20 - Epílogo

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Eu amo minha família.

As vezes pode parecer grosseria quando falo que amo minha família e me refiro apenas aos meus amigos, mas não me entenda mal. Eu amo meus pais e minha irmã, e eles são minha família também, mas família não se resume a sangue. James, Tristan e Connor são as pessoas que estão próximas a mim todos os dias há anos, muito mais do que meus pais e minha irmã atualmente, e eu não estaria separado deles nem se eu quisesse. Lógico, cada um tem sua privacidade e sua própria vida além da banda, mas ainda assim passamos tanto tempo juntos que somos quase uma pessoa só. Uma vez, Tristan coçou o próprio braço e eu senti o alívio da coceira, depois eu estralei as costas e Connor sentiu. Em seguida, James chutou o armário da cozinha com o dedo mindinho e todos nós gememos de dor. Eles são minha família, e são parte de mim.

E apesar da vida amorosa instável, minha vida é completa com eles, sempre foi. Porém, ultimamente tenho sentido falta de alguma coisa. Ou, melhor dizendo: de alguém. Mas não é naquele sentido de querer alguém pra namorar — a famosa carência — mas naquele sentido de sentir falta de alguém específico, que deveria estar ali. Mas a coisa louca é: eu não sei quem é essa pessoa. Não é minha ex-namorada, nem nenhuma das pessoas que eu me lembro ter conhecido.

É como um vazio que deveria estar ocupado por alguém, mas eu simplesmente não consigo me lembrar quem. É a segunda pior sensação do mundo — perde apenas por ser atropelado por um caminhão num dia chuvoso.

Um toque de celular interrompeu minha reflexão do mês, e logo James atendeu a chamada.

— Alô? Oi, vida. Não, ainda não. Sim, estamos aqui no Brad. Só dando as boas vindas. Oh, agora? Okay, chego aí em vinte minutos. Tá bom, dez minutos. Okay, beijos — foi tudo o que ele disse enquanto observávamos, depois desligou. — Kirstie precisa de ajuda com as meninas. Aparentemente Millie conseguiu colocar uma peça de Lego no nariz. De novo. Vejo vocês no chá da tarde de sábado!

Todos rimos baixo, já que não era primeira vez que a filha mais nova de James fazia isso, então nos despedimos brevemente e ele foi embora. Depois de alguns minutos, Connor foi embora também, prometendo passar aqui mais tarde pra deixar algumas das minhas coisas que ainda estavam na casa dele, e ficamos só eu e Tristan.

— Você não tem que ir também? — Perguntei, bebendo um gole de refrigerante diet. Aparentemente, se deve seguir uma dieta depois que se acorda de um coma de quarto meses.

— Tá me mandando embora, é? — Tristan riu, me cutucando com o bico da bota comprida.

— Se isso significa que você vai tirar seus pés calçados de cima do meu sofá, então sim.

Ele riu, me fazendo sorrir também. Depois de alguns segundos, ele ficou sério de novo.

— Olha, cara — ele começou, se sentando. — Eu sei que você quer ficar sozinho, você sempre curtiu muito sua própria companhia. O único, inclusive — ele alfinetou, e eu ri um pouco, socando o braço dele na brincadeira. — Enfim, você gosta de ficar sozinho, e nós entendemos isso. Mas a gente ficou em cima de você o mês todo, desde que você saiu do hospital, e você não teve nenhum tempo sozinho e por isso eu peço desculpas — ele torceu os lábios levemente. — Mas nós estávamos morrendo de saudades de você, literalmente. A cada dia que passava e você estava mais morto naquele hospital, uma grande parte de nós morria com você — ele abaixou o olhar, e eu pude ver os olhos dele ficarem rosados com a vontade de chorar. Levei minha mão às costas dele. — Então estávamos com você o tempo todo porque queríamos ter certeza de que você estava vivo mesmo. Não parecia real. Nada disso parecia.

Assenti, compreendendo.

— Eu adoro a companhia de vocês — falei baixo e encolhi os ombros. — Não precisa se desculpar por serem bons amigos. E eu precisava desse mês com vocês. Por isso, obrigado.

Just Like Heaven || Brad SimpsonOnde histórias criam vida. Descubra agora