〜Pannacotta Fugo não se apaixona por ninguém〜

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Fugo estava contente hoje.
No sábado passado, ele acabou se livrando de uma confusão muito grande onde ele ia se sair muito mal graças a um garoto de tranças douradas.
Apesar de Mista e Narancia ainda não acreditarem que há um garoto assim que todos os dias venha fazer o mesmo pedido estranho, Bruno acredita. A confiança dele já é o bastante pra Pannacotta.
Mas... querendo ou não, o albino iria continuar em uma situação ruim se o menino não tivesse aparecido de última hora de sábado. Fugo se pergunta: "eu deveria agradecer?"
Ele apoiava os cotovelos na bancada.
Seria bom.
Talvez assim, ele pudesse pelo menos conseguir o nome do menino.
Fugo olha para o relógio. Duas horas para fechar, e ele está um pouco atrasado. Mas tudo bem, imprevistos acontecem.

Fugo limpa o balcão de novo, depois as máquinas de café, ele chama Mista para sentar nas cadeiras e fica vagabundeando.
Por que justo hoje estava sendo um dia lento?
Ele olha pela vitrine, ninguém passando entrou, ninguém de cabelos dourados virando a esquina.
"Uno!" O moreno grita. "Parece que vai ser mais uma vitória para Guido Mista!"
Mas a risada dele não parece ecoar em Fugo, nem para ele dar uma reclamação ou algo do tipo.
"Que foi Panna, que você tá todo cabisbaixo?"
"Eu tô normal Mista. Compra 5."
"VAI SE FODER!"
Por pedido de Guido, todas as cartas de comprar mais quatro foram riscadas e substituídas por mais cinco.
Para surpresa de todos, Mista começou a ganhar muito mais depois dessa mudança.
"O dia hoje só tá sendo entediante, nada demais."

"Bem, é que ultimamente, você tem ficado bem mais animado para trabalhar. Parece que hoje não é o caso?"
Mista compra as cinco cartas.
"É..." Fugo desvia da mesa e olha para a janela.
Ele nem precisava se concentrar no jogo.
Mista colocava carta atrás de carta, e Fugo revidava sem precisar bater um olho no baralho.
"UNO PORRA AGORA VAI!"
"Compra mais cinco."
"UUUGGHH! O que deu em você hoje Fuguinho! Nem ta jogando na minha cara que ta ganhando!" Mista, frustrado compra mais cinco.
"Eu não sei." ele olha para o relógio.
"O loirinho não apareceu hoje?"
Mista estava rindo, provavelmente era para ter sido só uma piada idiota, mas a reação que ele recebeu foi bem... Inesperada.
Fugo estremeceu e vira se rosto que antes estava de perfil, agora só dava para ver mechas de cabelo platinado. As orelhas dele estavam vermelhas antes?

"Pera, sério? Por isso você tá todo tristonho? Cara!"
"Eu não tô triste! E também não tô assim por causa dele. Eu nem sequer sei o nome dele."
Mista tampa a boca para rir.
"É tão óbvio que você gosta dele."
"Eu não gosto de ninguém!" Fugo vira o rosto, tão rápido que tira as mechas de cabelo dos olhos dele. "Hoje só... Parece estranho sem ele aqui."
"Vocês sempre se vêem por cinco minutos só." Mista tinha um ponto, e o jogo é deixado para lá.
"Mas ele virou parte da minha rotina, agora isso tá vazio."
Mista sorri de canto, ajuntando as cartas.
"Por que você não tenta falar com ele amanhã?" Ele coloca elas de volta na caixinha. "Isso se ele aparecer amanhã." Essa frase foi como um tapa de realidade para Fugo.
Ele olha uma última vez a porta da entrada.
E se aquela fosse a última vez que eles se viram? Ele o salvou uma última vez e acabou?
Ou... Ele pode ter se cansado daquela brincadeira estúpida. Céus, Fugo não devia ter se apegado tanto e-
"Ei ei pombinho apaixonado." Mista aparece atrás dele, o tirando da sua linha de raciocínio torturante com um leve toque no ombro. "Hora de fechar."
"Eu sei..."
"Fica assim não. As vezes ele só teve que trabalhar ou algo assim. Amanhã é um novo dia."
"É..." Fugo respira fundo, se levantando. "Narancia já voltou do curso?" Ele segue Mista pelas escadas do Fundo.
"Não que eu tenha visto."

