Ponto Sem Nó

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Uma tarde agradável merecia uma noite de sono agradável, certo? Para Aurora, esse era o esperado, mas não foi essa a realidade, a menor ameaça de um pesadelo e a ruiva abria os olhos e olhava para o teto, e de tanto rolar na cama ela se encheu e foi fazer um chá com leite. O fogão velho cumpria bem o seu papel, mesmo ele sendo de segunda mão, tinha seu charme e eficiência.

Um gole do chá e o ar noturno trazia uma tranquilidade gostosa, sua casa estava intocada desde o incidente com o seu amigo e com a xícara na mão ela andou até onde planejava ser seu escritório, um quarto médio com uma janela para a lateral do quintal, a cor branca encardida das paredes refletia a luz da lua, a lua cheia iluminava os céus imponente, enorme e brilhante, dando um clima fantasmagórico ao ambiente, só faltava uma boa estante, ou mais de uma para arrumar todos os seus livros, alguns ainda estavam lacrados, pois sua singela estante que trouxe de Londres não dava conta do recado, talvez naquele dia, após o trabalho ela fosse no centro da cidade comprar sua estante e uma mesa. Passando pelo pequeno corredor ela viu o outro quarto que matutava o que poderia fazer com ele, um quarto de hóspedes? Uma segunda biblioteca? Talvez ao longo do tempo ela poderia descobrir.

Ao terminar o chá, Aurora deu uma olhada na sua bolsa, uma lanterna, um bloco de notas e alguns sacos pequenos caso encontre algo relevante, já que planejava ir escondida pros fundos do Bala de Prata precisava estar preparada, e como estavam durante a semana ela sabia que o bar não abria, então era bem provável que ela não seria pega, e com a ajuda de Jades, talvez algumas pistas pudessem ser encontradas, era arriscado? Sim, e se os Oakwood fossem lobisomens mesmo então poderiam sentir seu cheiro quando fossem lá, mas pra ter um ponto de partida, naquela situação, tudo valia o risco.

O expediente não era sufocante, principalmente porque  a Sra. Grave fazia questão dela não fazer nada, jogava quase todas as responsabilidade de organização, monitoramento, em cima da Olga Miller, tudo com a desculpa de ''não exigir muito dela nesse momento de desamparo''. Aurora particularmente não ligou muito, passando a maior parte do expediente na sala de registros antigos, e um tanto proibidos, livros guardados pela mãe da ruiva e protegidos pela prefeitura, livros ditos como pecaminosos. Haviam registros sobre a Grande Fome, uma época onde ocorreu um inverno brutal que assolou a cidade com uma seca e fome horrendas, nesse período a Família Oakwood foi a maior auxiliadora da cidade, trazendo caças periodicamente, na época eles não eram moradores oficiais da cidade, morando assim nas redondezas, o grande alce que atualmente decora o bar da família, foi caçado naquela época (foi quase a manada inteira segundo alguns). Havia também uma pequena história de alguns peregrinos, que foram pra lá fugidos da Igreja Católica, mas foram mortos, só que nada se sabia de assassinatos envolvendo roubo de cordas vocais ou criaturas estranhas.

Ela estava vasculhando algumas coisas sobre a presença dos inquisidores na cidade quando foi chamada pela  Sra.Miller, ela era a irmã mais velha no Delegado Miller, uma mulher já de idade e com 2 filhas chatas e nojentas como ela, não havia dúvidas de onde elas haviam herdado a cara de nojo e o nariz fino.

- Aurora, o que está fazendo aqui? Não sabe que essa é uma área proibida? - era perceptível o nojo que ela sentia pelo lugar, mesmo ali só havendo livros e arquivos, parecia que a Sra. Miller tinha incômodo até de respirar o ar que estava ali dentro - A Sra. Grave está te procurando - ela disse saindo fechando a porta rapidamente.

Nada foi comentado sobre sua ida a ''sala proibida'', e como era filha da Cristina, talvez as senhoras concluíram que mexer com coisas pecaminosas estava no sangue, Aurora apenas fez o restante do seu trabalho, pensando no que viria a seguir. Jades estava trabalhando até tarde naquele dia, então se atrasou, disse que o Delegado Miller informou que tudo indicava um animal, pelos ferimentos e a falta de alguns órgãos internos, a gosma preta ainda estava na perícia e demoraria pro laboratório mandar os resultados. Jason Oakwood havia ido mesmo na delegacia dar seu depoimento, Jades não sabia muito, mas ambas já imaginavam que ele alegaria que não estava lá e o seu pai e o povo do bar confirmariam isso, a preocupação agora é ficar fora da mira deles.

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