Fugo assopra sua franja para longe.
Uma das vantagens de Fugo só trabalhar de tarde era essa, não tinha muito pico durante esse período. Mas em compensação, ele já tava morto de tanto estudar de manhã. Não é como se fosse tão fácil para ele.
E ultimamente, que tem estado mais e mais frio, e as pessoas têm-se preparado para as festas e férias, mais o garoto tem sentido entediado com seu monótono trabalho.Ele torna a atender algumas das poucas pessoas que estavam na fila.
Depois de uma mulher saiu entregando um copo médio de café com leite e alguns biscoitos para o seu filho, um garoto loiro toma seu lugar.
Ele olha para o menu.
Fugo sabia que esse pedido ia ser ou estupidamente longo, ou ele iria demorar um século para se decidir e perguntar sobre todos os ingredientes de alguma bebida.
"Boa tarde o que deseja?" Fugo pergunta, já com o canto do olho esquerdo tremendo de raiva.
"Quanto que é um copo de água?" O menino loiro pergunta.
E o cérebro de Fugo queria explodir.
Que tipo de idiota pede um copo de água, no fim de outono, numa cafeteria?!
"Nós não cobramos copos de água." Fugo tenta se manter calmo. "Ordens do gerente." Bruno nunca deixaria eles cobrarem uma necessidade tão simples.
O menino olha para ele confuso.
"Eu insisto a pagar." Ele responde.
Fugo grita internamente, ele já lidou com idiotas mas esse tava superando!
"Não posso cobrar pela água, mas você pode deixar um pouco no pote de gorjetas." Ele sorri, segurando forte no pote, se segurando para não bater na mesa.
O menino pensa um pouco mais.
"Se colocar algum adicional, paga?" Ele aponta para tabela de adicionais.
Fugo se vira, ele estava apontando para os adicionais das vitaminas.
"Bem, suponho que sim." Ele solta do pote.
"Faça uma água com, morangos, manga, e gelo. Por favor."
Fugo olha o garoto de cima a baixo, com desconfiança.
Esse moleque talvez fosse muito rico ou muito estúpido para insistir tanto em pagar algo. Talvez os dois.
Fugo respira fundo e pega uma caneta perto e anota o "pedido" e passa para a cozinha.
Enquanto ele faz esse pequeno percurso, ele escuta duas senhoras reclamando, botando para fora os mesmos pensamentos que ele tava tendo naquele instante.
"Estão fazendo a gente perder nosso tempo com isso? Todo esse fuzuê por um copo ďágua?"
"Se fosse apenas isso, ele podia pelo menos ter ficado no fim da fila. Garoto sem noção."
Elas nem se importavam de falar tão baixo, mas o menino de cabelos loiros só sorria olhando pra Fugo, esperando pacientemente pelo seu pedido.
Até aparecer um homem com um copo de água com gelo e frutas cortadas juntas.
"Aqui, minha obra prima mais complexa em toda minha carreira de cozinheiro."
"Fala baixo Mista."
Fugo entrega o copo de água pro menino.
"Obrigado, e volte sempre."
O menino pega o copo e dá meia volta, não dando um gole na bebida.
Fugo respira fundo.
Tem doido pra tudo né?
"Boa tarde o que deseja?" Ele começa o novo pedido.
ꕤ
É o dia seguinte, Fugo olha pro relógio.
15:30.
Quase no fim do expediente, só mais uma hora e meia e ele vai poder trocar com Narancia.
O sino do café bate, e a pessoa que entra faz Fugo arregalar os olhos.
Não é que ele voltou?
O menino dourado para em frente a bancada, e com um pequeno sorriso fala seu pedido, antes de Fugo perguntar o que ele desejava.
"Água, só com morangos dessa vez."
"As mangas não combinaram?" Fugo diz com ironia, enquanto anota o pedido mais uma vez.
"Na verdade, eu não sou muito fã de manga, mas pensei que meus colegas iriam gostar. Mas no fim, não era para eles também."
Oh, seria isso uma aposta de amigos? E Fugo agora estava sendo feito de trouxa?
Ele suspira. Bem, pelo menos ele estava recebendo por isso.
O menino dourado mais uma vez, conseguiu deixar sua marca no café. E uma gorjeta considerável também.
Logo os sinos da porta da frente anunciavam sua saída, e Fugo por um instante martela na sua cabeça a visão daquele garoto. De verdade, quem iria em uma cafeteria pagar por adicionais? Não é como se fossem caros de qualquer jeito, mas ainda assim, ele estava tão entediado assim? Ou o Fugo apenas estava sendo um figurante em uma grande piada entre pessoas que ele não conhece? Talvez o garoto esteja...
