Dias Nublados, Dias Cinzentos

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Quem escreveu '' Palavras voam como vento'', com certeza estava falando sobre boatos e fofocas, pensou Aurora com amargura. A morte de Victor Gardner se espalhou como um furacão, alguns falavam que foi um animal, outros que se tratava de um serial killer, mas o que mais estava ganhando força era que foi um castigo divino, uma punição por ele ter sido do jeito que era, pelo fato dele ser um desvirtuado com comportamentos duvidosos, resumindo: gay. Mas a pior parte? A pior parte eram os pais dele aceitando essa teoria.

Na noite da morte de Victor Gardner foi um caos, Jades chorou e gritou com os legistas para que não levassem o corpo do irmão, perguntou inúmeras vezes a Aurora o que havia acontecido, mas o choque da cena na floresta ainda estava fresca em sua mente, a criatura podre, o corpo do amigo no chão e o lobo, o lobo com os olhos azuis, e tudo que ela conseguia era chorar e falar ''Eu não sei'' ou ''Eu sinto muito''. Ambas foram levadas a delegacia e seus pais chegaram tempos depois, o Senhor Pendragon tentava averiguar com o delegado o que raios tinha acontecido enquanto a Dona Cristina tentava consolar as meninas, mas Jades estava inconsolável, e não era pra menos, em questão poucas de horas o que prometia ser uma noite de diversão e comemoração se tornou o pior dia de sua vida, o dia que perdeu o irmão, seu melhor amigo do qual compartilhou anos, seja morando juntos, estudando juntos, ele foi a pessoa que mais convivia com ela e por quem ela ia contra os próprios pais pra defender, enfrentava toda a cidade, e que estava do seu lado não importava o que, eram poucos anos de diferença, Jades tinha 27, enquanto Victor tinha 25, mas desde que se entendia por gente Victor sempre esteve do seu lado.

O Sr e Sra Gardner chegarem um pouco depois, a mãe foi logo abraçar a filha e quando perguntaram do filho Jades começou a chorar e contou que ele havia sido morto, e mais uma vez o caos se instaurou, mas agora dentro da delegacia. O Sr Gardner exigia do Delegado Miller respostas, a Sra Gardner se desatava a chorar exigindo ver o corpo do filho e o delegado tentava controlar a situação falando que estavam investigando, o corpo de Victor estava sendo analisado pelo legista para ver se encontravam evidências, a Sra Gardner gritava que eles estavam profanando o corpo de filho dela e que aquilo não era bem visto por Deus. Aurora apenas assistia a tudo aquilo como se estivesse vendo uma série de televisão que se passava em câmera lenta, seu cérebro lhe dizia que aquilo era uma espécie de pesadelo que logo logo iria acordar, mas o pesadelo ficava pior e pior a cada minuto.

O velório foi no Domingo, 2 dias depois, todos da cidade compareceram, todos foram até a casa dos Gardners levar um prato de comida em sinal de solidariedade, uma torta, uma gelatina, havia comida ali pra eles não precisarem cozinhar por algum tempo. Jades estava inconsolável num canto, toda de preto (o que não era muito estranho pra ela), não estava chorando e com olheiras fundas, Aurora até teve medo de ir até ela e a amiga lhe culpar e fazer um escândalo a expulsando com xingamentos e ofensas, já que a ruiva ainda não havia lhe falado o que tinha visto na floresta quando encontrou o corpo do irmão dela, mas os pais a convenceram a ir alegando de que naquele momento, talvez, Jades precisasse dela mais do que nunca, e que ninguém poderia lhe culpar naquelemomento.  Assim que chegaram todos olharam pra família Pendragon, em especial Aurora, cochichos e burburinhos eram feitos pelos cantos, olhares mal encarados a encaravam de cima a baixo, e as pessoas se afastavam como se talvez ela fosse a assassina, que talvez chegar perto de Aurora fosse assinar uma garantia de morte, e pra dar força a mãe, Dona Cristina, enlaçou seu braço no dela e tomou uma postura confiante e protetora, Sara, sua irmã estava do outro lado também olhando pra frente sem olhar para os lados.

- Sr e Sra Gardner, nós sentimos muito por sua perda, Victor era um grande garoto e um ótimo amigo de nossa família - disse o Sr Pendragon assim que se aproximou dos Gardner, os pais estavam num canto e a filha encostada na janela olhando pra fora, sem olhar pra dentro da sala de estar amontoada de pessoas, o pai de Aurora apertou a mão do Sr Gardner e fez um aceno de cabeça a esposa que foi retribuído pela mesma - Por favor... Se precisarem de qualquer coisa...

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