RUN

759 86 5
                                    

Eu e os meninos estamos atrás do palco, apenas esperando nosso momento de entrar. Por entre as frestas da cortina eu consigo ver como o lugar está cheio, e a impressão é a de que está enchendo ainda mais conforme o tempo passa.

As coisas parecem turbulentas do lado de fora. Os professores que estão aqui passam a ideia de que é extremamente difícil controlar a multidão de alunos que vem surgindo. Alguns alunos mais barulhentos  e difíceis estão fazendo de tudo para causar confusão, e eu juro que vi alguns com garrafas de cidra e outros se esgueirando pelos cantos para fumar.

— Gente, eu sei que é um péssimo momento mas eu tenho que contar que eu não vou poder mais fazer parte da banda depois disso aqui — Dominic comenta do absoluto nada.

Eu o encaro sem entender de onde isso surgiu, e antes mesmo de perguntar o porque disso Tye toma a frente.

— Por que?

— Minha mãe não gostou das minhas notas, o que já era bem óbvio. Além de que meu pai não vai voltar pra casa por pelo menos mais cinco ou seis meses, e eu preciso cuidar de casa. Eu tenho que trabalhar, eu não posso deixar tudo nas mãos da minha mãe.

— Mas a gente não pode fazer isso sem você — Jalen diz.

— Nós podemos ajustar o horário, ensaiar uma vez por semana — eu digo.

— Não, se tivermos que fazer isso temos que fazer direito e eu não vou poder me entregar 100%.

— Mas, Dominic... — reviro os olhos — Você é bom demais pra não fazer isso. 

— Eu sei, mas eu ainda tenho muito tempo aí pela frente — ele dá de ombros — Depois da escola quem sabe eu me dedique a isso. Eu ainda vou escrever algumas coisas, e quem sabe eu te ajude com algumas músicas, eu só... Eu só não posso me focar nisso agora. A vida não é a coisa mais certa desse mundo e nada aqui é fácil, é meio merda a situação mas uma hora a realidade ela te chama.

Ninguém diz nada depois disso, então entramos nesse momento com um silêncio incômodo.

Alguns minutos depois, quando tudo parece mais controlado - mas ainda estranho - um dos professores sobe no palco e após algumas palavras longas e cansativas ele nos chama.

Ninguém aplaude, com exceção da Mrs. Paulson, que está não muito longe do palco com aquela que eu imagino ser a esposa dela, uma mulher mais velha que ela. As duas estão bebendo alguma coisa de laranja, e eu imagino que seja apenas suco.

Eu e os meninos nos acomodamos nos nosso lugares, e eu alcanço o microfone. É a minha primeira vez no palco, e sendo muito sincera eu não tenho ideia do que estou fazendo.

— Olá, Dublin. Nós somos o New Estate, aqui de Dublin mesmo — nos apresento e em troca recebo algumas vaias por parte de alguns dos alunos, mas mal me importo com isso — Nós vamos cantar algumas músicas autorais, e essa primeira leva o nome da banda. Essa aqui é "New Estate".

A banda dá início a primeira música, e de algum jeito conseguimos nos manter no tempo certo.

Eu realmente não sei o que acontece comigo, mas diferente do nosso primeiro ensaio eu consigo estar mais solta no palco.

Down to the upper side i can see ghosts. How long until the morning glows? Read it in your eyes, i believe in my own lies — canto a penúltima repetição do refrão e então Dominic dá início ao pequeno riff de guitarra que ele fez para a música. Quando isso termina, nó entramos na ponte da música, e Dominic me acompanha no vocal.

No tempo que a música chega ao fim a atmosfera está totalmente diferente. Os professores não parecem ter tanta certeza do que fazer, mas os alunos definitivamente gostaram já que praticamente todos aplaudem.

New Estate • Bella HadidOnde histórias criam vida. Descubra agora