17 | Você Vai Ficar, Né?

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Aurora

Agosto de 2015

É sempre um tédio festas de família. Eu não sei se posso dizer que minha família é minha família, até porque eu mal os vejo e quando vejo não rola aquela conexão instantânea de sentimentos. Eu apenas os vejo como pessoas normais e sem necessidade alguma de existência. Eu estou na casa das pessoas que se dizem ser meus tios, sentada em uma poltrona lateral enquanto analiso cada pessoa aqui presente hoje. Meus primos, Lana e Bryan são as pessoas mais irritantes que eu conheço, estão sentados do outro lado da sala olhando para mim desde a hora que pisei meus pés para dentro desta casa. Eu não queria vir, insisti muito para meu pai me deixar em casa e dormir... mas depois que ele descobriu sobre minha orientação sexual tem sido rigoroso com tudo e não me deixa sozinha por absolutamente nada no mundo, ele provavelmente acha que vou sair de casa e agarrar a primeira garota que ver na minha frente. Por que as pessoas são assim? Eu queria muito entender a mente das pessoas mais velhas, mas não consigo. Meu pai quase me quebrou em duas quando descobriu, e também só descobriu porque minha queridíssima prima Lana mostrou a ele um vídeo.

- Querida... fiquei sabendo sobre seu prometido, ele é muito bonito viu?

Quase reviro os olhos quando escuto minha tia dizer sobre meu "prometido". Meus pais prepararam um cara pra mim e vou ser obrigada a namorar com ele quando completar dezesseis anos, estou tendo um preparo psicológico muito grande por isto, estou passando com psicólogos todos os dias para tentar me adaptar a ideia, embora eu tenha certeza que nunca vou me dar bem com o garoto que tem um ano a mais do que eu.

- É né.

Fico em silêncio e a assistir sair de perto de mim. Agarro-me ao sentimento vazio e me encolho no sofá, sabendo que nenhuma destas pessoas aqui dentro me aceitariam se soubessem o que realmente aconteceu para meus pais me arrumarem um "namorado". Eu os odeio tanto por isso, nunca passei por tanta humilhação na minha vida e tem sido horrível acordar todas as manhãs e ter que lidar com esta merda que eles fazem comigo. Eu não me importaria em nascer uma família sem condições nenhuma de sobrevivência, contando que me aceitassem do jeito que sou e me apoiassem ao invés de me colocarem ainda mais pra baixo. Eu estou cansada de ser humilhada pela minha própria família e ter que ficar de boca fechada já que meu pai é um nojento e só sabe resolver as coisas a base de violência e gritaria. Eu poderia denunciá-lo, claro que sim, mas não teria onde viver e eu não quero ir para um abrigo de menores... por isso vou esperar meus dezoito anos para enfim poder comprar passagens e desaparecer da vida deles de uma vez por todas.

Dias Atuais

Alice está dormindo agarrada ao pote de pipoca. Ainda faltam quinze minutos para o filme acabar e eu já me sinto exausta, só estou realmente acordada por causa da Alexis que está com os olhos estatelados na tela. Eu não quero dormir de novo e acabar brigando com ela outra vez, só quero relaxar um pouco no sofá enquanto não volto pra casa e tenho que enfrentar minha realidade. Christopher me mandou uma mensagem a mais ou menos quinze minutos avisando que sairia com os amigos dele e que chegaria tarde, portanto posso ficar aqui até a hora que eu bem entender já que ele não estará em casa e meu pai não me encherá o saco por eu deixá-lo sozinho. Alexis está um pouco distante, e por mais que eu saiba que só está assim porque Alice está aqui, isto ainda me incomoda já que não sou capaz de saber se ela está bem ou não. Ela não falou nada, não fez nada... só está atenta ao filme como se sua vida dependesse disso.

- Alexis? - sussurro, insegura. Eu sou assim diariamente, minha cabeça sempre trabalha para situações erradas e eu sempre penso que as pessoas estão bravas comigo mesmo se não estiverem. Fazer o que se nasci desconfiada? Quase solto um suspiro quando ela se inclina e me encara debaixo de suas pestanas loiras. Seus olhos esquadrinham todo meu rosto con atenção - tudo bem?

Eu Ainda Me LembroOnde histórias criam vida. Descubra agora