6 | Princesa Dos Livrinhos.

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Alexis

     Não sei como consegui levantar da cama hoje pela manhã, meu corpo estava ensopado de suor e minhas juntas doíam - e ainda doem - quando as mexo. Confesso que foi uma luta louca até conseguir sair dos lençóis, eu sentia traços da noite passada, pequenas lembranças da minha mãe conversando com Aurora enquanto eu tentava esconder meu choro, isto até eu simplesmente adormecer em seu pescoço. Tenho quase certeza que ela me empurrou depois disso, até porque quando acordei ela já não estava mais na cama, ela estava no carro esperando por nós para irmos para o colégio. Me senti pressionada, mas tomei um banho rápido e fui correndo para o carro, o banco de trás, mais necessariamente. Mesmo dormindo na mesma cama que eu, Aurora continua sendo amiga da Alice, não minha.

Estou andando pelo corredor depois de um dia bizarro, cansativo e dolorido. Minhas juntas ainda doem e eu só consigo pensar na minha sessão com a terapeuta ontem à tarde. Fiquei tão sentida quando ela me ofereceu um lenço que chorei ainda mais do que chorei quando estava no quarto com Aurora. Ela não falou comigo hoje, exatamente como eu imaginei que aconteceria. Eu escutei quando ela disse a minha mãe que adoraria ser minha amiga, mas agora vejo que foi por pura fachada. Eu não ligo que as pessoas me enganem, isto acontece constantemente comigo, afinal... mas eu odeio quando as pessoas mentem para meus pais, me sinto muito muito mal, é como um tiro no peito e eu não quero que ela faça isso outra vez. Minha mãe certamente pensa que tenho a amizade dela sempre, mas não é bem assim que funciona.

Já perdi a conta de quantas vezes olhei para o relógio, refletindo sobre o ponteiro demorar tanto tempo para progredir um único minuto.

Hoje de manhã minha mãe me fez tomar mais dois remédios para dores musculares, como se já não bastasse os cinco comprimidos que tomo todos os dias para controle emocional, eu ainda tenho que lidar com mais duas pílulas a parte. Sinceramente? Pensar sobre a vida é o que mais me deixa magoada, porque quando eu paro para analisar as pessoas e percebo que tudo ao meu redor é uma grande loucura, percebo que a grande culpada de tudo isto sou eu por não ter coragem de me sentar perto das pessoas por simplesmente pensar que vou incomoda-las de alguma maneira. As vezes acho que minha vida foi programada para ser um desastre ou algo do tipo, porque ao mesmo tempo que analiso a minha própria vida, analiso também a das pessoas que estão ao meu redor e percebo que tudo o que não é meu progride cem por cento. Eu não tenho capacidade de manter uma única amizade, que dirá uma vida perfeita como a da maioria dos alunos deste colégio imbecil.

Sento-me no chão ao lado de um banco no corredor, observando os alunos passando constantemente com sorrisos estampados nos lábios e diversos amigos ao redor. Sério? Ninguém neste lugar parece ter dificuldade de se relacionar com as pessoas, somente eu. E falando em pessoas, graças a Deus eu nunca mais vi aquele menino do dia da festa, Josh... eu acho. Ele não apareceu na minha frente nem uma única vez depois daquela noite, e espero que continue desse jeito, porque não seria nem um pouco agradável ver aquele babaca andando por aí com um sorrisinho estampado no rosto. Eu o odeio com toda minha força, e olha que posso ser bem forte quando necessário.

- Bom dia - uma voz masculina me trás de volta ao mundo. Ergo o queixo e me deparo com um garoto imenso parado na minha frente com um sorrisinho simpático, mas não sei se acredito ou não, então imediatamente começo a procurar ao redor para ver se tem alguém filmando a cena. Vai saber, né? Não tenho culpa se não é do meu costume que as pessoas falem comigo como se eu fosse uma pessoa normal... não que eu não seja, mas as pessoas costumam pensar que não, então é raro que alguém me trate feito ser humano.

Eu Ainda Me LembroOnde histórias criam vida. Descubra agora