Primavera Tardia ꕤ〜 Fugio Jojo

〜Pannacotta e Giorno vão ao aquário〜

Mais um dia de inverno sem neve, ainda bem.
Afinal, não era um bom dia para ficar em casa, muito menos preso em uma tempestade de neve.
Fugo tinha um encontro hoje.
Com um amigo.

Luvas, cachecol, sapatos pesados.
Ele devia ter pensado que ia usar isso quando escolheu sua roupa, mas ainda bem que não ficou tão desconexo do resto.
"Vai ficar com frio não? Você tá usando só uma blusa não é?" Mista comenta na porta do quarto do menino.
"É uma blusa grossa, além que o aquário deve ter aquecedor, eu vou ficar bem."
O homem entona um longo suspiro.
"Se você diz. Eu só vim te entregar algo."
Fugo se vira para poder olhar nos olhos do rapaz.
E o que ele entrega era uma embalagem preta de balas pela metade.
"Eu tenho muito medo de perguntar, mas para quê as pastilhas?"
"Nunca se sabe." Mista coloca as mãos no bolso e sai no corredor.

Pela entoação das palavras dele, Fugo sabia o que ele estava insinuando. Mas não iria acontecer! De jeito algum! Eles são amigos! Apenas isso.
Fugo coloca as balas no bolso.

Ele se olha uma última vez no espelho, casaco passado, blusa cheirando a amaciante e cabelo arrumado. Ele estava pronto. Ele pega sua bolsa de carteiro em cima da cama, e percebe que está parecendo uma barra de chocolate, com a pele e cabelos brancos como papel, e vestido inteiramente de marrom. Ele suspira, e saí, se pelo menos o casaco dele estivesse inteiro...

Ele passa pelo corredor vazio, e pela sala cheia, Bucciarati, Mista, Narancia e Abbacchio, todos sentados no sofá olhando para ele.
"Que horas você volta?" Bucciarati pergunta.
"Perto das seis..." Fugo não tinha certeza.
"Vai querer que alguém te busque?"
"Não precisa, tenho dinheiro para passagem. Além que eu sei andar por lá, não tem problema."
O homem sorri. Fugo não podia mentir, ele admirava a confiança que Bruno tinha nele.
"Mas toma cuidado que essa hora já vai tá de noite. Qualquer coisa, liga que alguém vai te buscar na hora."
Fugo concorda.

"Então... tchau?"
"Juízo!" Narancia grita no fundo, e ele só recebe um olhar de desaprovação do albino.

Fugo desce as escadas do prédio de apartamento único, chegando no térreo e trancando a porta após sair.
Ele sabia que até o aquário seriam mais de vinte minutos de transporte, mas tudo bem.
Ele coloca seus fones de ouvido, puxa o cachecol sobre o nariz, e coloca sua música favorita. Ainda bem que o ônibus chegou rápido.
Ele se senta no fundo, enquanto Fleet Wood Mac cantava como trovões só aconteciam quando chovia, e ele via pela janela ruas que ele conhecia tão bem, folhas das árvores no chão, e senhorinhas varrendo elas. Logo ele sai da área mais residencial assim que a playlist troca de música.
Pannacotta balança a cabeça no ritmo da música, lojas abrindo após sair do horário do almoço, carros passando, ninguém de moto e poucas pessoas a pé.
Ele conseguia ver mesmo que rápido algumas lojas e restaurantes mais reservados. Os poucos que ele reconhecia não lhe traziam muitas memórias boas.
No fim, ele voltou para o bairro onde ele costumava estudar. Um pouco dele lembra dos garotos que viviam gritando por aquelas ruas, as meninas que paravam nos cafés mais requintados da região onde um pão velho custava a alma de cada. Ele lembra de como ele andava ali sozinho antes de conhecer Trish.

Uma música diferente começa a tocar, uma batida animada consome Pannacotta.
Não era hora de ficar melancólico, ele estava indo encontrar seu amigo, e ele não merecia andar por aí com um peso morto todo deprimido.
Além que ele nunca foi naquele aquário antes, não tinha uma memória ruim que fosse atormentar Fugo aquela tarde.
Era hora de manter o alto-astral!

Não demorou até Pannacotta chegar no seu ponto, ele mal tinha ouvido três músicas. Mas não tinha problema, ele ainda teria de andar mais um pouco e esperar Giorno na frente do ponto de encontro deles.

Após agradecer o motorista, Fugo desce do transporte com cuidado. As calçadas estavam começando a ficar escorregadias conforme ficava frio e com neve por toda parte.
Uma bateria ritmada começa a tocar, sincronizada com os passos de Pannacotta. Enquanto isso ele se perguntava muitas coisas.

"Será que o Giorno já está lá? Ou será que eu saí cedo demais? Espero ter trazido dinheiro o bastante para comer, tinha esquecido como as coisas aqui são caras. Será que eu deveria usar uma daquelas balas que Mista me deu?"

Ele se interrompe. Aquele era o pior momento para pensar demais até ter dor de cabeça. O melhor agora era manter a calma e olhar bem para frente e pros dois lados da rua, porque só tinha motorista maluco no centro daquela cidade.
Como dito, Fugo chegou no aquário bem rápido e sem nenhum obstáculo.

Ele olha no relógio; 13:34.
O garoto chegou bem na hora combinada e nada do loiro. Mas tudo bem, afinal, logo ele deve chegar.
Giorno não ia dar um bolo no Fugo no encontro que ele mesmo marcou né? Certo?

"Pannacotta!" Graças a Deus, Fugo estava certo.
Lá vinha o garoto, com certeza usando menos roupa que ele. Giorno tinha uma jaqueta azul-marinho um pouco larga e usava botas apropriadas para andar na neve, diferente de Fugo.
Conforme ele se aproximava, o albino conseguia enxergar outros detalhes, como os broches dourados que ele julgava ser novos e como o cachecol que ele tinha parecia ser bem usado.

"Chegou há muito tempo?" Giorno sorri calorosamente quando ele finalmente alcança Pannacotta.
"Cheguei nesse instante. Se não tivéssemos ido por caminhos opostos, teríamos topado no caminho." O que não era um cenário tão ruim.
"Desculpa, é que eu moro por aquele lado, é mais rápido para chegar aqui."
"Não há problema algum," Giorno balança os braços, e olha Fugo de cima a baixo. "Gostei do casaco, ficou bonito em você."

O rosto de Fugo fica vermelho em um instante, mesmo escondido atrás do cachecol.
"Você acha?" Ele coloca as mãos nos bolsos da frente.

Fugo nem pensou que ele iria reparar no casaco, muito menos elogiar.
E deus como ele se sentia envergonhado de estar usando roupas que não eram suas e ser elogiado.
"Eu achei ótimo. Mas não vamos perder tempo! Temos uma tarde inteira para gastar!"
Fugo concorda e deixa esses pensamentos de lado. Até porque, ele podia estar apenas sendo gentil.