Capítulo 1 - Vulcões

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Jisung acomodou sua mochila no próprio colo enquanto se sentava. Era mais uma segunda feira.

Assumiu a posição de todas as manhãs: cabeça encostada na janela, pernas dobradas no assento de um jeito levemente desconfortável, devido ao inegável fato de que ônibus escolares não haviam sido projetados para adolescentes de 1,80m de altura. Sua barriga estava agradada com o café da manhã que havia cozinhado para si mesmo. Além disso, aquele era um dos poucos dias em que havia acordado satisfeito com a própria aparência, pois a franja cumprida rente aos olhos estava em harmonia com seu lápis de olho vermelho.

Apenas uma coisa impedia que aquela fosse uma boa manhã. Uma coisinha cem por cento crucial.

A falta de seus fones de ouvido.

Provavelmente, havia os esquecido em cima da mesa durante a correria para não perder o maldito ônibus.

Aquilo era péssimo. Não só porque começar o dia ouvindo Fall Out Boy era como um ritual na vida dele, mas principalmente, porque ninguém deveria passar pela experiência infernal de ouvir adolescentes gritando às 6h30 da manhã.

Respirou fundo e resmungou baixinho. Com sorte, a garota que estava sentada ao seu lado não teria ouvido ele choramingar.

O tumulto de vozes era tanto que ele mal conseguia entender as palavras. No entanto, identificar uma voz em específico era uma tarefa ridiculamente simples. Zhong Chenle — e sua fiel turma de baderneiros, que não eram tão escandalosos feito ele — parecia querer que todos no ônibus ouvissem a conversa que mantinha com seus amigos, mesmo que estivessem ocupando os últimos assentos do veículo.

Jisung revirou os olhos. Não importava o ambiente, Chenle sempre agia daquele mesmo jeito. Rindo alto, fazendo piadas problemáticas demais para arrancar risadas, ameaçando espancar qualquer um que interrompesse sua vibe. Mas ninguém nunca tinha visto ele fazer mal à uma mosquinha.

Park realmente tentou fechar os olhos e ignorá-lo pelo resto do caminho. Mas Chenle fez questão de fazer com que isso fosse impossível, quando seus sapatos tratorados marcharam pelo ônibus em movimento até a parte da frente do veículo. As correntes em seu pescoço e quadril faziam tanto barulho quanto os sprays de tinta que carregava dentro da mochila.

Com a mão direita, ele se segurou nas barras da cabine do motorista. A esquerda se ergueu para a multidão.

— Atenção, atenção! — Gritou. Automático, Jisung negou com a cabeça e se encolheu no assento, consumido pela vergonha alheia. Zhong Chenle desconhecia totalmente a noção e o bom senso. — Um minutinho de sua atenção, queridos estudantes!

— Chenle, cala a boca! — Jisung também conhecia aquela voz, que veio lá dos fundos. Era Huang Renjun, membro do grêmio estudantil. Cuidava de promover as atividades culturais no colégio. Simpático e inteligente daquele jeito, Jisung não conseguia entender como diabos ele andava com alguém feito Chenle.

O tumulto de vozes que tomava conta do ônibus havia desaparecido. Agora, só restavam as vaias irônicas proferidas pelos amigos dele e as risadinhas curiosas dos outros alunos.

Fingir que nada daquilo estava acontecendo não era mais uma opção. Os olhos do ônibus inteiro estavam voltados para Zhong Chenle. Incluindo os de Park Jisung.

— Não, não me calarei! — Ele retrucou. Uma bolinha de papel foi arremessada em sua direção por outro de seus amigos, Na Jaemin. Chenle limpou a garganta e fez a melhor voz de discurso que conseguiu. — Essa alma jovem que vos fala tem algo a dizer. Uma notícia que pode mudar seu dia! Botar um sorriso no seu rosto, igual este aqui que trago no meu.

— São seis da manhã, Chenle! Seis da manhã! — Renjun o interrompeu outra vez. Algumas pessoas manifestaram indignação junto com ele, outras apenas riram. E Chenle ignorou.

— Nessa manhã de segunda, eu gostaria de anunciar para todos aqui presentes, caso ainda não tenham entrado na internet hoje. — Fez uma pausa dramática. — John Frusciante está de volta ao Red Hot Chilli Peppers! — Aplausos e urros de alegria se misturaram à xingamentos e súplicas para que ele calasse a boca. — O que foi, seus ingratos? O ano de vocês acaba de ser salvo!

Enquanto ele se divertia respondendo as ofensas e provocações, Jisung pôde enxergar que a jaqueta que ele vestia tinha uma enorme versão do logo do Red Hot feito à mão, na parte das costas. Sentiu vontade de revirar os olhos outra vez. A falta de seus fones de ouvido o sufocava cada vez mais.

Então, uma alma iluminada gritou à plenos pulmões exatamente o que Jisung diria, se não fosse tão introvertido.

— O ano já havia sido salvo quando o My Chemical Romance anunciou retorno!

Jisung não conteve a risada satisfeita. Até se levantou um pouquinho no assento, procurando a pessoa responsável por aquela maravilha. Se a encontrasse, faria questão de gritar que admirava sua coragem e seu bom gosto.

Só encontrou a pessoa — Lee Jeno, um dos astros do time de basquete — porque Chenle atravessou o ônibus para dar sua resposta mais baixa e desnecessária.

— Eu não ligo pra esses sons de viadinho!

Jisung estalou a língua. Sentiu seu sangue ferver.

Zhong Chenle podia ter uma carinha bonita, mas era a personalidade insuportável que fazia Jisung perder a cabeça.

Por isso, mandou a própria timidez para a casa do caralho e gritou:

— Senta essa bunda logo, imbecil!

LET THE KIDS STAY RAW!Onde histórias criam vida. Descubra agora