Capítulo Dois: And if my wishes came true

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Capítulo Dois: And if my wishes came true

"Mas nós éramos algo especial, você não acha?

Aos vinte e poucos anos, jogando moedas na piscina

E se meus desejos tivessem se tornado realidade

Teria sido você".

Observo o corpo estirado ao meu lado e me questiono onde errei.

As costas em relevos, moldadas pelos músculos, a pele bronzeada pelo sol da costa oeste quase brilhava na penumbra da noite. O homem desconhecido que suspirava enquanto dormia era o meu ato de misericórdia, a ação imprudente de uma atriz em declínio. Abraço meus joelhos, ainda consigo sentir o toque de suas mãos, os lábios que buscavam rasgar minha pele e causar prazer. Não é tão fabuloso quanto a tevê tenta exibir – me farto de observar o sono pesado do meu acompanhante, e pego o copo de uísque na mesinha de cabeceira.

A atriz em declínio – e bêbada.

Eu não devia praticar a autopiedade quando há um homem nu ao meu lado, em especial, após uma foda "fantástica", porém isso costuma acontecer quando você não se sente feliz. Quando não se sente porra nenhuma. Tudo se torna tão esquecível quanto um filme medíocre. O uísque desce mais afável do que o toque dos homens que passaram por minha cama na última semana, a mais indecente de Hollywood – incapaz de fazer um homem ficar. Eles diriam. O líquido do meu copo acabou e me ergo da cama a procura por mais. Meu apartamento é espaçoso o suficiente para me permitir ficar longe do deserto por onde caminhava antes, então quando chego a sala e abasteço-me de mais uísque, surge uma ruguinha de preocupação que me faz imaginar o que os tabloides irão escrever sobre mim amanhã.

— A mais vagabunda da cidade — rio solitária.

Não posso contar mais com o frenesi feminista que se instalou na mídia há algum tempo, ninguém é capaz de justificar os atos de uma mulher quando nem mesmo ela sabe o que faz – quando nem mesmo ela sabe o que procura. Meus fãs ovacionam a atuação que entrego nas telonas, dizem que estou mais épica do que nunca e, até cochicham que tudo o que toco se torna ouro. Talvez eu devesse acreditar neles. Mas, desisto disso e viro mais uma dose.

A noite cai fria tal um abraço hostil. Do peitoril da janela tenho a imagem da cidade frenética que nunca dorme, de seus dias quentes e madrugadas geladas – em algum momento dos anos passados, eu era apenas uma garota da cidade pequena, entre o clube de teatro e os livros de biologia, sonhando com a faculdade de Medicina e pelo delírios com os palcos. A adolescência da grande estrela do cinema foi anônima, onde a calmaria só era interrompida pelos gritos da puberdade. É amargo pensar naquela época como a melhor da minha vida, e, difícil imaginar que nunca mais verei as pessoas que jurei amar para sempre. Deveria haver uma cláusula predeterminada a nos obrigar a não deixar para trás quem consideramos importante.

Mas, como eu poderia saber que eram insubstituíveis quando a vida fez questão de substituí-los em um piscar de olhos?

Viro outra dose, pois pensar neles é pisar num solo perigoso. E viro mais uma, porque minha mente se inunda de memórias que sou incapaz de revivê-las, e quero que o gosto do uísque se torne os lábios que um dia beijei. Olho para as estrelas e imploro para que elas atendam ao meu desejo de encher aquele apartamento com os meus melhores amigos, mas elas são apenas astros e não possuem tal poder. As estrelas riem da bêbada que me tornei ao compararem-me à garota sonhadora que já fui.

"Acha que serei uma atriz algum dia? ", perguntei, tímida.

"Tenho certeza que será uma grande atriz" ele sorriu.

"Você é um péssimo mentiroso, Damon! "

"Já te vi no clube de teatro... foi incrível"

"Espera aí... você estava me espionando? "

Folklore - Delena, Datherine, KelenaOnde histórias criam vida. Descubra agora