"Então, você anotou meu pedido?" Fugo bota sua cabeça de volta no lugar, de trás do balcão atendendo uma mulher cheia de livros na mão.
"Desculpa, poderia repetir?"
ꕤ
Um novo dia.
Fugo estava calmo hoje, sem Narancia sendo inconveniente, sem Mista gritando as músicas brasileiras dele, sem Abbacchio descendo a cada cinco minutos para encher o copo dele.
Tudo ia bem.
O sol refletia no piso encerado, os copos estavam todos limpos, a bancada estava brilhando de tão limpa.
E nenhum cliente nessa linda quarta-feira.
Fugo podia admirar seu espaço de trabalho arrumado aos mínimos detalhes em paz.
Fazia um tempo que ele não podia aproveitar um tempo consigo, estar no seu próprio mundinho era reconfortante muitas vezes.
Mas, enquanto ele mergulhava nos seus pensamentos e ideias, alguém o tira dessa maré com um som de sino que ele sabia bem o que significava.
Mas tava tudo bem. Um cliente não ia atrapalhar um dia todo em paz. Era só atender ele rápido e acabar com aquilo.
"Boa tarde, o que deseja?" Sua voz saia um pouco cantarolada, nem parecia que ele estava forçando sua simpatia.
Ele nem vê de primeira quem é que estava atendendo, muito ocupado pensando como vai organizar as latas em baixo do balcão depois que terminar o atendimento.
"O de sempre." Aquela voz atropela Fugo como um trem.
Ele, justo ele.
Mas de novo?
Vai ser recorrente isso?
Quando ele falou volte sempre não era literalmente.
"Mas..." Ele continua. "Vocês vendem pêssego?"
Fugo queria gritar.
SEU MAMÍFERO ACÉFALO! NÃO CONSEGUE LER NÃO?! LÁ NO CARTAZ TA ESCRITO QUE TEM ADICIONAL DE PÊSSEGO?! QUE FILHO DA PUTA ESCOLHE ADICIONAR PÊSSEGO EM VITAMINAS?! E QUE FILHO DA PUTA PIOR AINDA VAI NUM CAFÉ SÓ PARA PEDIR A PORRA DE UMA ÁGUA COM FRUTINHAS E ATRAPALHAR O MEU JARDIM DO ÉDEN EM UM CÔMODO 9X10?!
Uma respirada profunda.
"Não temos adicional de pêssego." Fugo se perguntava se dava para ver que ele estava tremendo. Ou se a língua dele estava sangrando de tão forte que ele mordeu.
"Oh..." o menino loiro parecia muito mais decepcionado do que deveria para uma situação tão banal. "Então só me dê o de sempre mesmo, por favor."
O albino se arrasta até a cozinha.
"Fugo, tô começando a achar que você tá pegando comida da cozinha para lanchar. Quem que tá todos os dias pedindo água e fruta?"
Mas o garoto simplesmente pega o copo das mãos de Mista, nenhuma palavra sequer sai de sua boca.
Ele entrega o copo na mão do menino, e recebe uma nota de 5 e uma de dez.
"Moço, mas é dois o adicional apenas." Fugo respira fundo para conseguir processar a situação sem levar sermão de Bucciarati.
"Eu sei, fica você com os dez, e pode deixar o 5, eu to sem nota pequena." E sem deixar Fugo contestar, ele sai.
Puta. Que. Pariu.
TREZE LIRA DE GORJETA.
TREZE.
E DEZ APENAS PARA ELE.
SE BUCCIARATI SOUBER ELE ARRANCA A CABEÇA DE FUGO FORA.
Por isso em silêncio e com as mãos tremendo, Fugo guarda o dinheiro em seu bolso.
E coloca os cinco no balde de gorjetas.
E o que era pra ser uma tarde tranquila, apenas com pensamentos pacíficos e felizes, acabou virando em toda uma linha de ideia sobre o porquê eles não podiam matar todos os ricos, por mais que Fugo não sabia como exatamente ele tinha chegado nesse assunto.
ꕤ
Mais um dia.
O café estava um pouco mais cheio hoje, já que era tarde de sábado, muitas pessoas passavam por lá com seus namorados ou amigos pra contar sobre o que aconteceu com eles na semana.
Mas não era um fluxo de clientela que Fugo não estava acostumado, ele sabia lidar bem com aquilo sozinho.
Porém, hoje ele estava acompanhado.
Atrás do balcão, estava também Bruno, atendendo um rapaz tatuado que estava pedindo um chocolate quente com muita espuma e canela.
