Capitulo 13 - Culpa minha?

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Dois dias depois, fomos para o Japão. Eu nunca tinha visto minha tia tão triste como naquele dia.

No aeroporto encontramos meu pai. Sua expressão era de quem não dormia e comia a dias. Ele me abraçou e senti toda a tristeza que ela estava sentindo naquele momento. Mas, não entendia o porquê. Fomos para a agência em que minha mãe trabalhava. Tudo parecia estar uma confusão.

Eu não estava entendendo o que estava acontecendo. Eu não via a minha mãe em lugar nenhum. Algumas horas depois, eu estava sozinha sentada numa cadeira dentro de uma sala. Na minha cabeça não passava nada, nem parecia que eu existia.. sentia um vazio no meu coração. Olhei para a porta e me levantei. Fui em direção dela e sai do pequeno cômodo.
Comecei a andar pelo corredor vazio sem saber para onde estava indo. Até que ouvi a voz abafada do meu pai.

- A S/n vai morar comigo! Lá não é seguro para ela!

- Eu não vou permitir Aizawa! A Akira me falou.. ela já havia dito.. mas eu não acreditei - minha Tia diz chorando.

- É o meu direito cuidar e proteger a minha filha, ela precisa de mim nesse momento!

- Você não vê do que eles são capazes de fazer pela S/n??? Eles a mataram. Mataram minha irmã!

- Eu sei disso droga! Eu sei! - meu pai diz em voz alta em meio a lágrimas.

- Eu vou levar a Sn de volta para a Coreia. Lá ela vai poder crescer e viver segura.

Meu pai a olha sem dizer uma palavra sequer. Meu corpo todo estremece. Temo pelo pior.

- Papai.. - digo entrando na sala - a... mamãe.. morreu?

Naquele momento, tudo desapareceu. Era como se o mundo inteiro tivesse acabado bem na minha frente. As coisas à minha volta tinham ficado sem cor e silenciosas. Ninguém precisou me dizer uma palavra do que tinha de fato acontecido. Foi extremamente doloroso ter que lidar com isso tão de repente.

Fiquei duas semanas no Japão e não consegui me despedir do meu pai no dia do embarque de volta à Coreia. Eu estava muito abalada com tudo, mas não conseguia expressar o que eu estava sentindo, então eu reprimi todo aquele sofrimento e tranquei a sete chaves no fundo do meu coração. E seis meses depois do ocorrido voltei a frequentar a escola

Até que....

- Oi, fiquei sabendo que sua mãe faleceu.. eu sinto muito por você - Miya uma colega de turma diz se aproximando da minha mesa.

- Obrigada... - respondo cabisbaixa.

- Sabe.. ouvi dizerem por aí que sua mãe era uma heroína no Japão. Era verdade? - continua ela.

- Ei S/n, é verdade também que seus pais estavam separados? - um menino pergunta.

- Ouvi dizer que seu pai ainda tá no Japão.. Você mora com quem agora?

Meus colegas de turma começaram a me encher de perguntas. Olhei Miya e ela me encarava com um sorriso maldoso.

- Eu acho que você teve uma parcela de culpa
s/n - Miya sussurra no meu ouvido - ouvi dizer que ela passava a maior parte do tempo gastando as energias dela tentando te proteger de uma coisa que não existia e que ela já estava louca.

- Isso é mentira! - digo alto batendo a palma da mão na mesa.

- E sabe o que mais? - continua ela em tom soberbo - Me disseram também que você é perigosa e que sua mãe teve que morrer por sua causa!

- Não é verdade.. não é!

- Se não é verdade, então por que seus pais estavam separados?

- É, conta ai S/n.

a turma inteira começou a gritar, pondo pilha para que eu falasse.

Olhei em volta e todos estavam me olhando com julgamento. Eu não sabia que crianças de sete e oito anos poderiam ser tão cruéis nesse nível.

- Conta vai! - Miya diz me olhando com sarcasmo.

Eu estava paralisada. Aquela sensação de inexistência veio à tona novamente. Comecei sentir meus batimentos cardíacos aumentarem, minhas mãos tremerem e um calor enorme me consumir por dentro. Fiquei cega de ódio. Nunca havia me sentido assim antes. Miya era a única pessoa que eu consegui enxergar naquele momento.

– Não vai responder S/n? - ela continua me provocando.

Dentro de mim, todos os sentimentos ruins que eu reprimi e lutei para controlar se forçaram a sair de uma vez só. Dei um passo à frente e esse simples passo foi o suficiente para fazer com que o chão debaixo dos meus pés se despedaçasse. De repente, num piscar de olhos, a sala de aula inteira virou escombros. Havia um enorme buraco na parede onde ficavam as janelas, as mesas e cadeiras estavam quebradas e partes delas estavam flutuando diante dos meus olhos.

Parecia que havia acontecido uma grande explosão. Eu estava cega. Quando voltei ao sentido eu estava levitando, olhando diretamente para Miya que estava sendo praticamente esmagada por uma parte dos destroços de concreto da parede.

– S/N!! O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO? - gritou uma das minhas professoras.

– S/n, se acalma! Você vai acabar matando sua colega!!

Eu não estava conseguindo controlar meus sentimentos e a única coisa que eu queria era que o mundo se acabasse ali mesmo.

– Chamem a pessoa responsável por ela!! Rápido!!! - gritou a outra professora.

Uma das professoras que observava de longe, se aproximou lentamente de mim, me puxou e me pôs no chão me abraçando bem forte. Senti uma dor enorme no peito. Meu nariz começou a sangrar e eu simplesmente desmaiei. Não me recordo de nada mais depois disso.

Acordei horas depois numa ambulância que estava estacionado em frente à escola. Havia muitas mães, alguns dos meus colegas de classe estavam feridos levemente, mas as mães estavam furiosas. Eu acordei atordoada, me sentei na maca e vi o caos que eu havia causado. Avistei de longe minha tia conversando com as professoras e quatro policiais.

Enquanto eu olhava, uma mulher de cabelos longos e pretos, bem alta e magra se aproximou de mim e desferiu um tapa no meu rosto. Com o impacto do tapa meu rosto virou, mas não consegui sentir a dor.

– Se acontecer qualquer coisa com a minha filha, eu juro que mato você! - disse a mulher.

Eu não tive reação. Fiquei olhando nos olhos dela, enquanto minha tia se aproximava desesperada por ter presenciado aquela cena.
Comecei a ouvir tudo distante, eu estava afundando nos meus pensamentos. O que eu fiz para merecer isso?

No mesmo dia minha tia me tirou da escola, pagou indenização para os envolvidos e tive que prestar depoimentos diversas vezes.
Parecia que eu estava vivendo no inferno. Minha tia vendeu a casa que era da minha mãe e fomos morar mais no interior. Eu não conseguia mais sair na rua, então comecei a estudar em casa.

Um ano depois, ouvi minha tia falando com uma moça que trabalhava numa loja de conveniência que era perto da minha antiga escola. Ouvi ela dizer que a escola tinha sido reformada e que no mesmo ano do ocorrido voltou a funcionar normalmente, mas Miya havia ficado com sequelas do acidente.
Ouvi também minha tia dizer para a moça que a mãe de Miya tinha a processado diversas vezes e que todas as vezes ela tinha arcado com as consequências e as despesas dos processos.

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