your problem is my solution!

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É hora do intervalo, o segundo, e eu já não aguento mais esse lugar.

Tem alguns garotos jogando futebol com uma bola velha naquilo que é tudo menos uma quadra esportiva. Outros estão apoiados nos muros pichados enquanto comem alguns snacks.

Eu ando entre as pessoas, na direção do outro complexo de prédios, tentando achar aonde fica a cantina.

No primeiro intervalo, o de dez minutos, não saí da sala. Não sei aonde fica a maioria das coisas, e não quis correr o risco de me perder e chegar atrasada para a aula. A gente nunca sabe o que fazem com quem não segue as regras por aqui. 

E eu prefiro não descobrir...

Eu consigo me guiar, e vejo um sinal indicando aonde é o P.E Hall. E o lugar fica bem afastado.

Estou passando pelo pequeno bicicletário quando escuto um assovio que toma completamente minha atenção. Não sei se foi na minha direção, mas de qualquer forma me viro.

Bem perto da entrada para um beco que não dá em lugar algum está uma garota. Ela não parece ter mais do que dezoito anos e ela tem um cigarro nas mãos e a cabeça raspada. Eu consigo ver uma tatuagem pequena bem no canto do olho direito dela, e o uniforme que ela usa está sujo e talvez um pouco pequeno. A garota está ainda com botas pretas desgastadas e um casaco bomber verde, que naquele visual todo é a única peça que parece ser realmente nova.

— Você fuma? — ela pergunta e eu a encaro sem saber como responder, porque levando em conta minha única experiência aqui a chance de eu falar merda é enorme.

— Oh, de vez em quando — dou de ombros — Eu não gosto tanto. Meu irmão fuma e às vezes ele me oferece e eu fumo também, e eu tenho alguns amigos que fumam, hm, e meu pai costumava fumar um cachimbo e uma vez ele deixou eu tentar fumar também, mas isso já tem tempo.

— Por que você está me contando tudo isso? Eu só perguntei se você fuma — ela me encara com o cenho franzido e eu solto um "foi mal" com a voz baixa — Vamos ali, eu vou te mostrar uma coisa — a garota acena e aponta para trás de mim e só aí eu reparo que era o banheiro feminino ali.

Ela passa por mim sem esperar uma resposta e eu não sei como agir, se continuo andando ou se a sigo, mas opto pela segunda opção.

Entro no banheiro e não me surpreendo quando vejo que o lugar é decadente como o restante da escola. O chão está molhado e eu espero mesmo que seja de água.

— Você quer? — ela pergunta e se vira e eu vejo que ela tira do bolso um pequeno pacote transparente com um pó branco.

— Não — balanço a cabeça negativamente — Eu estou bem, eu vou só... Ver você fazer isso, eu já usei um pouco de manhã — digo, e estou mentindo. Fumar? Tudo bem, cheirar cocaína? Eu não estou tão maluca.

A garota coloca a mão no bolso e tira de lá um estilingue, algo que eu não vejo há muito tempo, e de algum jeito ela tira uma pedra do bolso também.

— Você já viu um desses? — ela coloca a pedra no encaixe do estilingue e aponta na minha direção.

Nesse ponto eu já não tenho ideia do que está acontecendo.

Eu estou prestes a ser ameaçada com um estilingue? É isso mesmo?

— Eu ouvi que você é queer — ela comenta.

— O que? — pergunto.

— Eu ouvi que você é queer — ela repete — E você parece mesmo.

—  E isso te interessa em que, exatamente? — eu pergunto, com uma coragem - ou idiotice - repentina.

— Isso foi você me respondendo mal? — ela levanta o estilingue — Vamos lá, dança pra mim.

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