-me balançar como as árvores balançam ao vento. Lotte retirou os braços do meu ombro e deu um beijo na minha bochecha.
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O Último Feitiçeiro (COMPLETO)
FantasíaAndrew sempre achou que sua adolescência seria resumida em chorar e escolher qual carreira seguir. Só que esses conceitos são mudados após um ser bestial o atacar em uma festa em que ele não era muito bem vindo. Quando Andrew já ia achando que aque...