Capítulo 1: Encontrando com velho amigos

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Dia 1º de março de 2022, 8:53 da manhã. Naquele dia, eu estava dentro do transporte público, que estranhamente estava vazio. O clima naquela manhã era um pouco gelado e, de certo modo, até bem confortável.

Meus dedos estavam completamente frios enquanto eu segurava a barra de ferro do ônibus. Foram horas intermináveis esperando o ônibus chegar na cidade. Após uma tediosa espera, ele finalmente parou e chegamos ao destino.

Agarrei minha mala, colocada sobre o banco ao lado, e caminhei até a porta do transporte, movendo meus dedos para esquentá-los. Desci degrau a degrau e, ao me dirigir para a casa do meu velho amigo Nicolas, observei como aquela cidade era bonita e até aconchegante. Pessoas comuns andavam pelas ruas, crianças indo estudar. Isso me lembrava minha infância, só que em menor escala.

Horas mais tarde, finalmente cheguei à casa do meu amigo Nicolas. Quando ele abriu a porta, antes de me dar um abraço, ele estava com um copo cheio de leite com Nescau. Eu vi aquilo e abri um sorriso irônico, lembrando do seu apelido tão tosco e fofo ao mesmo tempo. Seu abraço amigável finalmente me envolveu.

Seus braços eram magros, mas muito reconfortantes. Ele me segurou pelos ombros, percorreu toda a minha estrutura corporal com os olhos e, abrindo um enorme sorriso, perguntou:

- Então, Karenzita, o que você faz aqui?

Eu segurei minha mala com força e, mordendo os lábios ligeiramente, respondi com firmeza:

- Bom, eu estou aqui porque vou terminar minha faculdade.

No curto instante em que fiz uma pausa, Nicolas me abraçou com força e me girou, dizendo "Isso, isso, isso".

Ao me soltar, senti-me zonza. Tudo rodopiava com violência. Precisei me apoiar em Nicolas para que minha tontura parasse. Entrei na casa, sentei-me no sofá, deixando a mala no meio da sala, e perguntei:

- Por que tanta alegria com a minha vinda para cá?

Ele deu uma forte inspiração, com alegria evidente no som emitido e em seu semblante. A felicidade era nítida.

- Bom, além de que vamos estudar juntos, tem muita gente da velha guarda aqui, inclusive... o Handi.

Ao escutar esse apelido, virei lentamente meu olhar para Nicolas, que se assustou ao ver meus olhos arregalados e minha expressão nervosa.

- Você tá de brincadeira, né?

Ele negou com a cabeça e comentou:

- Ele está mais gato que antes. Inclusive, não sei por que tanta surpresa.

Levei minhas mãos ao rosto e sussurrei de modo audível para meu colega:

- Quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece.

Nescau deu uma leve cotovelada no meu braço enquanto dizia que seria bom eu ver ele novamente, o homem da voz sedutora. Esse era o apelido galante que eu havia dado ao Gustavo, vulgo Handou.

Balancei minha cabeça ao lembrar das barreiras que Gustavo conseguia quebrar, com sua voz provocante e seu jeito ousado. Para minha sorte, Nicolas colocou a palma de sua mão em meu ombro e disse:

- Já vi que você está bem afetada com isso. Então, por que você não vai ao mercado comprar leite para mim enquanto eu arrumo seu quarto?

Dando um leve suspiro, aceitei.

Caminhando até o mercado, recordei-me de um momento interessante entre mim e Handou. Na ocasião, estávamos jogando, e quando eu estava ganhando, ele decidiu usar seu dom vocal e sussurrou no meu ouvido: "Quem é minha boa garota?". Na época, acabei perdendo e ele ganhando. Isso me deixou brava com ele por alguns segundos. Foi nesse dia que percebi que sua voz sedutora era meu calcanhar de Aquiles.

Chegando ao mercado, fui até a seção de laticínios. Enquanto fazia minha escolha, ouvi uma voz masculina dizer:

- Ora, ora, não esperava te ver aqui.

Peguei o leite e olhei para a pessoa que se referia a mim. Era um garoto alto e moreno, o Nathan, ou Near. Agarrando a caixa de leite, fui até ele e perguntei como ele estava.

O rapaz apenas sorriu e disse que estava bem. Conversamos rapidamente por alguns minutos e, ao término do papo, ele me entregou um papelzinho e disse:

- Vai ter uma festa de boas-vindas para você na praia. Vai lá, acho que o pessoal vai gostar muito de te ver.

Near então se virou e foi embora, enquanto a pergunta martelava em minha cabeça:

- Quem é que faria uma festa de boas-vindas para mim em um período de tempo tão curto?

A resposta surgiu quando meu telefone tocou, mostrando o nome Nescau.

Voltei para casa a toda velocidade. Quando cheguei lá, Nicolas jogou um vestido em mim e disse:

- Vai, se veste. Você é a anfitriã e tem que estar bonita.

Eu tirei o vestido da cara e, olhando para Nicolas, disse:

- Quando foi que você teve essa ideia?

Ele jogou perfume no corpo e respondeu de modo irônico:

- Como eu não tinha nada para fazer depois de organizar seu quarto, uma festa na praia é uma boa. Agora, vai se vestir.

Fiquei relutante, mas no fim, vesti algo: uma camisa regata, um shorts bem simples, havaianas azuis e fiz uma trança bem grande. Ao fim da arrumação, partimos para a praia.

Todos ali, quando me viram, vieram me cumprimentar. Desde o trio de irmãs, Letícia, Natália e Bia, até mesmo Lívia, uma antiga amiga minha e rival em outros tempos.

Os meninos também estavam lá. Augusto, vulgo Akira, estava lá. Ele era, como sempre, bem amável, porém brincalhão até demais. Ao longe, vi Natália, vulgo Naah, dar uma bronca em Jeff, seu namorado, que muitos chamavam de Jack.

Após a troca de amenidades, começamos a dançar. Uma música alta, com um repertório enorme, ia de eletrônico tipo Alok até BTS. A festa estava ótima para mim e minha preocupação em relação ao Handou havia sumido, pelo menos até o momento em que uma mão enorme me agarrou por trás, junto seu quadril ao meu.

Um lábio quente se aproximou do meu ouvido. Uma respiração pesada arrepiou os pelos da minha nuca. Senti o calor infernal que o corpo daquela pessoa emanava e o efeito que esse calor tinha sobre mim. Minha respiração travou, a pressão quase caiu. Porém, meu corpo se derreteu quando ouvi no pé do ouvido:

- Quem é minha boa garota?

Eu então me derreti por completo. Meus pelos se ergueram da perna até a nuca. Mesmo sabendo que aquela voz sedutora era do Handou, me entreguei aos seus braços. Ficamos abraçados, grudados, eu sentindo o calor de seu corpo esquentar meus sentidos e me derreter mais do que eu já estava.

E ele, sentindo minha frieza, que foi quebrada com aquela maldita frase que conseguia me colocar no chão. Era como se aquela frase fosse uma coleira que me deixava submissa a ele por completo.

Casal não assumidoOnde histórias criam vida. Descubra agora