I was too scared to jump in

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Capítulo Sete: I was too scared to jump in

"Eu acho que sua casa é assombrada

Seu pai está sempre bravo e deve ser por isso

Eu acho que você deveria vir morar comigo

E nós podemos ser piratas".

Sou expulsa do meu sonho com um baque alto.

Me coloco de pé, meu coração pulsando desesperado no peito. Odeio ficar sozinha em casa aos sábados, mas não posso julgar meus pais por buscarem um tempo a sós. O relógio do celular aponta que já passa da meia noite, e me empertigo próximo a janela do meu quarto e ouço mais um baque na casa vizinha. Não sou um remake de "Janela indiscreta" do Hitchcock, mas me escondo para espiar. A luz do quarto ao lado está acesa e, de repente, minha vizinha surge.

Katherine está usando uma maquiagem pesada e pelas roupas imagino que tenha acabado de voltar de uma festa, logo o seu pai entra no enquadramento da janela e eles estão discutindo feio. Meu coração aperta no peito, pois é sempre horrível presenciar uma discussão, mesmo que eu não saiba o que de fato estão falando. Katherine e eu somos vizinhas desde crianças. Quando ela se mudou para a casa ao lado, imaginei que teria uma amiga nova, finalmente alguém com quem pudesse conversar, brincar e fazer festas do pijama – mas eu só tinha sete anos, e acreditava cegamente no lado doce da vida.

O pai de Katherine a pegou pelo pulso com força, sua feição contorceu em dor, ela buscou se afastar e até recorreu ao desespero de estapeá-lo no peito, mas Josh a empurrou e lhe deu um tapa no rosto. A surpresa me rouba o fôlego, quando um grito de horror ameaçou sair por minha garganta, mas a cena continuou a se desenrolar diante de mim – Katherine não chorou mas estava tão chocada quanto eu, ela se afastou aos gritos, mas seu pai a pegou pelo cabelo e começou a puxar para algum lugar.

Não tenho mais visão da cena, porque os atores deixaram o palco. Até eu ouvir um baque alto vindo da porta da frente dos Pierce, agora Katherine e Josh estão brigando na varanda. Meus pés não me permitem continuar na inércia, quando caio em mim estou diante da calçada, o vento fresco de agosto bagunçando meu cabelo – e uma necessidade de saber o que estava acontecendo.

Me esguio entre a cerca-viva a tempo de ouvir Josh gritar com Katherine:

― É a última vez que continua a fazer essas safadezas dentro da minha casa, ouviu?!

― Eu não estava fazendo nada de mais, pai ― ela ralhou.

― Leve a sua imundice para longe daqui ― Josh a olhava com nojo, como se ela tivesse alguma doença transmissível.

Ele se virou e fechou a porta da frente com força, um baque tão alto que estremeceu meus ossos. Pela primeira vez na vida observo Katherine fungar, os olhos castanhos-chocolate tão bonitos agora marejados pelas lágrimas. Quero abraçá-la e dizer algo, mas não somos mais tão íntimas. Entre o deserto da infância e a adolescência, Katherine e eu nos perdemos. Contudo, houve um tempo em que éramos inseparáveis, capazes de adivinhar até o pensamento uma da outra – e em nome desse tempo que eu me aproximei, na intenção de oferecer o ombro amigo, que ela negou por tantos anos.

― Kath... ― me aproximei devagar, com medo de que o animal acanhado pudesse me atacar.

Ela ergueu o olhar, os ombros caídos e a feição mais triste que eu já vi na vida. A lembrança dela sorrindo, dançando pelo quintal da minha casa, usando uma saia de tule rosa e nas pontas dos pés como se fosse capaz de alcançar o céu. Quando Katherine e eu deixamos de ser perfeitas uma para a outra?

Folklore - Delena, Datherine, KelenaOnde histórias criam vida. Descubra agora