Seu corpo estava ali, imóvel, já sem vida a muito tempo, o sangue escorria para a terra, regando-a com a essência do que algum dia foi o meu amigo, eu deveria chorar, deveria praguejar aos 4 ventos e amaldiçoar o culpado o condenando ao Inferno, mas apenas fiquei ali olhando o corpo ser tirado pelos agentes do necrotério enquanto estava sentada na traseira da ambulância com o Delegado Harris Miller me fazendo perguntas sobre o ocorrido, de como eu havia encontrado o corpo, se tinha visto ou ouvido mais alguém ali, mas eu não o ouvia, era como se todo o som do mundo tivesse sumido, e via tudo em câmera lenta, mas por que? Por que não conseguia falar? Choque? A sim, eu estou em choque, como os personagens de livros de terror quando encontram o cadáver de alguém, os coadjuvantes, é claro, os protagonistas conseguem esboçar alguma reação, nem que seja chorar.
- Aurora? - o delegado chamou meu nome um pouco mais alto, me tirando momentaneamente do transe - Eu sei que é difícil Aurora, mas preciso que se concentre, você se lembra de ter visto alguém quando encontrou o corpo?
- O..lhos.. - balbuciei com uma voz rouca, parecia um esforço enorme falar nesse momento - Eu vi... Eu vi... olhos, no escuro, na floresta - minha respiração ficou um pouco mais acelerada.
- Olhos? De quem? Onde querida?
Olhos brilhantes, como os de um morcego, ou um gato, ou um lobo, que são adaptados pra enxergar no escuro, e o dono deles, não, não podia ser...
- Aurora, olhos de quem? Quem estava na floresta? - Delegado Miller perguntou novamente.
- Jason... Jason Oakwood.
Alguns dias antes
O dia amanheceu nublado, completamente cinza, o cheiro de chuva estava no ar, como se ela quisesse cair, mas estava tímida demais pra isso, Aurora estava sentada em uma cadeira próxima a janela do apartamento encarando aquele tempo um tanto sombrio, apartamento esse que durante um tempo foi seu, mas que agora estava cheio de caixotes e móveis já prontos para a mudança que faria naquele dia mesmo, passou pela sua cabeça a ideia de fazer um chá e ler um livro enquanto esperava o caminhão de mudança e seus amigos, que deixaram claro que viriam ajudar, mas rapidamente se lembrou que tudo já estava empacotado, então apenas sorriu e pegou o telefone para se ocupar, não demorou muito para receber a chamada dos seus amigos.
- Heeey biiitch - era a voz de Victor, um dos seus melhores amigos de infância.
- Heeeey Vic - a jovem respondeu com um sorriso largo - vocês estão perto?
- Nós estamos.... Jades qual o nome dessa rua mesmo? - a voz dele se afastou, claramente falando com sua irmã, Jades, que deveria estar no volante.
- Eu sei lá! - foi a resposta dela - Anna minha queria, você deveria ser a navegadora né?? Onde raios a gente está?...
- Eu disse pra você virar naquela direita lá atrás que estaríamos a uma rua da casa dela, mas nãããao... - a voz fina e delicada de Anna, outra melhor amiga foi ouvida ao longe pela distância do telefone, ela deveria estar no banco do carona com o celular navegando Jades.
- Calma ai querida, pois estamos tendo um debate político aqui.
- Eu percebi - Aurora foi rindo abrir a janela que dava pra sua rua - buzinem pra eu escutar onde vocês estão assim posso tentar ajudar.
- Jades buzina ai!
- Pra que viado?!
- Pra que Rora saber onde a gente está, porque se depender de vocês maníacas a gente vai se perder eternamente nessas ruas e nunca mais sair delas - o som das buzinas logo surgiu no final da rua de Aurora, mas algumas ruas mais ao Norte, buzinas frenéticas que com certeza não agradariam muitos vizinhos - está escutando a gente?
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Bala de Prata
FantasyAurora Pendragon é uma jovem que voltou definitivamente pra sua cidade natal, Silver Spear, no norte da Inglaterra, uma cidade pacata e normal, mas que ela nem desconfia que é cheio de mistérios sombrios e selvagens, um deles é sua paixão da adolesc...