Capítulo 6 - Contando os dias

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1.140 palavras

Hermione chegou cedo no Departamento de Execução das Leis da Magia na manhã seguinte à noite que tinha tudo para entrar para a lista de melhores momentos da sua vida, mas havia terminado entrando para a lista dos piores momentos, isso sim.

A madrugada correu lenta, apesar de não ter pregado os olhos e parado por um único minuto de descanso. Desde o momento em que Theodore Nott fora levado sob ordem de prisão, todos haviam se mobilizado para tentar entender o que estava acontecendo e buscar alguma providência para reverter a situação — o que, até o momento, parecia fora das possibilidades.

Logo, estar no Ministério naquela manhã, ia muito além de cumprir sua responsabilidade de trabalho. Ela esperava ter algum tipo de informação privilegiada, por estar justamente na Seção de Serviços Administrativos da Suprema Corte dos Bruxos.

Assim que entrou em sua sala e cumprimentou os que estavam lá, viu o Profeta Diário exibir a manchete, seguida da matéria duvidosa em sua capa.

“NA NOITE DE ONTEM, O MAL FOI CORTADO PELA RAIZ. SERIA O INÍCIO DE UMA TENTATIVA DE TRAZER DE VOLTA O PODER DAS TREVAS?”

“O que poderia ser a retomada das Trevas e o princípio do fim da tão custosa paz estabelecida no mundo bruxo, foi na noite de ontem interceptada, com a prisão de dez jovens comprovadamente envolvidos com Você-Sabe-Quem durante o aterrorizante período vivenciado durante a Segunda Guerra Bruxa. Tudo se deu por uma denúncia anônima, através da qual foi expedida uma prisão preventiva em Azkaban enquanto se averiguam as provas. O Ministro da Magia foi procurado, mas não se pronunciou a respeito, bem como outras autoridades solicitadas. Assim que novas informações forem angariadas, teremos a satisfação de repassá-las à nossa população.”

Hermione leu cada palavra com a indignação se acentuando. Ela ainda não sabia quem eram os dez jovens citados, mas entre eles estavam Pansy, Draco e Theo, os quais ela tinha absoluta certeza de que não estavam envolvidos em nenhum esquema das trevas, muito pelo contrário, eles buscavam desmascarar e denunciar qualquer indício de retomada do mal.

— Isso é completamente inconstitucional! — a garota falou alto, deixando a indignação tomar suas ações. — Quem fez a denúncia? Do que era essa denúncia? É completamente grave mandar pessoas muito provavelmente inocentes pra Azkaban enquanto aguardam verificação de provas e um possível julgamento ainda nem previsto!

— Nem fala. Acho que o dia hoje vai ser cheio aqui no nosso departamento. O ministro não mandou nenhum tipo de memorando nem nada sobre esse caso… — O comentário era de um dos colegas de seção de Hermione, que não havia percebido que a indignação ia além do próprio senso de justiça da colega, rompendo as barreiras e a atingindo diretamente em seu emocional.

— Bom dia. Suponho que precisamos conversar, srta. Granger. Tem um momento em particular? — Dessa vez a voz vinha do chefe de sua seção, Sr. Davies. Hermione suspirou aliviada, pois sabia que conseguiria efetivamente começar a tentar fazer algo a partir daquela conversa.

***

As paredes da prisão eram geladas, mas não era apenas isso. Toda a atmosfera do local carregava um aspecto gélido, repulsivo e desagradável. Pelo menos, Pansy tentava se consolar, não havia recebido a visita de nenhum dementador. Ela não sabia nem como explicar toda a situação que estava passando.

Naquela noite, quando ia feliz ao encontro da recente namorada e dos amigos, na companhia de Draco Malfoy, ambos foram abruptamente bloqueados no caminho, recebendo uma ordem de prisão, sem direito a muitos questionamentos e explicações. Parece que alguém havia denunciado algum envolvimento deles com conspirações malignas ou algo do tipo. Ela nem teve tempo de avisar Hermione e aquilo doía dentro de si.

Ela havia passado o tempo todo desde a denominada “prisão preventiva” sozinha e quase que inteiramente acordada, com os pensamentos na outra. Já eram dias decorridos e, quando o corpo era vencido pelo cansaço excessivo, era atordoada com pesadelos. Só de pensar no que poderia ter causado antes que a namorada se desse conta do que estava efetivamente acontecendo, por mais que não fosse sua culpa, sentia uma mistura de ódio e tristeza.

No fundo, ela sabia que era inocente e que aquilo havia sido alguma armação. Hermione tinha avisado inúmeras vezes para ela não viver se metendo com “gente perigosa”, mas era mais forte que ela. A única coisa que esperava nesse momento, era que Hermione e os demais que estavam em liberdade conseguissem provar sua inocência. A partir daí, ela iria atrás de denunciar o triplo, com sangue nos olhos.

Após um longo suspiro, Pansy percebeu que nem era nisso que estava concentrada a sua maior preocupação no momento. Ela queria mesmo era saber quando veria Hermione outra vez, quando teria ela a sua namorada de novo. Daria tudo para saber quando tudo isso iria passar e poderia refletir o olhar da mulher que tanto amava. Ninguém havia avisado previamente que o seu toque não encontraria mais o de Hermione justamente no momento em que tinham avançado seu relacionamento e começado a se entender tão bem.

De repente, como se o Universo ouvisse seus pensamentos profundos e silenciosos, raios tímidos de sol invadiram a pequena janela no topo da cela e tocaram sua pele. Não eram o suficiente para aquecê-la em meio ao clima sórdido do local, mas serviu para ela pensar que nem sempre linhas tortas são agonia. Aqueles raios vindos da janela tocavam sua pele, pela primeira vez em dias, a aquecendo e fazendo lembrar do toque da namorada, que sempre a aquecia, antes mesmo que ambas se descobrissem apaixonadas uma pela outra.

Um sorriso fraco tomou o rosto já pálido e visivelmente mais magro da jovem. No fundo, ela acreditava que sairia dali e poderia finalmente construir uma vida com a pessoa que amava. As palavras saíam fracas, a voz rouca após alguns dias sem emitir som algum:

— Tô contando os dias sem saber quantos dias são… quando a gente vai se encontrar de novo?

***

Os dias transcorreram atarefados para Hermione. Paralelo a todo o seu trabalho, foi atrás de bruxos advogados e leu diversos livros de Direito Bruxo, em busca de auxiliar como pudesse a diminuir o tempo em que os jovens, principalmente Pansy, estavam presos e buscando maneiras de acelerar o julgamento e provar a inocência deles. Teve a ajuda incansável de Harry e seus amigos Aurores, que paralelo a tudo, buscavam desvendar a verdade do ocorrido para encontrar o verdadeiro culpado do esquema denunciado e o que havia por trás dele.

Foi apenas treze dias depois da prisão que ela teve a primeira noite um pouco mais tranquila de sono. Quando os olhos se fecharam vencidos pela exaustão, suas mãos seguravam um pergaminho que trazia uma informação muito esperada nos últimos e inesgotáveis dias: estava marcado o julgamento do caso.

Sinergia - PansmioneOnde histórias criam vida. Descubra agora