Coma Alcoólico

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Acordou com um alarido no lado de fora. Levantou-se e foi até a sala, esgueirando-se, como se as pernas tivessem ficado na cama.

Descobriu um estranho dormindo no tapete da sala.

Talvez, um amante, pensou.

Abriu o armário e alcançou a garrafa.

Dividir com esse bofe? Quiser, vá comprar.

O uísque trouxe saudades do filho. Ele guardava bebida na geladeira. 

Só tem dezoito anos aquele filho-da-puta.

Ele puto, sempre foi puto, mesmo antes de o filho o pegar na cama com outro.

O sujeito na sala não acordou com os cacos da garrafa quebrada.

Merda! Perdi um traço de uísque. Será perigoso lamber o chão? Responde aí, amante de merda.

Os insetos zuniram outro acordar. Lá fora outro lusco-fusco.

Será outro dia? Ou é a mesma tarde? O amante ainda dormia, mas a data no relógio não deixava dúvidas. Dormiam por três dias.

Eu acordo, ele dorme. Ele acorda eu durmo. Mas quem é esse filho-da-puta, afinal? Sujeito estranho, tendo sofá, dorme no chão. Vou mandar esse bofe embora. Três dias aqui não dá.

Foi até a sala, com o estômago se revirando.

Acorda aí, tesudo.

Cutucou a bunda, depois a perna.

Pra que serve um amante em coma alcoólico, dormindo por três dias? Acorda, bofe tesudo, filho da puta. Vem me foder... Não é possível. Só pode estar em coma.

Resgatou uma carteira velha. Esperaí, essa carteira é minha. Esse filho-da-puta além de me foder, me rouba! Vou matá esse desgraçado!

Quem está aí?

Ninguém respondeu.

Só pode ser daí de dentro. Do mato não é. Esse fedor tá vindo daí.

Quebraram a janela da sala. Um vento fresco entrou.

Caralho, que fedor!

Não falei, sabia que era daí. Olha lá o corpo, deitado no tapete.

Deve tá morto uns três dias.

Expedição RepúdioOnde histórias criam vida. Descubra agora