Capítulo Um

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Ahmes levantou bem cedo para subir A Montanha

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Ahmes levantou bem cedo para subir A Montanha. Observou o vale nebuloso pela minúscula janela de seu quarto, analisando a paisagem enquanto se vestia com sua melhor túnica e seu melhor gibão, feito com pele de porco selvagem. Fazia pouco que tinha amanhecido, o sol brilhava debilmente no horizonte, adentrando pelas fissuras das paredes de madeira da casa decrépita e pelos buracos do telhado, transpassando também o tecido fino das cortinas. Tudo era muito simples, os pisos estavam ruidosos e por vezes apodrecidos, e teve de caminhar devagar para não acordar a casa toda.

O rapaz esquentou seu mingau e comeu sem ânimo algum, engolindo colheradas da papa aguada mas bem temperada, que sua mãe fizera no jantar. Preferiu não comer muito, pensando no que o irmão comeria enquanto não pudesse trazer provisões. Quase se desequilibrou, quando viu a figura de sua mãe parada na porta da cozinha lhe observando. Vestia camisola e sua xale de tricô por cima, abraçava o próprio corpo franzino enquanto sorria.

– Mãe, a senhora não precisava se levantar.

Se levantou depressa, abraçando a mulher pelos ombros e a ajudando a se sentar numa banqueta cambaleante, depois fez o mesmo.

– Quis me despedir do meu filho, não sei quando nos veremos, talvez só nos encontremos novamente na primavera.

Sua voz era firme, porém embargada, não era do tipo que demonstrava sentimentos, mas naquele instante parecia prestes a chorar. Ahmes sentiu um aperto no coração, mas era o melhor que poderia fazer, precisava do dinheiro.

– É um bom dinheiro mãe, vamos poder sair do Vale e irmos para a capital, vamos ter mais chances se sairmos deste lugar.

A velha esticou o braço e segurou a mão do filho com seus dedos ossudos.

– Vivi toda minha vida neste lugar, nós não precisamos ter pressa.

Ele estalou a língua.

– Mãe! Precisamos sair deste fim de mundo, preciso ter certeza que tenha uma boa vida, preciso fazer dar certo e te levar pra longe daqui.

– Não deveria ser ambicioso, seu pai pensava do mesmo jeito e onde ele está agora? – Disse de modo exasperado.

– Ao menos meu pai tentou, não quero estar fadado ao esquecimento neste Vale sem nome onde todos que morreram jamais serão lembrados, não quero estar para sempre na miséria e na fome e no medo.

— Acha que nossa vida foi miserável?

Ela largou sua mão.

– Com certeza.

Estava aflito, ansioso para dar logo as costas para a velha e sumir pela estrada, não passaria mais um dia trabalhando na lavoura só para passar fome no inverno. Era assim, desde seus quatorze anos, desde que seu pai e seu irmão mais velho se foram para a capital para nunca mais voltar. Seu pai, morto por um ser desconhecido enquanto se preparavam para a guerra e seu irmão que jamais quis retornar ao vale, se casando na cidade grande e aparentemente levando uma boa vida.

– Quando Oran acordar, peça que pegue minhas economias e abasteça a casa, voltarei em breve.

Apesar de levemente ressentido, se curvou e beijou a testa de sua mãe, que permanecia em silêncio. Ela não se virou, nem nada disse para o rapaz enquanto ele calçava suas botas de caça. Então colocou a bolsa no ombro, e saiu, sendo engolido pela garoa fria e pela solidão da manhã...

Besta ⨳ A Sombra de Avennar [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora