Um café ou uma ditadura?

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Você já sentiu que não pertencia a um lugar? Bom, eu sinto isso. A vontade é de me enfiar em um buraco e sumir, porquê tinha que ser comigo? Há tantas pessoas, porquê justamente eu? Tamlin dá um leve empurrão em mim, para eu me tocar, e continuar a andar, e assim faço. Me sento ao lado dele e fico esperando o pior, enquanto busco as saídas mais rápida para fugir dali.

- Vejo que a roupa caiu bem em você - o Grão-Senhor comenta- Como foi sua noite? - Ele pergunta, mas estou tão tensa que nem sei o que falar.

— Você é muda garota? - Pergunta o Grão-Senhor, olhando-me, mas continuo calada.

- A mãe comeu sua língua? - Fala Kain e Habel ri junto, mas seu pai os encara e eles se calam

-Então? - Ele questiona mais uma vez a mim, sinto uma cutucada de lado e sei quem deu.

- Não sou muda, apenas uma boa ouvinte. - Eu falo esperando que seja uma boa resposta.

-Hum... E o que você quer dizer com essa frase? - Ele me encara enquanto come.

- Eu aprendi que se você está encrencado, é melhor escutar e analisar a situação, do que falar e acabar se ferrando ainda mais. - O senhor me encara e acena.

- E qual foi a conclusão da sua análise? - Não sei qual o jogo dele, mas antes de pensar em uma resposta coerente, minha boca já saí falando.

— Bom você deve ser devoto a essa tal de Mãe, para uma vez que aceitou me acolher, não sei qual seu plano em relação a mim, por isso, é melhor analisar antes de agir. Posso estar errada, mas se eu disser a verdade, sobre o que eu realmente acho da situação, posso acabar te ofendendo. - Respondo e ele parece pensar, no que disse.

- Você deve estar morta de fome querida- Horácia se intromete, com medo que aquela conversa acabe mal- Por favor, tragam algo para ela comer- ela se vira para trás, acho que falando com algum empregado ali, quando noto, um prato já estava na minha frente.

- Obrigada- eu me viro para agradecer e fico surpresa ao ver uma humana, uma jovem. Ela acena em resposta.

- Olha garota, não vou dizer que estou maravilhado com sua presença aqui, mas não posso recusar uma ordem da mãe- ele começa a falar olhando para mim, começo a ficar mais tensa, Tamlin percebe e pega minha mão para me confortar enquanto continua a ouvir o Grão-Senhor- Analisei tudo o que podia fazer com você e cheguei a apenas um plano no momento.

Ele espera que eu responda, mas continuo calada, com a mão de Tamlin em baixo da mesa sobre a minha, eu aceno para que continue, então ele começa a me dizer qual vai ser o meu futuro.

- Direi a todos que você é filha de uma amiga próxima, que, em seu leito de morte, pediu para que cuidássemos de você como se fosse nossa filha - ele suspira e continua- Você terá aulas de etiqueta, não sei qual seu nível de sabedoria, então também terá mentores para isso, quanto aos seus poderes, uma velha sacerdotisa cuidará dessas questões, mas tudo isso estará nas mãos de minha mulher, ela que cuidará dessas questões, para que você se torne uma garota de nível, para se igualar a nós, e os outros não suspeitarem.

Espera, ele acabou de me chamar burra, ignorante, e baixo nível? Que hipócrita! Ele devia é observar a educação dos filhos mais velhos dele, antes de falar o que acha sobre mim, mas é melhor manter a boca fechada e só ouvir.

- Espero que escute bem essa parte - ele aponta o dedo para mim e eu aceno- Eu tenho regras a você:

1° Não deve jamais contar a verdade sobre você aos outros, siga a história que eu inventei;
2° Jamais saia dos territórios de minha corte, não te manterei aqui dentro toda hora, mas também não irá sair sozinha, sem uma companhia de minha confiança;
3° Quero que se torne uma dama de alto nível, se vou ter que cuidar de você como se fosse minha filha, então se comporte como tal;
4° Você terá todas as regalias, mas se cometer um erro, posso cortar isso em um instante;

- E por último, você não deve se envolver com nenhum dos meus filhos, não quero eles com uma garota como você- ele fala isso e começo a sentir raiva, minhas orelhas começam a esquentar.

- Pode deixar que eu seguirei essa regra com a maior devoção! Eu que não quero me envolver com os vermes dos seus filhos- Tamlin fica tenso e agora quem segura a sua mão sou eu – Para mim, Tamlin foi o único filho seu que deu certo, mas só o quero como amigo. Aos outros dois, quanto mais longe, melhor.

Os dois mais velhos me olham mortalmente, mas continuo a encarar do mesmo modo.

- Por mim, está ótimo, agora tome seu café para que minha esposa explique melhor sua situação, espero que atinja o mínimo que espero de todos em minha corte- ele encara todos, como se fosse um lembrete - A perfeição de Prythian.

E com isso ele levanta e todos levantam em seguida, apenas eu continuo sentada, ele sai e os dois vermes vão atrás, como se fossem dois cachorrinhos seguindo o dono, mas antes de passar pela porta Kain me encara como se quisesse dizer “vai ter troco” pela ofensa dirigida a ele

Com eles fora, eu consigo voltar a respirar em paz e parece que todos na sala também.

- Ele é sempre assim? - Eu pergunto, a senhora é a primeira a rir e me encarar.

- Você nem imagina, mas, no fundo desse posso de frieza, ele tem um coração.

- E funciona? - Eu a encaro - Desculpa, não foi o que eu quis dizer.

- Foi sim, minha querida, com o tempo você se acostuma. - Ela segura minha mão e levanta- Quando terminar, uma empregada levará você até mim.

Ela sai e eu me viro para Tamlin que estava calado até agora, vejo por sua expressão que ele não gostaria de tocar no assunto “seu pai”.

- Ei anjo, será que você vai aguentar ser irmão postiço dessa doida aqui? - Eu falo sorrindo e empurrando ele de leve, o que faz ele dar um sorriso simples, mas encantador.

- E você pensa que vai conseguir se tornar a próxima beldade de Prythian? - Nós dois rimos e voltamos a comer.

- Beldade eu não sei, mas que eu vou ter que lutar para seguir todas essas ordens, e poder sobreviver a essa corte. - Ele levanta a mão e tira um fio da trança, que estava no meu olho e coloca atrás da minha orelha.

- Acredito que vou gostar de ser irmão mais velho de uma garota doida e, ao mesmo tempo, especial, igual a você. Sabe por quê? - Eu nego e ele fala feliz - Por que você Stella, foi uma benção em meio ao caos que é minha vida, você não sabe como é bom saber que agora, além de Lucien, eu tenho uma companhia como você, e pode ter certeza que vou ser o irmão e amigo mais grudento que você já viu.

Fico sem chão, esse homem pode ser mais ainda mais perfeito?

- Stella, você não sabe, mas penso que a mãe estava certa, suponho que precisamos de você, não só Prythian, mas eu também- e com isso ele levanta, beija minha cabeça e sai.

- Sim, ele pode ser ainda mais perfeito.

Acredito que viver aqui não vai ser a pior coisa do mundo, desde que, eu encontre mais anjos como ele.

Corte de essência e estrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora