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LORELY

— Nós temos que falar com a sua família — foi o que saiu da minha boca quando eu saltei da cama e comecei a me vestir. — Quem é o responsável por você?

— O que? Acho que James é quem cuida de tudo. O que aconteceu?

— E por que não seus pais? — perguntei, meio confusa.

— Deve ser por causa da banda, eu sei lá — ele respondeu com um aceno apressado. — O que aconteceu? — Brad repetiu devagar.

Amarrei meu cabelo num rabo de cavalo alto e desajeitado e vesti uma camiseta preta qualquer, depois vesti uma calça jeans larga e coloquei a blusa por dentro, ciente dos olhos confusos de Brad, que me acompanhavam a cada movimento.

Suspirei, parando por alguns segundos e o encarando. Sua expressão confusa sumiu, dando lugar à compreensão quando eu falei:

— Sua família. Eles vão assinar os papéis.

Em poucos minutos, nós estávamos dentro do carro e seguindo para a casa do tal James, amigo e colega de banda de Brad.

— Tá legal, nós precisamos trocar algumas informações. Você sabe algum segredo dele?

— Bem, ele... aqui, vire aqui — Brad apontou o endereço, depois fez careta enquanto pensava, tamborilando os dedos nas coxas. — O nome do meio dele é Daniel, mas quando ele era criança, dizia para todos que era Charles. Por causa do príncipe Charles.

Se eu não estivesse tão nervosa, acho que até riria, mas só assenti com a cabeça.

— Algo mais? — perguntei.

— É... ele é intolerante a lactose? — a afirmação saiu como uma pergunta, e eu grunhi.

— Brad! Se a gente quer convencer o cara, precisamos de pelo menos um segredo de verdade — apertei o volante, acelerando o carro mais um pouco. Rezei silenciosamente para que não houvesse polícia no caminho. — Tem que ser algo que só você saiba, algo muito íntimo e vergonhoso, que possa fazê-lo nos ouvir.

Eu quase pude ouvir o clique na cabeça de Brad quando ele endireitou sua postura e ergueu as sobrancelhas, se lembrando de algo.

— Ele beijou a Jenny, a ex-namorada dele, cinco minutos antes de se casar com a Kirstie — ele liberou a informação de uma vez, totalmente animado por se lembrar de algo que vale a pena. — E na boca!

— Isso sim é uma informação de ouro! — eu me animei, me mexendo no banco. — Acho que vai funcionar.

Tem que funcionar.

Quando chegamos, demorei poucos segundos para perceber que estávamos na mesma rua onde estivemos a algum tempo, quando seguimos o endereço do bloco de notas na gaveta.

— Eu não acredito — murmurei, balançando a cabeça. — Essa é a casa dele? Quatrocentos e vinte e seis?

— Pois é, era um seis. Eu tenho a letra tão feia que nem eu mesmo reconheço. Me julgue. — Brad murmurou, me seguindo pelos degraus da porta.

— Estou julgando, acredite — toquei a campainha. — Enfim, eu achei que, por vocês serem famosos, a casa seria mais protegida. Portões eletrônicos, cães de guarda...

— E arame farpado? — Brad completou, com certa ironia. Revirei os olhos pra ele.

Antes que eu pudesse rebater com alguma resposta espertinha, alguém abriu a porta. Um rapaz alto, de cabelo loiro empurrado num topete, rosto magro e nariz levemente pontudo deu um sorriso incerto, mas simpático. Ele usava uma camiseta simples e calças de moletom, como se não pretendesse sair de casa hoje, e eu podia ver algumas tatuagens em seu pescoço e em seus braços musculosos. Apesar da roupa simples, havia um relógio chique em seu braço. Eu o reconheci imediatamente: era o mesmo cara que eu vi no dia em que viemos na casa da frente, que estava saindo de casa com um violão. Ainda assim, parecia que eu o conhecia de outro lugar.

Just Like Heaven || Brad SimpsonOnde histórias criam vida. Descubra agora