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Os dias que se seguiram pareciam mais tristes do que todos os outros em sua curta vida. Hinata faltou à aula por três dias antes de ter coragem de voltar. As ligações e mensagens de Shikamaru eram todas ignoradas. Para ela, o moreno estava morto.

Era egoísmo e covardia de sua parte, ela sabia. Mas jamais conseguiria ser feliz com alguém tão diferente. Não que o Nara não a fizesse feliz, pelo contrário, ao lado dele sempre sorria e se divertia.

No entanto, sempre havia no fundo a insegurança, o medo de que um dia ele percebesse quão inútil ela era, quão monstruoso era seu passado e que era apenas um estorvo.

Seria, então, largada mais uma vez sozinha naquele mundo sombrio. Não precisava passar por isso. Não precisa dar a ele essa lembrança dela. Era melhor que nada tivesse ocorrido.

Suspirou ao pisar na escola naquela manhã e ser encarada por alguns alunos, curiosos sobre as faltas repetidas.

Ignorando todos os olhares, foi direto para a sala, sentando-se ao fundo, longe de todos. Sequer levantou os olhos para ver se ele estava na sala. Mas, no fundo sabia que não, ele teria tentado falar com ela.

Ele exigiria explicações. E ele merecia explicações. Só que não receberia. Não podia dizer a ele. Era melhor que a última lembrança que ele tivesse dela, não tivesse haver com seu passado.

Ouviu alguém coçar a garganta e levantou os olhos, encontrando orbes verdes claríssimos e uma cabeleira loira.

— Hinata, estivemos preocupados.

Sorriu tristemente. Odiava que dissessem aquilo. Ela sabia se cuidar, sempre soube. Parecia algo falso.

— Estou bem, Ino — respondeu, procurando pelos fones em sua mochila.

— Até quando vai se fechar e ignorar o mundo ao seu redor? — a pergunta direta da loira a pegou de surpresa fazendo-a largar a procura e encará-la.

— Do que está falando?

— Três dias sem responder mensagens ou atender o telefone. Hinata, pensou em como ele ficaria?

A Hyuuga não precisava perguntar de quem estavam falando.

— Não é mais só sobre você. Já ouviu falar em responsabilidade afetiva?

— Ino, eu...

— É sério! Não pode simplesmente se abrir e depois empurrar fora quem entrou, como se não tivesse valido nada. Shikamaru se deixou envolver, ele tem direito de saber se você não quiser mais.

— Imagino que ele já deva saber. Ele é esperto — murmurou, sentindo a garganta se fechar.

— Fala sério! O que ele fez de errado? Juro, se ele vacilou eu acabo com ele! — a loira parou e suspirou — Mas se você está apenas fugindo por medo do futuro... reconsidere. A vida é tão rápida e incerta, não tem porque tornar mais difícil.

Hinata engoliu em seco, encarando a loira nos olhos. Queria poder acreditar naquilo, que não precisava tornar as coisas mais difíceis, porém era impossível. Já havia vivido traumas demais para acreditar naquilo.

— Não pretendo tocar no assunto — declarou firme — Falta só uma semana para as aulas acabarem, depois não vamos nos ver mais, nenhum de nós. Acabou.

Ino suspirou e negou com a cabeça, se afastando. Queria poder ajudar, mas sabia que Hinata tinha que querer ser ajudada. E isso ela não queria.

[...]

Shikamaru chegou somente no segundo horário, dando uma breve olhada em direção a Hyuuga antes de se sentar e prestar atenção no professor que falava.

Hinata sabia que assim que o sinal tocasse, anunciando o intervalo, ele viria até ela. E só havia uma opção, fugir.

Aquela era a última semana e as notas saíram ainda naquela tarde, de acordo com Hiruzen, o que significava que era o fim. Depois daquilo não voltaria à escola. Não tinha motivo.

Não mais.

