802 palavras
A luz da rua invadia o cômodo pela janela aberta. Pansy estava sentada observando a calmaria da madrugada, sentindo a brisa suave e gélida tocar o seu rosto. As mãos se apoiavam no parapeito da janela enquanto ela deixava escapar um longo suspiro. Mais uma noite de insônia. Mais uma madrugada de pensamentos perdidos e o peito explodindo com a vontade de procurar Hermione. Já haviam se passado três dias desde a última vez que se encontraram e tudo continuava como das outras vezes. Um encontro, risos, compartilhamento de dores, troca de beijos e carinho, mas tudo regado a álcool. Muito álcool. O que dava margem para que os dias seguissem como se nada demais tivesse acontecido.
Às vezes ela se perdia no questionar da ex-grifinória. Duvidava de si mesma e perguntava se realmente era apenas um ato de carência mútua que levava ela e Hermione a esses encontros casuais. Mas não era isso. Ela até achava que não conseguia amar, mas se o que sentisse não era amor, ela realmente não conseguia pensar em nenhum nome mais apropriado.
O tempo não tem meio termo. Uma hora ele se arrasta como em todas as tantas madrugadas insones, mas em outras horas ele apenas te arrasta. E não era isso o que ele tinha feito, então? Arrastado ela e seus sentimentos até Hermione. No começo da aproximação, ainda naquele último ano em Hogwarts, ela achava que tinha se aproximado de Luna, Gina e Hermione apenas por culpa. Foi uma aproximação em que ela esperava pura e simplesmente rejeição. Não era isso que ela merecia, depois de tudo o que fizera em todos os anos anteriores?
Mas não, ela tinha sido surpreendida. Esperou rejeição e encontrou acolhimento. Naquele último ano ela percebeu a importância de ter pessoas que se preocupam e realmente se importam. Viver naquele ambiente tão familiar e, ao mesmo tempo, tão traumático tinha sido muito mais fácil estando naquela pequena rede de apoio que as quatro formaram, despretensiosamente.
Quando continuaram se encontrando mesmo depois da escola, ela percebeu ainda mais que tudo o que vivenciaram foi genuíno. E o tempo se encarregou de mostrar que em relação a Hermione, não era apenas amizade. Na adolescência ela achava que amor verdadeiro era o que sentia por Draco Malfoy, mas depois de sentir tudo o que se percebeu sentindo por Hermione, seu conceito mudou.
Demorou dois anos para que ela tentasse algo. Foi mais uma tentativa esperando rejeição e se surpreendendo. Hermione havia retribuído seu beijo, deixando que ela sentisse pela primeira vez o seu sabor de hortelã favorito. Ao contrário das tantas outras vezes que se seguiram e repetiram o momento, aquele primeiro beijo não tinha ainda sabor de álcool. Não que elas não tivessem bebido muito depois dele, deixando que servisse de desculpa para o que fizeram.
Agora, naquela madrugada, mais uma madrugada qualquer, a mesma coragem que tinha sido impulso para dar o primeiro passo estava dentro de si. Ela pegou um bloco de notas e começou a escrever, rindo.
“Oi, Granger.Eu estava aqui refletindo sobre o tempo, sobre nós e sobre como o tempo me levou pra dentro de você. E me bateu uma coragem. Perdi o medo de falar, aqui, agora, nesse bloco de notas, numa madrugada qualquer.
Você sabia que seu beijo tem gosto de hortelã? Ele combina com meu lado vilã, toda sonserina e má. E eu tô morrendo de saudade dessa combinação perfeita que eu vou chamar de nós duas.
Ainda bem que você é sensata e não acredita em Astrologia, porque se dependesse dela, eu andei pesquisando por aí, a gente nem se esbarraria.
Eu já te disse tantas vezes, mas você não faz questão de me escutar. A guerra ensinou que a gente precisa viver, ser quem somos e se jogar naquilo que deixa a gente bem.É facinho, eu já disse. É só assumir que me ama. E me assumir. Porque eu já assumi isso faz tempo. Vem comigo flutuar pra onde seja proibido.
P. P.”
Já que o sono estava perdido e Pansy tinha certeza que ele não voltaria nem tão cedo, decidiu levar o bilhete pessoalmente até a casa de Hermione. Trocou de roupa e saiu, com o pequeno bloco de notas em mãos, rindo de como o tempo havia mudado a si mesma.Andou por quase uma hora pensando em como ela nunca imaginaria fazer algo assim, correr atrás de alguém dessa forma, falar do que sentia tão abertamente. Mas por Hermione valia a pena. Ela sabia que valia. Pensando nisso — e no gosto de hortelã — ela passou o pequeno papel dobrado por baixo da porta da outra. Se teria uma resposta, ela não sabia. Mas teria paciência e disposição para esperar. Nem que fosse até o próximo mês, em mais um encontro no Três Vassouras.
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Sinergia - Pansmione
FanfictionSinopse: Após a Segunda Guerra Bruxa, algumas coisas mudaram, inclusive o surgimento de novas amizades e a proximidade entre Hermione Granger e Pansy Parkinson. - Essa fanfic é baseada no álbum "Sinergia" (VENVS). Cada capítulo é baseado em uma músi...