Queda brutal

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Os degraus eram escorregadios em algumas partes da escadaria que subia a montanha que cortava o céu nublado como fumaça densa de um vulcão.

A escadaria fazia curvas bruscas entre ravinas e paredões de pedra esculpidas pelo tempo e pelo silêncio. Além de que a neblina encobria tudo que estava abaixo de mim, como se não fosse um dia tão quente de verão. E o vento rugia pelo caminho e pelos meus cabelos, deixando meu braço arrepiado de frio. Entretanto, essa não era a pior parte, a escadaria era infinita, assim como a montanha. Não sabia a quanto tempo estava subindo elas e fazendo curvas e curvas, passando por paredões de pedra e olhando para os corvos que voavam acima da neblina. Como eu, os corvos eram os únicos que sobreviveram ao imperdoável e mortal mundo mágico dos feiticeiros.

Ainda sentia a dor subindo pelo joelho, meus pés doíam no meio. Cruzei os braços, para capturar um pouco mais de calor, e continuei a subir mais degraus. A escadaria continuou a subir pela montanha sem fazer nenhuma curva, por enquanto.

Enquanto a pedra ia transformando-se em degrau à minha frente, uma pequena pedrinha desprendeu-se do paredão ao meu lado. A pedrinha era pequena, o que facilitou a minha desatenção. Pisei nela com toda a desatenção e como os degraus estavam escorregadios, a gravidade me puxou a um abraço para a borda da escadaria que dava para uma queda tão brutal quanto essa montanha. Quando eu sentia meus pés escorregarem naquela pedrinha e eu sentir a força da gravidade sobre mim, não tive tempo para me segurar em nada. Eu já achava que eu caíra naquele precipício onde mais montanhas pontudas cresciam aos seus pés, mas quando minhas costas bateram nos degraus minha expressão foi de surpresa.

Com sobrancelhas franzidas, me levantei com as costas doendo pela batida. Não fazia ideia de como isso tinha acontecido, eu tinha visto a beirada da escadaria, a beirada da morte. Mas como diabos eu tinha parado aqui?

Não pensei em mais nada. A magia é estranha. Avalya é estranha. E tudo que pensamos ser é o que não é aqui no mundo da magia.

Talvez a montanha não queria perder o último da linhagem dos feiticeiros com uma morte tão boba.

Continuei a subir os degraus, agora mais atento. Os paredões continuavam a se erguer, até que quando minhas pernas não aguentavam subir mais nenhum degrau, um grande arco de pedra erguia-se entre dois paredões de pedra; indicando o fim da escadaria com uma parte lisa de pedra igual a uma espécie de sacada coberta de neblina. Se eu tentasse saber o que tinha por trás daquela neblina e da sacada, talvez eu não voltasse para contar.

O arco de pedra não era muito alto, apenas uns 4 metros de altura com uns 6 metros de largura que impedia o encontro dos dois paredões onde a pedra estava desgastada. Havia também uma coluna de mármore branco com pedaços caídos em volta da sacada; nessa coluna, tinha um letreiro em madeira de freixo com runas escritas em um prateado que não era igual ao sangue mágico. As runas eram estranhas, não eram iguais às do Nemeton da ACE. Pareciam uma língua mais recente e ao mesmo tempo antiga.

Avancei até chegar na área sem degraus e perto das ruínas da coluna. Olhei para o letreiro, mesmo sabendo que não iria entender nada. Mas ainda assim, as letras começaram a se mexer para uma outra língua mais conhecida, Feérico Antigo. Uma língua fácil, bem parecida com os dialetos fadas e a língua atual feérica que aprendemos nas aulas de literatura mágica. As runas se transformaram em atuais e mais brilhosas, brilhando em meio a escuridão impossível do alto verão.

" Bem- vindo a desolação,

Bem-vindo a perdição

Bem-vindo a magia pura

Bem-vindo a aqueles que lutam contra a horda escura"

Li tudo em voz baixa. A voz soando fraca e rouca. Como um rosnado de um gato velho.

O Último Feitiçeiro (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora