New Estate • Bella Hadid

happy/sad

É segunda-feira mais uma vez.

Eu estou cansada, mas ainda sim preciso me levantar e ir para a escola e é o que faço.

Ainda no início da manhã, quando me sento na classe de artes, sinto o olhar da Mrs. Paulson em mim e logo entendo o que está acontecendo, mas tento me manter como se não estivesse nem aí.

— Eu gostei. O que aconteceu? — ela aponta para o meu cabelo, que agora tem duas mechas descoloridas na parte da frente, e para o meu rosto que está levemente diferente, já que agora estou usando uma maquiagem nos olhos, algo bem desleixado e colorido, além de que tenho algumas pequenas estrelas coladas no rosto, bem perto do meu olho.

— É por causa da minha banda — dou de ombros.

— Você está em uma banda? — ela pergunta e parece mesmo animada — Legal, legal... Qual o nome dela?

— New Estate, ao menos por enquanto. A gente não tem tanta certeza, mas me parece um bom nome — comento.

Mrs. Paulson parece pronta para falar algo, mas a batida na porta tira a atenção dela, que diz um "entra" um pouco mais alto, e então um garoto do quinto ano, que eu conheço de vista, coloca o rosto para dentro da sala e fala: — S/n! Tem alguma S/n aqui?

Mrs. Paulson me encara  e eu me levanto e sigo na direção do garoto, que comenta enquanto saímos da sala que o Baxter quer me ver.

Eu só consigo revirar os olhos, sabendo exatamente o que me espera.

— O que está acontecendo? — é a primeira pergunta que Baxter faz, assim que me sento de frente para ele.

— Como assim?

— Isso aí — ele aponta para o meu rosto.

— Oh — eu suspiro de leve e me seguro ao máximo para não revirar os olhos — Bem, eu chequei o livro de regras. Sabe, aquele que o senhor mencionou? Enfim, eu não encontrei nada falando de maquiagem ou de alterar a cor do cabelo. Então... — sorrio irônica e me levanto da cadeira. Aproveito para deixar à mostra meus tênis brancos que agora estão pretos  — Ta-da.

— O que...? — Baxter parece confuso.

— Eu pintei meus tênis — digo — Com tinta da sala de artes, que provavelmente vai sair em uma semana mas agora eles estão pretos — Baxter mal olha para os tênis e foca o olhar, cheio de irritação, em meu rosto.

— Você vai até o banheiro e vai tirar essa maquiagem do rosto, agora.

— Eu não vou — digo.

— Você vai, e você vai por que eu estou mandando.

— Eu não vou — reforço — Eu estou em uma banda agora e eu acho que é importante eu ter um visual diferente.

— Você está em uma escola com regras, uma escola que serve diariamente à Deus e nós não queremos esse tipo de visual aqui.

— Tem gente usando coisa muito pior — eu comento.

— Você vai tirar isso — Baxter diz mais uma vez.

Sendo sincera eu não tenho ideia do que estou fazendo, mas acho que tenho chance de sair bem disso, por isso coloco a mão na maçaneta da porta e me viro para sair da sala.

Mas tudo acontece rápido demais.

Em um minuto eu estou na sala de Baxter.

No outro eu estou sendo arrastada pelo braço, por ele, na direção do banheiro daquele andar. Ele me posiciona, sem nenhuma delicadeza, na frente da pia do banheiro e abre a torneira, jogando água no meu rosto. A maquiagem não sai, mas fica borrada, e ele não se importa. Ele não quer tirar a pintura do meu rosto.

Ele só quer deixar claro que a voz dele é maior que a minha.

Eu volto pra sala com o rosto molhado, a maquiagem borrada e meu cabelo levemente úmido. Ninguém diz nada, e eu imagino que todos já saibam o que aconteceu. 

A verdade é que eu quero chorar. Quero mesmo. Mas engulo meu choro e passo o restante da manhã encarando a janela do outro lado da rua, esperando ver Bella aparecer no muro de frente para escola.

E isso acontece.

Ela aparece alguns minutos antes do sinal de saída. E quando esse toca, eu me vejo caminhando com pressa na direção da garota.

— Hey! — ela sorri quando me vê. O olhar dela passeia pelo meu rosto e ela então diz — Você está incrível mas o que aconteceu?

— Nada demais — digo, não quero mesmo entrar em detalhes da merda que foi a minha manhã.

Bella parece entender e apenas dá de ombros. Ela se coloca do meu lado, e entrelaça nossas mãos, e então se coloca a andar e eu apenas a acompanho.

— Sabe, eu realmente gostei da sua música — ela comenta alguns segundos depois — Me fez chorar.

— Oh, hm, desculpa...?

— Não, não — ela ri de leve — Isso é algo bom. A música é bonita, só... — ela desvia o olhar para o meu rosto e então os olhos dela encontram o meu. Eu vejo o sorriso no canto dos lábios dela mas logo o rosto dela está encarando a nossa frente mais uma vez — Só me escreva algo feliz.

— E se... Hm, e se eu não estiver feliz?

— Bem, você deveria estar. Você tem uma casa, uma família quase normal e você não vive em um país tão fodido.

Eu tento não sorrir, mas não consigo e deixo uma risada anasalada bem leve escapar.

— Hey, hm, qual é a do cara do carro? — pergunto.

— Jordan? — faço que sim com a cabeça — É complicado. Nós não estamos namorando, na verdade nós vivemos indo e voltando. Agora, por exemplo, a gente tá dando um tempo — ela dá de ombros.

— Dando um tempo? Isso me parece legal. Sei lá... Dar um tempo, um tempo de um ano ou dois — digo — Ter um pouco de perspectiva.

— Aham, claro — Bella sorri — Perspectiva. Sabe, o Jordan é um cara legal.

— Com um péssimo gosto em música.

Bella ri de leve e diz: — Ele vai me levar pra Londres. Eu sou muito nova ainda pra ir sozinha. Ele tá organizando tudo. Ele comprou as passagens, e conseguiu um apartamento. Nós vamos depois que meu portfólio ficar pronto. A coisa é, isso é uma chance realmente boa, então...

— Então você vai continuar com ele? — pergunto, e a minha voz saiu talvez um pouco mais cansada que o normal.

— Você tá com ciúmes? — Bella pergunta e para de caminhar, me forçando a parar também.

— Por que eu estaria? — pergunto.

Mas eu estou.

— Exatamente — ela diz e então se coloca de volta a caminhar, me puxando junto — Hm, você tem que me escrever uma música feliz. 

— Como eu vou fazer isso se eu não estou feliz?

— Seu problema é que você não está feliz sendo triste. Isso é o amor, S/n. Uma tristeza feliz.