                                                                               ꕤ

Mas apesar que o turno deles acabou mais cedo (considerando que a maior parte da tarde eles ficaram desocupados), Fugo não conseguiu descansar bem aquela noite. Por que será? Ele estava se sentindo bem, mas ainda assim, sua mente não conseguia descansar de forma alguma.
Por isso ele estava com olheiras tão grandes e profundas no dia seguinte, ele mal conseguia olhar para porta de tanto que o sol ardia nos seus olhos.
Mista e Bruno saíram para comprar mais material, já que estava perto de um feriado, provavelmente a casa ficaria cheia. Abbacchio estava cuidando da cozinha, mas como ele era quieto, era como se Fugo estivesse sozinho no café. Ele já tinha atendido umas pessoas mas ainda assim, o movimento estava lento. O albino suspira.
Ele pisca pesado, maldito seja o horário da tarde de uma terça-feira.
O sino toca, e no fundo ele queria mandar seja lá quem fosse para puta que pariu.
"Bom dia o que deseja-" Suas palavras se arrastam, ele boceja.
"O de sempre." A voz doce como mel entra na cabeça de Fugo.

Ele voltou.

Fugo pisca mais uma vez, forte.
O cabelo dele hoje estava solto, dava para sentir o perfume florido preencher a loja. Ele sorria na frente da fila, apesar do seu sorriso murchar um pouco ao ver o rosto de Fugo.
"Você parece meio doente?"
"O quê... Oh não! Eu estou bem, só cansado da semana que passou. Nada demais." As mãos de Fugo tremem ao anotar o pedido do garoto, por mais simples que fosse.
"Entendo." Ele responde.
Pronto Fugo, você conseguiu falar com ele.
"E-e você? Como está?" Ele passa o pedido para Abbacchio.
"Eu estou bem." Ele arruma um dos broches na gola, não mantendo o contato visual.
"Que bom." Fugo engasga depois de falar isso.
Ele entrega o pedido para o menino, e se vira para guardar o dinheiro na registradora.
"Ei mas antes, qual seu nome?" Ele fala sem levantar a cabeça.
Sua resposta foi o sino da porta batendo, e o menino caminhando para fora.
Ele nem ouviu.

Logo um homem de cabelo platinados preso e maquiagem forte aparece da cozinha.
"Que pedido estúpido foi esse? Você queria um lanche era?" Esse era o jeito que Abbacchio cumprimentava Fugo
"Ugh, não foi eu, acredite. Tem um garoto que todos os dias vem aqui fazer esse pedido."
"Que menino imbecil, fazendo os cozinheiros perder tempo."
"Mas o café tá vazio Abba."
"Tô perdendo meu sono da beleza." Abbacchio cruza os braços.
"Pois então volte a dormir, não resolveu de nada seu sono da beleza." Fugo responde cruzando os braços também.
Abbacchio grunhe.
"Que bicho te mordeu hein?! Tá todo nervosinho."
"Eu tô normal." Fugo cruza os braços e se recosta na cadeira, sua franja cai nos seus olhos mas ele nem se dá o trabalho de tirar. "Você que nunca tá aqui. Pergunte para o Mista, ele sabe que eu tô sempre assim no trabalho."
"É, mas o Mista tem me dito outras coisas de você na ver-"
"O QUE ELE DISSE?!"