Depois que Mista espalhou que Fugo estava inventando essa história de menino dourado que pede água e morangos, todos os dias, para comer morangos escondido. Bucciarati decidiu acompanhar ele.
E logo quando isso acontece, o menino dourado não apareceu.
Sem sinal de cachos arrumados em rolinhos na testa dele, ou de blusas com detalhes de coração.
"Pois é Fugo, fechamos em uma hora e nada, to começando a suspeitar que Mista está certo."
Apesar de Fugo saber, de ver com seus próprios olhos durante uma semana inteira um garoto de dentes estranhamente afiados e pintinhas no rosto, ele continua suando frio e olhando para porta.
Ele mal falou o seu turno inteiro, ansioso, agora ele mordiscava seu lábio, na esperança de se acalmar mais, apesar da sua tentativa ser falha.
Será que na verdade aquilo era realmente uma brincadeira estúpida? Será que o garoto loiro se cansou? Justo hoje? Esse garoto...
"Bruno, volto já, vou beber água."
"Só não coma os morangos." Bruno fala rindo.
Fugo ignora.
Mista estava ao mesmo tempo fazendo três copos diferentes quando Fugo chegou.
"Que idiota pede creme de baunilha e chantilly, Fugo?" Mista olha um pedido.
"Eu sei lá, tem louco para tudo." Fugo faz cara de nojo, provavelmente iria ficar muito doce, e ele odeia doces.
"Igual o menino dos morangos?" Mista aproveita para rir dele também.
"Você nem ouse começar." Fugo enche um copo descartável de água, bebendo em silêncio.
Ele não iria vir.
Talvez a mesada dele acabou.
Torrou tudo nessa brincadeira idiota.
A água extremamente gelada ferra o cérebro de Fugo, mas ao mesmo tempo o acalma. Ele se sente mais preparado para o que vier quando ele sair daquela cozinha.
Cinco para as sete da noite.
Realmente, ele teria que levar a culpa do estoque de morangos ter acabado em uma semana.
"Fugo, antes de você ir, pode levar logo esses pedidos, poupa a viagem desse velho acabado?"
O albino tem dificuldade de equilibrar quatro copos em uma bandeja (talvez o motivo do Mista não querer entregar os pedidos vá além da sua preguiça dessa vez), mas ele consegue se acostumar com o peso.
Quando ele chega na entrada do café, ele escuta uma voz doce, mas contida.
"Vocês têm maçãs também? Ou peras?"
Fugo tropeça ouvindo isso, mas ele não se deixar cair. Ele não iria deixar quatro pedidos serem desperdiçados!
Em passinhos miúdos ele corre até a bancada.
"Não... nós não temos. Aqui não é uma mercearia sabe?" Bruno olha para Fugo de canto de olho.
Como se confirmasse: é ele?
E o sorriso sarcástico de Fugo respondia: sim, é sim.
"Certo..." o menino dourado olha pra Fugo.
"73?" Fugo chama pelo número escrito em um dos copos, sempre mantendo contato visual com o garoto em pé esperando sua água e morangos em meio de uma multidão.
Após entregar todos os pedidos sem nenhum imprevisto, Fugo discretamente volta para a cozinha com uma bandeja vazia, mesmo que infelizmente ele não podia pular de satisfação.
Ele estava certo! O garoto veio, ele existe e fez o mesmo pedido estúpido de sempre. E agora ele estava livre de um castigo e um salário descontado no fim do mês.
Quando o menino finalmente recebeu seu corpo com morangos (e um agradecimento prolongado de Bucciarati pela gorjeta reforçada), ele caminha em direção a porta.
Mas antes, ele olha para trás. Seu olhar cruza com o de Fugo.
O menino sorri, acena para o albino e vai embora.
Oh, é mesmo. Eles nem tinham se cumprimentado hoje.
{Olá a todos!! Aqui é um dos autores dessa fanfic, Bunny.Gostaria de primeiro agradecer a todos que decidiram tirar do seu tempo e ler nossa história, realmente significa muito para nós. Também gostaria de dizer que isso é uma releitura de uma fanfic muito antiga minha e do Peaches, então temos um carinho muito grande por ela. Mais uma vez, obrigado por estar lendo isso, e espero que vocês gostem do nosso trabalho! ~♡}
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Primavera Tardia ꕤ〜 Fugio Jojo
Fanfiction「Apesar de ser fim de outono na Itália, não foi muito difícil de um garoto de cabelos dourados e olhos verde esmeralda aquecer o coração de Pannacotta Fugo.」 ꕤ Uma Fanfic de Fugio em tempos modernos, um slow-burn até que um pouco rápido, tão doce qu...