adaptability

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UM MÊS ATRÁS

A casa aonde vivo não é pequena mas também não é nada demais.

É uma casa mediana de dois andares, e como a maioria das casas da rua aonde moro ela é antiga, com tijolos já gastos e janelas grandes e velhas que fazem barulho quando tento as abrir.

Estou na sala de estar e a televisão suspensa na parede, bem em cima da lareira, está ligada. O aparelho está em um canal de notícias local, mostrando o noticiário das nove da noite. O volume está baixo e eu não estou prestando atenção já que meu olhar está no celular nas minhas mãos, aberto em um joguinho aleatório de palavras que ocupa minha mente.

Minha mãe surge na sala, me chamando para comer e eu não espero muito até seguir na direção da nossa pequena sala de jantar.

Logo eu me encontro sentada em volta da velha mesa de madeira. Meu pai está na ponta da mesa, e minha mãe está de frente para mim.

Eles já estão em seus quarenta anos, mas tem estranhamente um ar jovem pairando sob os dois. Meu pai tem os cabelos um pouco mais longos, rebeldes, e os fios brancos apenas acrescentam a imagem dele. A barba no rosto dele é cheia e normalmente é muito bem cortada mas há dias é possível observar um certo desleixo ali.

Minha mãe se parece muito comigo, ou eu com ela. Nós temos a mesma cor de olhos, o mesmo estilo de cabelo e falamos da mesma forma. Ela é alta, bem alta, tão alta quanto meu pai, e com toda certeza foi daí que eu puxei isso.

Eu termino de arrumar meu prato de comida, que diferente da noite anterior - comemos ensopado de carne e shepherd pie, além de torta de maçã como sobremesa - é apenas frango, legumes assados e um purê.

Minha mãe enche o copo dela de vinho, um vinho barato que eu lembro de ter comprado na loja de conveniência da esquina, aonde não pedem sua identidade se você vai comprar álcool. Meu pai leva um pouco da comida até a boca e suspira de leve quando termina de mastigar, ele encara o relógio no pulso dele, como que querendo que o tempo passe rápido, e nós permanecemos num silêncio incômodo.

Finalmente um som corta aquela situação e é meu irmão, Jesse - de vinte anos - descendo as escadas.  Ele está com uma latinha de energético na mão e a joga no lixo assim que passa pela cozinha, eu consigo ver pela bancada que divide a sala de jantar do outro cômodo. Ele então se senta ao lado da minha mãe e leva a mão até o cabelo, que dessa vez está em um misto de laranja, amarelo e vermelho - ele nunca para com uma cor só, mas esse estilo está durando muito mais que o normal - o bagunçando naquilo que já é uma mania dele.

— Porque é que me chamaram? — ele pergunta. 

Jesse acende um cigarro que ele tirou do bolso do casaco velho que está usando e eu quase consigo ver meu pai se contendo para não revirar os olhos.

— Certo, nós precisamos falar sobre as finanças — meu pai diz — Querida?

— O que? — minha mãe encara ele, como que não querendo aquela responsabilidade de falar sobre a situação para si — Pode falar.

— Isso vai ser difícil — Jesse se apoia na mesa e se inclina de leve, o suficiente para sussurrar aquilo na minha direção.

— Ok, como vocês sabem eu e a mãe de vocês, nós estamos em um situação bem difícil, assim como o resto do país. Eu não tive um aumento nem mesmo uma comissão decente nesse último ano. A mãe de vocês está trabalhando três vezes por semana nos turnos noturnos e não parece que as coisas vão melhorar.

Eu foco a atenção no meu pai, completamente imersa no que ele está falando. Ele alcança o copo cheio de vinho que minha mãe encheu minutos atrás e toma um gole.

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