4 | Conexão Instantânea

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Aurora

Viver em um mundo o de seu próprio pai é homofóbico e sua mãe é uma pobre coitada que não sabe lidar bem com os próprios pensamentos é horrível, mas eu vivo com essa realidade desde que nasci... e a realidade é ainda mais dura quando se tem que lidar com uma família e um relacionamento de fachada é ainda mais angustiante. Quando meus pais descobriram sobre a minha sexualidade foi uma briga intensa em casa, e eu creio que nunca recebi tantos olhares de desprezo ao mesmo tempo. Toda a minha família estava em casa, meus avós, tios, primos... e foi naquele dia que eu virei a ovelha negra da família por simplesmente gostar de mulheres. Meu pai entrou em parafuso, vi nos olhos dele o quanto ele estava com nojo, isto porque ele descobriu através da minha prima, ela mostrou um vídeo onde eu estava beijando uma menina em uma festa e ele quase quebrou meu maxilar quando me acertou um tapa para demonstrar sua raiva em frente a toda a porcaria da minha família. Eu não me dou bem com eles, nunca consegui um único sorriso dos meus tios.. os únicos que me suportam são meus avós, e eles raramente conseguem falar comigo já que meu pai intervém sempre que me aproximo. Minha mente viaja quilômetros quando me lembro da primeira vez que olhei uma menina com outros olhos e percebi que estava me apaixonando por ela, e na época era a minha melhor amiga... Julie. Eu tinha onze anos na época e foi devastador perceber que eu nunca seria aceita pela minha família, isto porque já naquela época eu era "prometida" a um garoto da mesma classe social que a da minha família, e eles não deixaram barato... hoje em dia eu namoro com o cidadão, Christopher Charles Buford é o cara mais insuportável do universo, as vezes consegue superar meu pai no assunto abusivo. Eu nunca tive a chance de negar o meu relacionamento com ele, isto porque a mídia está constantemente em cima da minha família, e como diria meu pai, o sobrenome Sawyer é algo que devemos enaltecer todos os dias.

Estar no colégio é o que me mantém viva, porque se eu tivesse que passar o dia inteiro vivendo para agradar Christopher eu juro que enlouqueceria. Meus pais nos forçam a morar juntos, então moramos sob o mesmo teto, só que na casa de meus pais. A maioria das vezes ele some durante a noite e eu acabo fazendo o mesmo, não sou idiota, não nasci ontem e sei muito bem o que ele faz durante a noite. Mesmo que eu não me importe com aquele imbecil, eu quero mais é que ele gaste a energia com outras mulheres e me deixe em paz quando chegar em casa, mas não é sempre assim que funciona. Christopher chega tão bêbado em casa que não se importa em ao menos perguntar se eu estou bem antes de tirar as roupas e vir pra cama comigo. Eu me odeio por aceitar isso. Eu me odeio a cada vez que ele toca meu corpo com aquelas mãos imundas. Eu me odeio a cada vez que ele me beija ou fica me prendendo contra ele quando estamos em público como se eu fosse sua propriedade pessoal. Eu me odeio por tantos motivos... é bem raro eu me sentir viva, e esses momentos ocorrem geralmente quando estou bêbada ou sob efeitos alucinógenos, é quando eu mais me sinto bem.

Ignoro a chuva forte e ultrapasso as milhares de pessoas paradas na porta da escola para esperar a chuva passar. Meu carro está estacionado logo na frente do colégio, então não levo muito tempo até entrar e acomodar-me no banco de couro bege. Eu disse a Alice que a levaria até o psicólogo hoje, eu não a deixaria ir andando sozinha até o consultório que fica a alguns quilômetros daqui, ela não aguentaria. Fico encostada no banco olhando para a porta da escola até ver duas cabecinhas loiras vindo na direção do carro, e é quando elas pulam pra dentro que eu me permito rir. Alice e Alexis se parecem muito fisicamente falando, mas no estilo e personalidade são completamente diferentes. Olho para o lado, Alice está colocando o cinto de segurança e se ajeitando no banco. Alexis está encostada no vidro do banco de trás, seus olhos estão quase fechando de cansaço.

- Podemos ir, senhoritas?

- Por favor - Alice confirma. Dou partida e me atento ao GPS no painel do carro, ignorando a cantaria de Alice bem ao meu lado. Ela sempre foi assim, desde que eu a conheço ela adora cantar e expor para o mundo seus inúmeros talentos... e fico imaginando como Alexis pode se sentir em relação a isto, principalmente agora que sei que ela tem um transtorno e passa diariamente em terapeutas para conseguir conviver em sociedade normalmente. Não é grave o transtorno, mas se não tratado pode piorar com o decorrer dos anos e a pessoa acaba ficando perturbada com a própria condição. Eu não consegui me conter depois que ela me contou, fiquei super curiosa e queria saber se poderia ajudá-la de alguma forma.

Eu Ainda Me LembroOnde histórias criam vida. Descubra agora