14 | Comprometida.

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Aurora

Noite Passada

Meu pai está sentado em uma baqueta da cozinha, observando-me enquanto preparo uma omelete para Christopher que quase me pediu de pés juntos. Temos ajudantes na cozinha, mas segundo ele a minha comida é melhor que o de todos eles. Eu não me importo em fazer essas coisas de vez em quando, afinal de contas ele sempre trás doce pra mim quando peço. Meus pais não me deixam comer doce quando estão perto e Christopher sempre me ajuda nessa parte, ele trás escondido dentro das coisas dele e eu me entupo de chocolates. Eu gosto dele as vezes, ele é um cara estranho, mas gentil da maneira dele. Pego a espátula e viro o omelete na frigideira, deixando-a dourar do outro lado. Meu pai solta um grunhido irritado.

- O que? - pergunto, pensando mil vezes antes de afronta-lo. Eu quero mesmo dizer que ele é um idiota, mas me seguro - o Christopher me pediu para fazer e estou fazendo.

- Sim, eu pedi mesmo. E muito obrigado - Christopher entra na cozinha sem camisa, deslizando a mão pela barriga lisa como se estivesse faminto. Dou a ele um sorriso fraco e volto a olhar para meu pai que agora tem um sorriso imenso nos lábios, orgulhoso. Que raiva. Tenho vontade de virar o omelete na cabeça dela, mas seria muito chulo da minha parte, certo? - estou cansado hoje, se pudesse não iria a jantar nenhum.

- Os empresários querem lhes conhecer, vocês são o casal jovem do ano, não podem faltar a eventos importantes.

- Eu sei disso, por isto estou dizendo que se pudesse eu faltaria, mas não é o caso.

Quase sorrio com a patada de Christopher em meu pai. Acho graça que com Christopher falando meu pai fica quieto, já se fosse eu ele estaria me xingando até não aguentar mais. Eu gosto da personalidade dele.

- Aqui está- jogo o omelete no prato e entrego para Christopher que me agradece com um beijo na testa e se afasta para ir sentar na sala de jantar. Enquanto isto meu pai grunge outra vez e continua me olhando feio - o que foi?

- Eu sei onde você vai todas as tardes, Aurora.

Sinto um aperto no peito. Como assim "sabe" para onde eu vou todas as tardes? Sinto vontade de correr, mas permaneço quieta esperando por um veredito, provocando, esperando que ele diga. Eu quero escutar da boca dele.

- Sabe? - pirraço suavemente, mantendo meu tom de ironia escondido. Acho difícil que ele saiba, e mesmo se souber, não tem como provar absolutamente nada.

- Ah, sim. Alice Collins é sua amiga, mas me agrado da amizade de vocês, minha filha! Ela namora com Nikki Hawking e é filha de pais trabalhadores recém chegados no Canadá - ele murmura, a voz me fazendo sentir arrepios no fundo da alma. Ele realmente sabe, mas pelo jeito não sabe sobre o principal - é bom que faça amizade com pessoas de classes distantes da nossa, a mídia adora caridades.

Fico quieta. Não quero arrumar uma briga agora, só quero ir dormir e ficar sozinha.

- Ela é legal - é a única coisa que digo, então reuno minha boa vontade e volto para o meu quarto em silêncio. Espero que ele não atazane Alice ou encontre Alexis um dia, eu não quero isto.

Dia seguinte

- Por que não pode sair hoje?

Eu Ainda Me LembroOnde histórias criam vida. Descubra agora