A aula passou de maneira muito rápida na visão da Hyuuga, que tremia de ansiedade. Queria poder desaparecer e não encarar o Nara, que ela sabia estar pronto para segui-la onde fosse.

Ele já havia provado isso dias atrás.

A sirene anunciou o intervalo e correu, entrando no banheiro feminino e ignorando os chamados de Shikamaru. Não sairia dali de dentro até a próxima aula começar e depois iria embora, para sempre.

Aguentou as próximas horas com muita dificuldade, querendo chorar e sumir do mundo. Agradeceu quando o último horário acabou e, temendo ser seguida pelo garoto, voltou ao banheiro.

Esperou quase uma hora depois que a aula acabou, saindo somente ao ter certeza que só havia ela e o zelador na escola. Ninguém mais.

Havia pego seu boletim e descobriu que passou com as maiores notas da sala, perdendo somente para Shikamaru. Sorriu com a lembrança. Esperava por isso. O rapaz era extremamente inteligente.

Sentiu os ombros doendo, tamanha tensão que havia sentido naquele dia. Caminhou até seu armário e o abriu, surpreendendo-se ao encontrar um envelope lá dentro.

Olhou em volta, temerosa e confusa e pegou o papel analisando-o minuciosamente.

"Para Hinata Hyuuga. De Shikamaru Nara"

Estremeceu ao ver a letra torta e feia que pertencia ao Nara. Quando ele havia escrito aquilo? Quais palavras estavam escritas ali? Quais sentimentos teriam sido transcritos?

Guardou o envelope junto de suas coisas e rumou para casa. Precisava chegar o mais rápido possível e se esconder no quarto para ler. Pois sabia que iria chorar em meio as palavras descritas ali.

[...]

"Querida Hinata,

Eu realmente não sei o que aconteceu e se eu te fiz algum mal. Mas quero desde já pedir que me perdoe por qualquer coisa que tenha te magoado. Nunca foi minha intenção.

Você se tornou uma das coisas mais importantes em minha vida, mesmo que em pouco tempo. Arrisco dizer que me apaixonei no momento em que bati os olhos em você pela primeira vez. E sei que não importa o quanto fuja de mim, o sentimento não vai sumir.

É impossível que eu esqueça dos seus belos olhos e do seu sorriso lindo, que ilumina minha alma. Não tem como esquecer da sua risada e da sua voz perfeita quando canta sua música favorita, que passou a ser a minha também.

Hinata, sei que você não costuma se abrir e aceitar que entrem na sua vida, mas nós dois sabemos que o que tivemos foi real. Eu não quero perder aquilo que me faz bem. Não quero te perder. Não importa o quanto eu espere, lutarei por você.

Lutarei para que me aceite e se abra comigo. Para que me dê uma chance, não de ser seu complemento, pois você já é inteira, mas de estar com você e compartilhar cada aprendizado. É disso que se trata amar. É querer crescer.

Não se esqueça de mim. Dos meus vícios, da minha preguiça e do meu cabelo desgrenhado. Mesmo que nunca mais me olhe na rua, e tente sempre fugir, lembre do meu amor por você, assim como eu lembrarei da garota que amo infinitamente.

Para sempre, seu (mesmo que você não aceite) Shikamaru."

E ali, lendo as palavras do Nara, Hinata chorou. Era a primeira vez em sua vida que se sentia amada por alguém que não seus amigos do orfanato. Era a primeira vez que seu coração palpitava ao se lembrar de um rosto.

Amava Shikamaru. Mas ainda assim, não estava pronta, e isso doía.

Shikamaru estava certo, ela precisava ser inteira antes de compartilhar algo com ele ou qualquer um. E isso ela ainda não era. Havia muitos traumas a serem superados antes de ceder.

Ele não precisava esperar por ela. E no fundo, ela sabia que não esperaria, mesmo que ela quisesse muito.

Era hora de seguir em frente.

[...]

DesatinosOnde histórias criam vida. Descubra agora