Sinergia - Pansmione

Capítulo 1 - Reflexo

1.065 palavras

Hermione Granger olhava no relógio de pulso incontáveis vezes. Quinze minutos de atraso. Ela odiava ter que esperar por alguém. Cogitou a possibilidade de ir embora por mais de uma vez, mas continuou sentada numa mesa em um canto escondido do Três Vassouras, afinal era Pansy Parkinson a pessoa por quem ela esperava. Pansy poderia ter várias qualidades, como ela pode perceber ao longo da aproximação que tiveram após o fim da guerra, mas ser pontual não era nem de longe uma delas.

Quando olhou no relógio outra vez e coçou a cabeça por pura impaciência, viu a garota que esperava se aproximando. Ela trajava uma calça preta e blusa verde musgo, o que fez Hermione sorrir. Mesmo tanto tempo depois de Hogwarts ela ainda conseguia perceber como Pansy gostava de verde e ela própria gostava de vermelho. Os passos da outra eram calmos e, assim que seus olhos se encontraram, um pequeno sorriso se esboçou em seus lábios.

— Eu sei que você está querendo me matar nesse momento, mas eu juro que não me atrasei de propósito — Pansy disse enquanto se aproximava de Hermione para lhe beijar a bochecha, antes de se sentar na cadeira à sua frente.

— Tudo bem. Espanto seria se você chegasse na hora. — Embora houvesse um leve tom de ironia em sua fala, Hermione já nem se lembrava de realmente ter ficado brava pelo atraso. Não depois da fragrância tão conhecida que combinava amêndoa, café e jasmim invadir seu olfato.

Pelo menos uma vez no mês as duas combinavam de se encontrar no Três Vassouras para beberem juntas e jogarem conversa fora ou mesmo conversarem sobre qualquer assunto importante que gostariam de compartilhar entre si. Pansy trabalhava como redatora em uma revista bruxa que começava a se destacar em popularidade. Já Hermione, trabalhava no Ministério da Magia, no Departamento de Execução das Leis da Magia, auxiliando na área dos Serviços Administrativos da Suprema Corte dos Bruxos. Vez ou outra seus empregos eram úteis uma para a outra.

— E então, muitos furos de reportagem nos últimos dias? — Hermione perguntou, numa curiosidade genuína.

— Ainda bem que você perguntou, porque eu tava doida pra te contar. — Pansy começou a falar mais baixo com medo que alguém ouvisse. — Recebemos uma denúncia de uns esquemas bem pesados e ligados à magia negra. Acho que logo vai chegar em vocês do Ministério, mas antes precisamos descolar algumas informações mais sólidas, dados mais relevantes e, principalmente, testemunhas ou provas. Eu juro que não sabia que ser redatora de revista fosse me deixar tão amiga do Harry Potter, com tantas situações que precisamos recorrer aos Aurores em meio à publicação.

A expressão de Hermione passou de espanto ao choque, finalizando na preocupação.

— Você sabe que não precisa procurar furos tão pesados, né? Eu me preocupo que qualquer hora dessas alguém possa simplesmente resolver ir atrás de você, que é quem expõe tanta coisa errada que acontece por aí.

— Relaxa. Não vai dar nada. E, além do mais, eu já fiz tanta coisa ruim nessa vida, durante a adolescência, que desmascarar esses esquemas não é mais do que a minha obrigação.

O olhar de Pansy se tornou sombrio. Hermione, melhor do que ninguém sabia como o passado assombrava a garota, até porque esse mesmo passado assombrava ela mesma. Quando o assunto começou a pesar, começaram a fazer o que faziam de melhor nos últimos tempos: beber para esquecer de tudo por um momento, rir de situações aleatórias de suas vidas e falar da vida dos outros, principalmente de pessoas que fizeram parte de suas vidas na escola.

Diversas doses de firewhiskey depois, quando já estavam bêbadas o suficiente para não fazerem mais questão de se inibir ou deixar de falar e fazer o que bem queriam, as duas pagaram a conta e seguiram pelas ruas de Hogsmeade, como também já era tradição de seus encontros, de certa maneira.

— Você sabe, né? Que tem tanto de mim em você que eu nem sei de onde eu vim, se eu sou ou não sou assim... — Pansy começou a dizer, enquanto caminhavam, entrelaçando sua mão na de Hermione.

— Entra o álcool, sai o seu amor por mim e as frases enigmáticas... — Hermione riu e parou de andar, se virando para a outra.

— Engraçadinha você... Até parece que eu não sei que você me ama também, Granger. É facinho, só assumir e me assumir.

A entonação tinha um quê de ironia, característica de Pansy, embora carregando um tom de brincadeira e provocação, enquanto ela aproximava seu rosto do rosto de Hermione e levava seus dedos até o local da cicatriz de Hermione adquirida na guerra. Visualmente, a cicatriz que causava tantas lembranças ruins não estava ali, mas as duas sabiam o local onde ela deveria estar se não estivesse escondida por magia. Então ela continuou, aos sussurros, quando estava próxima o suficiente para que suas respirações se misturassem e parecessem apenas uma:

— Eu fiz de você tudo o que eu queria, tudo que eu temia, todo o sofrimento que me corroía... Vem tentar me arrumar, tentar me costurar, tentar me resgatar... Você me ensina a ser uma pessoa melhor e a gente aprende o que é amar. As duas... juntas.

As palavras de Pansy faziam um turbilhão de emoções percorrer todo o corpo de Hermione. Depois ela culparia o álcool, não seria a primeira vez que aquilo aconteceria. Então ela apenas se permitiu aproximar ainda mais e se entregar ao momento, deixando as emoções tomarem o controle de suas ações. Em menos de um minuto, Parkinson estava entorpecida pelo hálito de hortelã misturado com firewhiskey de Hermione, ambas perdidas no sabor de um beijo que já se tornara uma dependência e querendo se perder no perfume que as inebriava e as tornava leve.

Para a morena, se perder em Pansy era se sentir bem, era se sentir sendo quem ela realmente era, mas no dia seguinte ela sabia que faria questão de esquecer tudo aquilo e fingir que nada aconteceu. Ela preferia não ir além, porque, talvez, amar nem sempre era sinônimo de se fazer bem. E ela esperava continuar pensando assim no dia seguinte, quando acordasse e encontrasse a cama vazia ao seu lado, na companhia apenas dos lençóis e do travesseiro que teriam em si a mistura dos odores que mais apreciava no mundo.