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Quando Hinata abraçou Shikamaru na frente de toda sala, esquecendo-se que haviam mais pessoas ali, presa em um mundo perfeito onde só havia ela e o Nara, percebeu quão ferrada estava.

Desde o primeiro dia naquela escola, só queria passar despercebida e acabar logo com aquilo. Sempre odiou o ensino médio e a forma como adolescentes sempre se importavam demais com o que os outros pensavam.

Isso até se aproximar de Shikamaru.

Foi inevitável criar afinidade com o rapaz, que sempre fazia de tudo para deixá-la confortável. Ela não precisava ser um gênio para notar como ele a olhava desde o primeiro dia.

E isso foi o que fez ela mudar toda sua forma de pensar.

Pela primeira vez em sua vida um garoto bonito a olhava sem deboche ou ironia. Apenas a enxergava como ela era. Hinata desejou que ele se aproximasse e quando isso aconteceu foi como viver um romance adolescente.

Sorrisos bobos, conversas tranquilas, olhares discretos, era tudo perfeito. Perfeito demais para a vida de Hinata.

No fundo ela sabia que não deveria ter entrado naquela, não deveria ter aberto o coração. Mas como mandar nos sentimentos? Como impedir que os batimentos cardíacos fossem a altura quando o Nara lhe sorria?

Mas eles eram de mundos diferentes. Eles tinham passados diferentes e destinos que jamais se cruzariam. Ela não deveria ter deixado que ele entrasse em sua vida.

Ou melhor, ela não devia ter entrado na dele...

Suspirando, a garota de cabelos escuros observou a rua pela grande janela do orfanato, notando o pouco movimento naquela tarde. Não costumava fugir da escola, mas aquele havia sido um dia atípico.

Ver a família Nara e se sentir naquele mundo fez sua mente se sentir limpa e feliz. Mas aquilo só durou até o momento da apresentação, onde soube que não haveriam mais lanches com Shikamaru, Shikaku e a esposa.

Era uma ilusão.

— O garoto parece ter ficado chateado — a voz de Hidan, seu melhor amigo, a despertou do transe. — Podia ter nos apresentado.

— Para que? Para ele ver que somos diferentes? Acho que doeria mais...

— Hina, os mundos podem colidir de vez em quando, não importam quão distantes estejam.

— De onde tirou isso? — perguntou se virando para o amigo de cabelos claríssimos e olhar sombrio.

— Acabei de criar. Eu seria um bom escritor.

— Seria sim — sorriu. — Mas esse tipo de coisa só acontece em histórias. Para nós não existe muita coisa depois que sairmos daqui.

— Somos órfãos, não monstros.

— Somos rebeldes sem causa, abandonados pelos próprios pais ou deixados para trás nesse mundo sombrio. É parecido.

— Não quero viver deixando o meu passado ditar meu futuro. — declarou sério.

— Então não compreendeu o mundo que vivemos ainda.

O platinado, que há anos nutria uma paixão pela Hyuuga e que era seu melhor amigo desde o início de suas vidas, sorriu triste e se aproximou da menor, abraçando-a e depositando um beijo em sua cabeça.

— Um dia vamos olhar para trás e vou esfregar na sua cara que estava errada.

— Eu torço por isso, Hidan, torço mesmo.

[...]

Hinata cobria os ouvidos enquanto seus pais gritavam no banco da frente. Mesmo daquela forma e de olhos fechados, conseguia ouvir as palavras rudes sendo lançadas pelos dois, junto do choro excessivo de sua irmã mais nova.

Hanabi se debatia na cadeirinha ao seu lado, sendo ignorada pelos progenitores, que não se importavam com nada.

— Você é um rude! Nunca devia ter me casado com você!

— Não poderia ter concordado mais! Só me irrita. Até nas viagens em família!

— Chama isso de viagem em família, seu desgraçado? Você não cala a boca nem para dirigir!

— Você queria que eu ficasse apenas ouvindo essas merdas que você fala, né?

— Por favor... parem! — Hinata implorou, as lágrimas descendo pelas bochechas redondas e vermelhas.

— E você, seu estorvo — o homem de olhos claros e assustadores se virou para trás — cresce e vê se deixa de ser uma completa...

CRASH

O carro rodopiou pela avenida após colidir com uma van. Hinata gritou de dor quando sentiu o braço sendo prensado contra o corpo. E no instante seguinte apagou.

[...]

Quando pisou no orfanato pela primeira vez, foi recebida por uma cabeleira clara.

— Olá, eu sou Hidan e estou aqui desde que nasci. Meus pais eram jovens inconsequentes que não queriam um bebê.

— Hidan! — uma mulher de cabelos escuros exclamou, coçando a garganta sem jeito — Hinata, querida, todos estão aqui por um motivo, mas somos família agora.

— Eu não disse que não. Prefiro mil vezes vocês do que aqueles que me largaram — o menino de mais ou menos oito anos falou sério. — Mas e você qual a história trágica?

— Eu não quero falar disso — murmurou, sentindo lágrimas se formando em seus olhos.

— Tá legal — deu de ombros — Vem, vamos conhecer o resto de sua família.

Hinata, com seus seis anos na época, acompanhou o jovem e se deixou ser apresentada a todos aqueles que de fato, viriam a se tornar sua família.

Tendo perdido os pais e a irmã no acidente, além de ter ganhado uma grande cicatriz no ombro, ela não tinha opção a não ser aceitar aqueles estranhos como seus irmãos.

E mesmo anos depois, seriam sempre eles.

[...]

— Hinata.

— Oi, Konan — sorriu, dando espaço para a amiga se sentar ao seu lado.

— Hidan me contou sobre o garoto...

— Ele é um maldito fofoqueiro, não?

— Você não precisa ter medo de deixar pessoas entrarem na sua vida. Você nos deixou entrar, não?

— Somente porque compartilhamos a mesma dor. Ele jamais me entenderia. Somos diferentes.

— Você está colocando um empecilho e sabe disso. Tem que parar de fugir de tudo o tempo todo.

A Hyuuga suspirou e negou com a cabeça. Sabia que Konan estava certa e que já havia se passado tempo demais, mas ainda assim, as palavras que sempre corriam sua mente a impediam de fazer algo.

"Seu estorvo"

Era só o que era. Era só o que sempre foi. Seus pais discutiam por sua causa e por esse mesmo motivo estavam mortos.

Seus amigos de infância a aceitaram por serem tão indesejados quanto ela na sociedade e pela família. Mas Shikamaru, Ino, Chouji, qualquer um naquele escola, por mais educado que fosse com ela, a veria somente como estorvo.

Sem pais, sem educação, sem um futuro promissor. Somente uma completa inútil.

Não, Shikamaru não merecia alguém assim em sua vida.

Por mais que olhar para trás e vê-lo lá tenha lhe dado esperança, fez o certo ao se virar e decidir ignorá-lo.

Era o melhor para ele. E para ela, que não aguentaria sofrer ao ser abandonada por ele.

Era melhor assim. Longe um do outro.

Afinal, qualquer coisa entre eles seria um completo desatino.

[...]

DesatinosOnde histórias criam vida. Descubra agora