Capítulo 4

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O grupo que estava na entrada da cidade de Covanca era formado por apenas cinco pessoas, mas essa contagem não fazia jus à reputação deles. A Guilda do Sorriso era famosa no Sul, local esquecido pelos reis que insistiam nas suas guerras intermináveis por poder, ouro e terras. Tinham uma base no povoado de Camurí, onde se dedicavam a organizar a segurança local quando não estavam em missões oficiais, como essa em Covanca.

-Quando o prefeito disse que não teríamos dificuldade em achar o santuário pensei que era má vontade dele em nos indicar a localização – disse Beatrice, a médica da Guilda. Era uma mulher alta, de pele bronzeada e olhos castanho-claros, um sobretudo com capuz roxo aberto que deixava visível uma roupa alva por debaixo. Tinha vários anéis na mão esquerda, com especial destaque para um contendo uma joia azul.

-Pois é – respondeu Gilbertto, trajando sua armadura pesada e cinzenta, escudo ornamentado com um sorriso nas costas e a mão repousando na espada. Claramente o cavaleiro do grupo, embora não estivesse com seu cavalo no momento – A cidade não é das maiores, mas dedicaram um bom investimento a este santuário. O dragão soube mesmo aproveitar o local como um lar – e soltou uma breve e contida risada.

-Imagino como deve ter sido engraçado aí na sua cabeça, Gilbertto – disse Beatrice. Virou-se para uma outra mulher do grupo, bem mais jovem que os demais membros, pele branca, cabelos e roupas pretos. Carregava uma adaga presa aos quadris – Susana, precisamos repassar o plano?

-Não. Mas talvez precisemos acordar o Rufus.

-Ora essa, pequena Susana! O Rufus só está concentrado na nossa singular empreitada – riu um homem de meia idade, vestido com blusa e calça de um amarelo muito claro e coberto por uma capa verde com um sorriso nas costas. Reginaldo era o arqueiro do grupo, o mais experiente e único a não possuir nenhum Material Divino, fato notório dada a fama da guilda. Rufus despertou do transe nesse mesmo instante.

-Perdões, mas estou tão animado com tudo isso que me perdi em pensamentos. Dragões eram apenas uma lenda distante para mim. Saber que este vem atormentando as pessoas daqui dessa forma vai muito contra tudo que ouvi.

- Cinco anos sorrindo com a gente e ainda leva todas as lendas ao pé da letra? – Susana lançou um comentário frio – Esperava mais de você, amigão. Aposto que é a paixonite por aquela moça que costura.

-Certo – interrompeu Beatrice – Acho que já deu para descontrair. Vamos andando e seguir com o plano. Um dragão continua sendo um dragão e isso nunca significa caminho de flores.

Seguiram adentrando a cidade, agora deserta e com sinais esporádicos do que parecia ser a marca da pata de um grande bicho. Rufus trajava sua calça batida e uma camisa sob um peitoral de placas, a poderosa maça presa às costas fora liberada para uso. Andava à frente junto de Susana, seguidos por Beatrice e Reginaldo ao meio da fileira e Gilbertto nas costas do grupo. Uma formação pouco convencional, mas extremamente eficiente para a guilda.

O sopro do silêncio era contínuo, mas era sempre interrompido pela batida descompassada dos pés sob a terra e coroada pelos cliques metálicos de uma certa armadura. A fraca harmonia do caminhar do grupo em nada se comparava ao conflito entre o tambor de cada coração com o sopro absoluto do silêncio de fundo alternado.

O Sol já indicava ter passado do meio dia quando alcançaram a estrutura do santuário. Tratava-se de um amontoado de pilares que delimitavam um grandioso círculo, coroados por vigas curvas e cujo terreno interno agora era o covil escavado de um dragão amarronzado, sagrado apenas para ele, quem sabe. Era estranho pensar que, por quase um ano, aquele réptil se estabelecera ali e os cidadãos nada fizeram além de pagar tributos. Chegou, porém, um momento em que a fera não se satisfazia com o que ganhava e passou a atacar a cidade, como se verificava pelo entorno destruído. Foi aí que procuraram por eles para esse serviço. E agora, juntos, eles iam em direção ao perigo.

Sob a terra agora habitaOnde histórias criam vida. Descubra agora