Coagida a Casar

Capítulo 2

Aos 18 anos...

— Você precisa entender, ela nunca vai me aceitar! — Gael exclamou, andando até a portaria do condomínio.

Hoje era para ter sido um dos dias mais incríveis da minha vida, pois finalmente eu estaria apresentando meu primeiro amor a minha família, mas a minha mãe como sempre estragou tudo. Ela nunca viveu sem despejar o seu veneno, até quando o meu irmão mais velho arrumou uma namorada no ensino médio, a mesma fez questão de colocar a menina para correr quando Kellan tentou fazer a mesma coisa que fiz hoje. Mamãe não teve piedade quando chamou a menina de interesseira que só queria se dar bem nas custas do meu irmão.

Eles se amam, meu irmão sofreu e quando aceitou o intercambio, nunca mais nos visitou com frequência. Nos falávamos por Skype e o mesmo me dizia não sentir tanta falta dos nossos momentos em família, justamente porque mamãe parecia sempre estragar e envenenar todo o ambiente feliz. Kellan confessou não fazer questão de voltar, mas sabia que seria obrigado por nosso pai, para assumir o seu lugar nos negócios. Mas eu sabia que ele não perdoava a mamãe por ter estragado seu relacionamento no passado e por isso queria viver o mais longe possível dessa casa que continha a presença indesejada dela.

Eu nunca quis pensar desse jeito, pois amo a minha mãe de todo o meu coração, mas tem vezes que ela nos sufoca, como estava fazendo agora em relação ao meu namoro com Gael que estava muito irritado pelo jeito que foi tratado agora.

Era uma situação difícil, papai não tinha pulso para conte-la e isso me causou uma dor enorme no peito. Principalmente no dia de hoje que estávamos todos em volta da grande mesa da sala de jantar, com as melhores pratarias expostas e um jantar especial feito pela Ana, a governanta, que era única que me dava apoio nessa casa.

Ela trabalhava aqui a muitos anos, desde que meu pai comprou a casa e os antigos donos a recomendaram pelo bom serviço. Minha mãe estava gravida do meu irmão e aceitou a funcionaria, pois precisaria de ajuda. Quando ele nasceu e foi crescendo, Ana e minha mãe andaram se estranhando, pelo menos era o que dizia as outras funcionárias.

Nunca procurei saber o motivo, mas depois eu conversaria melhor com Ana, com certeza ela sabia de algo que a minha mãe tinha muita raiva de expor e talvez eu pudesse usar contra ela, só pela irritação que me causou hoje, fazendo com que brigasse com o meu namorado que estava se sentindo muito mal e humilhado por ela.

Ainda continuo parada aqui em frente a portaria tentando conte-lo, pois jamais imaginou passar por uma situação como essa. Hoje é o nosso aniversario de 6 meses e não era para tudo isso ter acontecido.

Deveríamos ter seguido o concelho que minhas amigas me deram, de comemorar bem longe dessa casa, mas achei mesmo que minha família fosse me apoiar e ficar feliz por mim, mas agora vejo que não importa o que eu faça, minha mãe nunca vai estar satisfeita.

— Calma, é o jeito dela, depois passa e tudo vai ficar bem. — Tentei amenizar, mas o mesmo franziu o cenho e ficou me encarando como se eu tivesse falado alguma besteira.

— Você não é burra, sabia muito bem que sua mãe era desse jeito e pelo que citou a poucas horas atrás, exigi uma pessoa de alto nível para te manter com o mesmo padrão da sociedade de vocês. — Despejou, como se aquilo fosse a única coisa que o mesmo tivesse pensado em todo o momento no jantar.

Esse assunto sempre foi um empecilho para nós, segundo Gael, não teria condições de me sustentar quando futuramente nos cassássemos. Nunca iria exigir nada dele e nem o deixaria pelo meu padrão social, mas a arrogância da minha mãe foi tanta que atacou justamente o ponto fraco dele em relação a mim.

Tudo o que eu temia estava acontecendo, minha mãe se metendo na minha vida e fazendo a mesma coisa que fez com Kellan no passado. Meu amor estava sério, esperando uma resposta que eu não conseguia lhe dar, talvez porque eu não quisesse enxergar todo o problema que minha mãe causava e foi por essa razão que aquele relacionamento não daria certo.

Até hoje eu tinha contato com a Bárbara, aquela que sofreu com as mentiras da minha mãe. Fico mal por saber a verdade e não poder falar, pois sou dependente dos meus pais e sei bem o que a minha mãe é capaz de fazer se soubesse que eu contei a verdade.

Obvio que ninguém me contou, eu mesma descobri durante um final de semana na casa de praia dos meus avós paternos. Íamos sempre que podíamos, pois, mamãe gostava de se exibir para os sogros, mostrar que era uma boa mãe e esposa, mesmo a minha avó não gostando muito das atitudes dela conosco. Infelizmente ela precisou se manter quieta para não criar atritos na família, porque vovô tem problemas no coração e ficaria muito triste se soubesse quem a nora era de verdade.

Kellan jamais me perdoaria, justamente por esconder toda a verdade que deveria ser contada para que ele voltasse e se acertasse com o amor da sua vida. Assim como eu queria poder me acertar com o Gael, que continuava parado de braços cruzados esperando a minha resposta.

— Amor, não ligue para o que ela diz, você sabe que lhe amo. — Fui carinhosa, tentando alisar seu rosto, mas o mesmo me afastou, me olhando como com decepção.

— Kiara, eu cansei, foi meses tentando fazer dar certo. Sua mãe não vai mudar, foi por isso que adiou tanto o nosso encontro e eu fui idiota demais para perceber. — Disse, acertando em cheio o meu coração.

— O que você quer dizer com isso? — Perguntei, um pânico surgindo em meu peito, rasgando a minha alma.

— Acabou. Vai ser melhor para nós dois, mesmo que eu te ame e isso me dilacere, mas eu sinto que estou fazendo a coisa certa porque quem ama deixa livre.

Era como se um pedaço meu tivesse sido arrancado bruscamente porque doía mais do que qualquer coisa que minha mãe tivesse feito essa noite. Eu nunca a perdoaria por ter o feito desistir de mim. E nada do que ela possa ter feito essa noite doía mais do que vê-lo dando as costas e indo embora.

Nada era pior do que ficar sem o amor da minha vida...

Beijos e até o próximo capítulo...