Capítulo 9 - Abortar missão

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Chenle enxugou seus cabelos com uma toalha. Não devia ter lavado seus fios naquela manhã, pois já estava atrasado demais para usar o secador. Abriu a gaveta de roupas — também conhecida como sua particular coleção de camisas pretas — e enfrentou a difícil missão de encontrar uma que não possuísse estampa de banda. Agarrou a peça rara e parou seus pés descalços em frente ao espelho. Encarou seu tronco nu.

Algo estava destacado em sua pele clara. Mesmo se embaçasse os olhos, seria possível notar uma mancha arroxeada no final de seu pescoço, rente à clavícula.

Num segundo, voltou a sentir aquela bagunça que já havia se tornado sua companheira. Chenle ainda odiava quando seu coração ficava acelerado, quando sua respiração se tornava meio boba, quando as lembranças inundavam sua cabeça feito uma enchente. Mas nessa altura do campeonato, ele já havia entendido que aquilo não era interrompido só pelo simples querer.

Ergueu seus dedos devagar. Tocou a marca com delicadeza, fechou seus olhos. Arrastou sua digital levemente, desejando ser capaz de reproduzir a sensação da boca quente de Jisung em seu corpo. Não havia como esquecer os beijos, os toques, o encaixe apertado de seus corpos, quando estava sentado sob dele.

Chenle estava totalmente arrepiado...

E atrasado para a aula.

Rapidamente, balançou a cabeça. Vestiu seu coturno, sua camisa preta e uma japona necessária para um dia tão frio.

Assim como aquela maldita marca roxa, o sentimento em seu peito também não desaparecia.

Só havia um pensamento na cabeça enquanto pegava sua mochila, enquanto caminhava apressado até o ponto de ônibus: tudo o que podia fazer era repetir as memórias daquele dia, porque nada do tipo ia acontecer de novo depois das coisas covardes que havia dito para Jisung no corredor.

— Zhong Chenle... — Murmurou para si mesmo. O ônibus estava encostando no meio-fio. — Você é um cuzão.

A tempestade não o esperou subir no veículo para desabar sob a cidade. Chovia bastante ultimamente, um ótimo pretexto para muitos alunos ficarem em casa. Ao menos, o transporte ficava mais vazio.

Pingando gotas de chuva, Chenle passou pela catraca e avistou seus amigos no mesmo lugar de sempre — fazendo barulho no fundo do corredor, fedendo cachaça às 6 da manhã.

Park Jisung também estava no mesmo lugar de sempre — encostado na janela, olhando para as ruas, imerso em seja lá o que estivesse tocando de seus fones de ouvido. Ryujin havia faltado. O assento ao seu lado estava vazio.

Num impulso, motivado pelo solo de guitarra do Dimebag Darrell no seu som favorito do Pantera, sentou-se ao lado dele.

Nervoso, fez um gesto com seu fone de ouvido esquerdo para captar a atenção de Jisung.

Confuso, Jisung pausou seu One Ok Rock e tirou os próprios fones. Aceitou o item nas mãos de Chenle com um pouco de receio.

Colocou no ouvido. Estavam mesmo dividindo fone, mesmo que escutassem coisas totalmente opostas.

Chenle trocou de música. O visor do celular, apoiado no colo dele, exibia uma faixa chamada Cochise.

A intro feita de sons distorcidos aos poucos deu início à um riff de guitarra e uma bateria pausada.

— Isso é... Audioslave. Um dos meus álbuns favoritos. — Chenle comentou, quando o vocal agudo e rouco já havia se juntado à canção. Jisung não parecia ligar muito e isso ligou o botão do desespero dentro do mais velho.

Houve silêncio e constrangimento de ambas as partes. A música prosseguiu.

Jisung tentou conter, mas a sua curiosidade era um pouco maior: pelo canto do olho, conseguia ver Chenle cantarolar baixinho o refrão da música. Logo, isso já tinha ganho toda sua atenção.

LET THE KIDS STAY RAW!Onde histórias criam vida. Descubra agora