Desatinos

04

Shikamaru tinha plena certeza que atingiriam a nota máxima naquela apresentação, mas isso não o deixava menos ansioso. Era humano ainda, apesar de ser quase um gênio, nas palavras de Hinata.

Sentiu um frio na barriga ao ouvir seu nome ser chamado pelo professor. Era a hora da apresentação.

— Ei, relaxa, vamos nos sair bem — a voz de Hinata chegou aos seus ouvidos como um sussurro quando já estavam em frente a sala e ele não conseguiu conter um sorriso.

— Sei disso — soprou de volta, fazendo-a rir discretamente.

O professor indicou que a apresentação começasse e Shikamaru iniciou a explicação teórica, tendo a atenção de todos sobre si. Hinata lhe lançava sorrisos sempre que olhava em sua direção e isso o deixava aliviado e seguro.

Quando enfim terminou sua parte, encarou Hinata que respirou fundo e começou a demonstração prática, arrancando exclamações dos demais colegas ao realizar o experimento onde demonstrava o funcionamento da pressão atmosférica.

— E tudo isso foi feito usando apenas um balão, uma vasilha plástica e um pouco de água — Finalizou, trocando um olhar com Shikamaru.

— Perfeito! — Hiruzen anunciou, aplaudindo junto da turma. — Tiraram total!

Hinata sorriu e abraçou Shikamaru, se afastando depressa e corando ao ouvir exclamações da turma. Ajudou a pegar os materiais utilizados e se sentou, ainda sem jeito.

O restante da aula passou de maneira rápida, com as demais duplas apresentando os trabalhos.

Shikamaru lançava olhares para Hinata, mas percebia que ela tentava a todo custo evitá-lo. Coçou a cabeça frustrado e decidiu falar com ela durante o intervalo.

Quando o sinal bateu, o Nara ficou surpreso ao ver a menina sair da sala correndo, sem olhar para trás ou esperá-lo. Ino cutucou o amigo e o mandou segui-la.

— Ela ficou assim depois que se abraçaram, talvez tenha ficado tímida. Vá logo, idiota!

O moreno saiu da sala e procurou a garota no corredor, não a encontrando. Correu até o terraço e martirizou-se ao não vê-la lá. Hinata parecia simplesmente ter evaporado, sem deixar rastros.

Ainda estava no terraço quando olhou para baixo e visualizou os cabelos escuros na calçada, caminhando lentamente. Ela havia fugido da escola.

Sem pensar duas vezes, o moreno desceu, correndo até o muro baixo que havia na quadra do colégio e saltando-o sem dificuldade, seguiu em direção a onde havia visto a garota que dominava seus pensamentos.

Sua cabeça martelava pensamentos a todo segundo. Sua consciência parecia acusá-lo por ter fugido da escola, mas não conseguia se arrepender, a única coisa que queria era ver Hinata.

Não entendia o motivo dela ter fugido assim, de repente, haviam ido tão bem no trabalho e estavam tão felizes. O que poderia ter ocorrido?

Perguntou-se se Ino estava certa e o abraço a tivesse deixado muito envergonhada. Faria sentido, afinal, a garota não era de muitas demonstrações de afeto em público. Nem mesmo quando estavam a sós.

Hinata parecia sempre distante. Como se tivesse medo de se abrir de verdade. O Nara praguejou e aumentou o ritmo do passo, querendo alcançá-lo logo e dizer que poderia sempre contar com ele.

Queria ser alguém importante para Hinata. Um porto seguro. Ele queria tê-la ao seu lado e poder sempre abraçá-la. Não sabia explicar como os sentimentos podiam ser tão fortes, mas sabia que eram.

Estava louco por Hinata e nada mudaria aquilo.

Estancou em uma esquina ao ver Hinata passando por um grande portão de grades escuras e entrar no orfanato da cidade. Engoliu em seco e viu ela ser recebida por um rapaz alto de cabelos platinados.

Aproximou-se devagar e parou do outro lado da rua, sentindo o coração apertar ao notar que havia lágrimas nos olhos claros que sempre ansiava ver. Hinata aceitou o abraço oferecido pelo rapaz ao lado e ficou lá por alguns segundos.

Um ruivo apareceu logo em seguida, o olhar distante e triste e deu um tapinha em seu braço, sorrindo sem alegria.

Sem saber se Hinata gostaria que ficasse ali, observando e invadindo seu espaço, Shikamaru decidiu que seria melhor sair e falar com ela depois, no entanto a morena se virou para ele naquele minuto.

Quando seus olhos se encontraram, Shikamaru sabia que alguma coisa estava muito errada e sentiu um nó se formar em sua garganta.

O sorriso que Hinata lhe lançou era triste, quase uma despedida silenciosa e não demorou muito para que ela se virasse, ignorando-o por completo, e adentrasse o grande casarão, acompanhado de seus dois amigos.

Shikamaru mordeu os lábios frustrado, desejando poder correr até lá e perguntar o que ela tinha. Mas sabia que o melhor era esperar que ela se sentisse à vontade para falar com ele.

Por esse motivo se virou, caminhando de volta em direção a escola. Disposto a pedir conselhos de Ino e Chouji, sobre o que poderia ter ocorrido.

Sequer sabia que a Hyuuga era órfã, e isso o pegou de surpresa, temia que tivesse feito algo que a tivesse ofendido ou magoado. Tantas coisas passavam pela cabeça do Nara que ele nem sabia mais o que sentir.

Tinha criado algo real e forte com Hinata e não podia perder aquilo. Faria de tudo para que ela se sentisse bem e o quisesse por perto como ele a queria. Não desistiria daquela garota.

Ela era a única coisa que o deixava animado e fazia-o se sentir vivo, forte e disposto. Não apenas um preguiçoso.

Não, ele não perderia aquilo.

Foi com um sorriso que adentrou o colégio, disposto a anotar toda matéria que a Hyuuga iria perder para entregá-la no dia seguinte, onde sabia que as coisas voltariam ao estado normal.

Shikamaru engoliu em seco quando observou a cadeira vazia da garota. Por mais esperançoso que tivesse, algo em seu íntimo sabia que aquilo não terminaria bem.

[...]