[SOBRENATURAL] [FANTASIA SOMBRIA] [+16]
O reino de Avennar é um lugar amaldiçoado, uma sombra paira sobre as vidas da população e no vale mais antigo, uma besta se esconde em meio a densa floresta. Desde muito antes, a Montanha pertence à família Mc...
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Ahmes Frye seguira as recomendações do Conde e tudo que lhe restava agora era esperar. O vento assobiava e batia violentamente contra as janelas francesas de madeira maciça do térreo, os estalos do piso de madeira quase imperceptíveis pareciam rançosos e ensurdecedores no silêncio. Seu coração ia e vinha no peito, tão rápido que era sufocante, as batidas tropeçando e ecoando pelos ouvidos.
Abraçou os joelhos e ajeitou a manta sobre os ombros, a escuridão havia chegado completamente à Montanha a menos de uma hora, não era possível ver nem mesmo as estrelas. A Lua Vermelha brilhava lá fora, sua luz escorrendo através das fissuras das janelas, o farfalhar das folhas pareciam sussurros das almas as quais o sangue que a pintava uma vez pertencera.
O terror começou sem aviso.
O que aconteceu primeiro foi que uma corrente de ar arrepiou seus pelos de todo o corpo, seus olhos vagaram pelo ambiente e uma coruja piou alto lá fora, no escuro. Pôde jurar ver olhos vermelhos em meio às chamas que bruxuleavam e inundavam a sala, o calor da lareira de repente passou a assombrá-lo.
Galhos estavam lá fora e Frye fechou os olhos, como prometera ao Conde que faria. Estava em uma saleta no térreo, sua visão para o mundo pela janela estava bloqueada, existiam inúmeros papéis empilhados e livros em estantes anexas às paredes, mas não sabia ler então não podia xeretar nada para passar o tempo. A porta estava trancada, assim como a porta do corredor e todas as janelas da casa, e a porta principal e a do anexo da cozinha. McBride prometera que checaria a passagem do porão antes de sair para a floresta, isso foi cinco minutos antes de ser deixado completamente sozinho.
Apertou mais forte a faca que ganhara mais cedo.
Naquele momento arrependia-se amargamente de ser um descrente, de ter coragem de subir A Montanha e trabalhar para alguém que nunca vira. Existiam tantas histórias, contadas nas missas de domingo e nas feiras, e pelas mães que proibiam os filhos de sair depois que o sol começava a se pôr. Existiam os corpos, e o obituário do inverno há dez anos, em que vinte e cinco pessoas do Vale foram brutalmente assassinadas durante uma confraternização que comemorava o fim das colheitas.
Mesmo sob todas as ameaças fizera sua escolha, e agora tremia como um pintinho, os ombros subindo e descendo sob a ação da respiração descompassada e ansiosa. Eram por volta de oito da noite quando os galhos estalaram e, por quase quarenta minutos de silêncio ininterrupto depois, Frye pensou que não passara de um delírio. Estava quase cochilando, a cabeça pendia para a frente vez ou outra, enquanto tentava manter os olhos abertos. Houveram então batidas na porta da frente, quase abafadas demais pelas paredes e pela semi-inconsciência. Se empertigou e a manta escorregou de seus ombros.
– Ahmes, você está aí? Ela já foi embora.
Por um segundo ele quase se levantou para ver, era a voz do Conde, mas com um teor espectral e denso. Uma urgência aterradora e sufocante, pingando nas tábuas dos pisos e cobrindo a casa com um véu de desespero que queria chegar até ele, laça-lo e conduzi-lo até lá fora.
No escuro...
– Ahmes! - A voz gritou, uma falha ruidosa, arranhões nas pedras que revestiam a externalidade da construção. – Ahmes me deixe entrar! Está frio aqui fora! Tem tanto sangue aqui, acho que ela me arranhou – um gemido sôfrego vagueou até a existência, parecia quase um delírio. – Ahmes, eu estou com medo!
Sentiu os olhos queimarem, estava prestes a começar a chorar. Queria ir até lá e garantir que tudo estava bem, mas fora exatamente o que o Conde pedira para não fazer, para não olhar nem ter coragem de abrir a boca para dizer uma frase sequer. A sequência de arranhões se sucedeu com exagero, a casa parecia prestes a ser derrubada, ele já não podia dizer de onde vinham os sons.
– Sei o que está em seu coração Frye, sabes que és servo do demônio assim como eu não? Desejas pessoas que não deveria, pessoas como eu e o padre que esteve aqui mais cedo Frye, você sabe que vamos para o mesmo lugar depois que isso acabar.
Ele falava através da janela no final do corredor, a voz entrava por debaixo da porta, parecia se arrastar até quase apanhar seus pés. No exército conhecera os verdadeiros demônios, mas a voz que vinha até ele, tão palpável quanto o sangue em suas mãos, era tão penetrante e ensurdecedora quanto o lamento de mil homens. Seu corpo tremia, os olhos marejados, a boca seca e retesada numa linha fina forçada para que não gritasse.
– A Lua durará até o fim do inverno – a voz gemeu, um resfolegar torvo e demoníaco preencheu o silêncio.
Os arranhões retornaram, um som explosivo estourou no ar enevoado da noite vermelha e o que quer que estivesse lá fora berrou. Os ouvidos de Ahmes reagiram amargamente ao estímulo sonoro, embarcando num eco perturbador que comprimia seu cérebro, fazendo-o enxergar todos os corpos aos seus pés na caminhada de dias até a base. Ele se ajoelhou e cobriu as orelhas com as mãos, os gritos não paravam, mas a besta havia desaparecido.
Era perto da meia-noite quando Ahmes Frye perdeu a consciência...
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N/A: Oi meu amores! Não esqueçam de deixar a estrelinha no final do capítulo porque me ajuda MUITO a ganhar relevância na plataforma <3 Obrigada a quem acompanha e espero que estejam gostando! E aí? O que vocês acham sobre a besta? Bom, não vou dizer mais nada! Até o próximo!