Varais da Velhez

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Meu casulo ferve a décadas vezes oito nessa terra vermelha, rica em calcáriozinco, ferrocálciomanganês, que tanta falta me faz até hoje e isso nutriu meu comer, meu alimentar-se durante o estado hibernal à sombra desse ingazeiro.

Ao redor de mim o fio da decomposição se faz em carquilhas & pregas em aglomerado informe de línguas, estômagos, fígados e bexigas, órgãos sensíveis à salinidade corrosiva do tempo.

Temo cada vez mais a aparecência da chuva da ancianidade, veio subterrâneo, rolança de água sob o ingazeiro e os anos à minha frente desmembrando-se, desmembrando-se, desmembrando-se em perigo, em placas tectônicas, em terras devolutas, em leve declive, em iminente deslizar.

Entre o vão das morrinhas e a vida a prumo de porão, morrerei a morte do nada, cru nas costas e nos tetos, sem saber-me naquilo que compõe minha derme em concreto.

E meus varais estirados badalam os sinos feitos de tripas de cimento ligeiramente esverdeado de hosanas em vidro temperado, de cânceres inoxidáveis, de carrancas em alumínio.

E meus barcos fenícios tem marcos decenais na testa, como se fossem amplos cômodos, onde guardei marionetes no precoce ponto de aborto, esquecidas na longilínea muralha das rezas.

Sento-me nos jardins do afinal, sabendo-me nada e procuro cordas e raízes nesse velho tronco de Deus.

Expedição RepúdioOnde histórias criam vida. Descubra agora