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LORELY

O caminho todo até o quarto foi com Jenna murmurando xingamentos e palavras feias sob seu fôlego enquanto empurrávamos uma maca vazia que roubamos de uma das salas. Ambas usávamos jalecos e crachás virados ao contrário, para esconder a cara de quem quer que fosse na foto de identificação.

— Agradeça a ela, fala que eu tô dizendo obrigado — Brad pediu, acompanhando nossa velocidade.

— Jenna, muito obrigado por ajudar. Estamos agradecidos — falei baixo.

— Não tô fazendo isso por você — ela rosnou baixo, provavelmente imaginando como sua carreira de psicóloga ficaria quando fôssemos pegos.

— Tá fazendo porquê então? — Perguntei, confusa.

— Porque um dia, acredite, eu vou precisar transportar um corpo. E quando esse dia chegar — ela me lançou um olhar flamejante — você vai me ajudar sem dizer uma palavra.

Acenei com a cabeça. Tem razão, esse dia vai chegar, e eu vou estar lá. Se eu não estiver na cadeia.

Entramos no quarto e colocamos a maca ao lado da cama dele, com pressa de movê-lo.

— Oh, meu Deus, Lorely! — Jenna guinchou, de olhos arregalados.

— Ele é bonito, eu sei...

— É, eu sou um gato — Brad deu de ombros e eu revirei os olhos.

— Não é isso! Quero dizer, sim, ele é um gato, mas ele é Brad Simpson! — Jenna parecia estar em choque. — Puta que pariu...

— Ah, é. Ele é famoso, e você gosta da banda dele, verdade...

— Não é só isso, Lore! Ele é o cara que eu ia te apresentar aquele dia que você furou! — Jenna parecia tão chocada que seria até engraçado se as coisas não estivessem começando a fazer sentido.

— Espera, espera, espera. Eu ia conhecer ele?

— E ele não foi, porque sofreu um acidente — ela completou a própria linha de raciocínio, ainda olhando para o corpo de Brad deitado na cama do hospital.

O choque subiu ao meu rosto e eu olhei para Brad, que parecia também finalmente estar entendendo.

— Eu ia conhecer você — ele murmurou, me encarando de volta.

— Será que... — eu levei minha mão até meu pulso, onde o laço adormecido pesava. — Será que é por isso?

Brad olhou para o próprio punho, parecendo meio distante.

— Como é que a Jenna me conhece?

Reproduzi a pergunta para Jenna, que piscou e me olhou pela primeira vez em vários minutos.

— Eu namorei com um dos amigos dele quando estava na faculdade, não sei se você se lembra. James McVey? — Jenna corou levemente, mas manteve o rosto neutro.

Então é daí que seu rosto me parecia familiar. James McVey foi a paixonite mais persistente de Jenna no primeiro ano da faculdade. Ela sumia por dias, depois aparecia com um sorriso arteiro cansado dizendo "nossa, que fome!", e então eu sabia que ela havia estado com James e tudo estava normal de novo. Até que eles terminaram e James apareceu namorando com uma loirinha fofa e logo ela também já estava grávida, e Jenna sofreu por longas duas semanas, até decidir que já tinha sofrido o suficiente.

Mas eu quase não o via na época, porque ele não estava cursando nada na faculdade, eles se conheceram por amigos em comum, então acho que é por isso que não o reconheci de primeira.

Just Like Heaven || Brad SimpsonOnde histórias criam vida. Descubra agora