15 | Duvida?

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Aurora

Jantar

Eu já falei que odeio jantares com pessoas desconhecidas? Eu não consigo pensar em nada do que esteja acontecendo agora, porque toda vez que coloco comida na boca e sinto meu lábio dolorido eu me lembro de onde surtiu efeito da dor e... Alexis. O nome dela está estampado na minha mente desde que eu a deixei em casa durante a tarde. Ela não para de me mandar mensagens, mas para a minha glória não falou nada a respeito do que aconteceu no carro. Eu salvei o nome da Alexis como Alice, e o de Alice como Alexis. Eu não converso com a Alice por mensagem, então está sendo fácil nutrir essa mentira para o meu pai que, sempre que pergunta com quem eu estou falando, mostro o nome da pessoa e ele se "acalma" ao ver que é "Alice". Eu espero de coração que Alexis nunca pegue meu celular, porque se um dia ela ver essa troca de nomes com toda certeza ficará chateada pelo que eu bem conheço.

Christopher está entediado assim como eu. Já perdi a conta de quantas ervilhas ele enfileirou no prato, uma por uma, acho que está montando um desenho ou algo do tipo. O cutuco com a perna e, quando seus olhos azulados encontram os meus, dou a ele um sorriso intencional e aponto discretamente para a porta de saída. Nós temos poder de sairmos daqui sem ter dar explicações para ninguém, viemos com o carro do Christopher e ele pode muito bem estar passando mal... não? Seguro o riso quando ele faz um barulho estranho com a garganta e bate suavemente o garfo na taça de vinho. Eu estava tomando água, odeio vinho e o gosto amargo que isto deixa na minha língua toda vez que me arrisco a tomar. Posso tomar um copo inteiro de vodka mas me nego a ingerir vinho diariamente como esses caras. Quando todos dão atenção a Christopher, ele se levanta e eu me levanto junto com ele, seguindo as regras de etiqueta que meu pai me obriga a seguir desde que tenho cinco anos. Que tédio.

- Quero agradecer a todos os que compareceram ao jantar e desejar uma noite fenomenal a cada um de vocês! Eu e minha namorada estamos partindo, já passou da nossa hora - ele sorri ao finalizar, e fico tentada a rir ao direcionarem a nós uma salva de palmas enquanto saímos do restaurante. Eu não hesito em gargalhar quero chegamos do lado de fora e entramos no carro já devidamente estacionado em frente ao restaurante - que porre! Eu estava quase dormindo em cima do prato com aquela conversinha de "negócios".

- Eu nem olhei para a cara do meu pai, sabia que ele estaria irritado com a nossa partida... mas ele que se ferre, eu estou exausta desse pessoal também - ajusto o cinco no corpo enquanto Christopher acelera nas ruas vazias. Já passa das onze da noite, estamos no jantar desde as oito em ponto - seus pais não ficam putos quando você sai assim?

- Eles não se importam muito com o que faço ou deixo de fazer, na verdade. Se quer sinceridade, meus pais nem sequer lembram da minha existência agora que estou morando na sua casa. Antes era monótono, eu chegava do colégio e me escondia no meu quarto pelo resto do dia - um sorriso branco como a lua aparece no rosto de Christopher - meu quarto tinha um frigobar e a governanta me trazia almoço e janta, eu tinha tudo o que precisava lá dentro.

- Eles não iam te ver quando chegavam do trabalho?

- De forma alguma. Acha mesmo que eles se dariam o trabalho de subir três lances de escada só para ir me ver no quarto?

- Seu quarto ficava no terceiro andar? - sorrio, tentada a fazer um igual. Temos um terceiro andar em casa, mas lá em cima fica a biblioteca e a sauna que absolutamente ninguém utiliza.

- Sim... só eu ficava lá em cima, minhas irmãs sempre ficaram no andar de baixo. Mas eu amava essa liberdade - ele acelera um pouco mais quando diz. Seguro-me no banco de couro e fico olhando atentamente para a rua, me certificando de que nenhum málico apareça na nossa frente - amava poder jogar videogame até tarde sem ninguém vir me atazanar. Amava não fazer lição de casa e ninguém reclamar.

Eu Ainda Me LembroOnde histórias criam vida. Descubra agora