Abbacchio dá aquele sorriso sarcástico, de quem sabe de mais, mas fala de menos.
"Que você ta todo apaixonadinho." Leone aperta o nariz arrebitado de Fugo. "E por um moleque ainda." Não que isso fosse um problema, afinal, Bucciarati e Abbacchio eram casados, mas ele queria incomodar o menino de vermelho.
"Eu não to apaixonado porra! Por que vocês estão assumindo isso?!"
"Eu não estou assumindo nada. Tudo isso são palavras de Mista, nada mais."
Oh, Fugo mal podia esperar para torcer o pescoço de Mista assim que ele chegasse em casa.
"Eu só tô fazendo um amigo novo ok? Me deixem em paz."
Apesar de Abbacchio não ser muito de sorrir, a situação estava muito boa para ele se conter.
"Entendido então. Se você diz..."
"É sério!" Ele bate no próprio peito. "Pannacotta Fugo não se apaixona por ninguém!"

                                                                                ꕤ

Fugo olha no reflexo dele na bancada, arrumando as mechas de cabelo da franja.
Hoje ele finalmente iria perguntar para o menino de cabelos dourados qual era o nome dele!
Não por uma razão específica além de que ele achava o menino loiro muito legal.
Nada mais do que isso.
Ele olha para o relógio, se ele chegar mais cedo hoje vai mudar a variação da qual ele vem ao café.
Sempre entre as 16:25 às 18:07.
E ele fica sempre o tempo certo que eles têm uma conversa, então hoje ele precisa ser rápido e não se deixar distrair por nada.
Narancia não havia chegado ainda, e ele iria demorar para voltar, dia de exame e ele tem pelo menos duas provas.
Bucciarati estava ocupado com as finanças lá em cima.
Mista estava quase dormindo no seu posto.
E Abbacchio ainda estava dormindo de ressaca.

Hoje é o dia de sorte dele.

Sentado de frente a bancada, Fugo espera pacientemente. Ele atende os poucos clientes que aparecem com eficiência, mas com mais pressa que o comum também.
Ele queria garantir que quando o menino dourado chegasse, eles dois estariam sozinhos. Mas não por nenhum motivo específico.
Fugo só queria garantir que nada o atrapalhasse nem o distraísse. Assim, ele poderia fazer uma nova amizade do jeito certo. Saber o nome, depois a idade, os interesses...
Pensando bem, que tipos de interesses um garoto que todos os dias vai em uma cafeteria pedir água e frutas teria?
Bem, Fugo poderia perguntar isso agora.
Os sinos ressoam anunciando a chegada de mais um cliente, e aquele perfume florido era o que confirmava a chegada do garoto de ouro.

"Boa tarde!" Fugo pula do banquinho.
O menino dourado dá um sorriso ao ver a cena.
"O de sempre?" Ele pergunta, já sabendo a resposta.
O menino só concorda com a cabeça.
Fugo sorri de orelha a orelha, brincando um pouco com os dedos.
"Enfim... Você nunca me disse seu nome?" Boa Fugo! Conseguiu!
O menino dourado não responde, só parece nervoso e desvia o olhar.
Oh... Será que ele perguntou algo de errado?
Mista não demora nenhum pouco a colocar os morangos já picados num copo e enviar para a bancada da frente.
O menino dourado simplesmente pega o copo de cima da bancada, deixa sua gorjeta usual e sai do café as pressas.
"Tchau?" Deixando Fugo a se perguntar, ele fez alguma pergunta ruim?

Pannacotta não dormiu bem de noite. A ansiedade dele o impediu de ter bons sonhos.
O albino viajava entre os pensamentos de ele ter dito algo de errado para o garoto dourado ou simplesmente se ele não tava afim de falar.
Bravo ele não estava, ele continuou sendo gentil mesmo em silêncio. Mas ainda assim, por que Fugo foi ignorado assim tão de graça?

Mas Pannacotta Fugo não desiste!
Se ele diz que vai ter algo, então ele vai conseguir. Hoje o café vai estar praticamente vazio de novo, e se tudo sair conforme o planejado, pelo menos o nome do menino ele vai conseguir. E na melhor das hipóteses até o telefone.
Isso, ele deveria ser ganancioso, ver além da sua zona de conforto.
"Eu consigo!" Ele diz em voz alta do seu quarto.
E é retribuído por um coro de "você consegue!" da cozinha.
Casa pequena é foda.
Ele veste sua calça cintura baixa, seus sapatos favoritos, e sua camisa de abotoar branca sem manchas.
Ele abre a porta do quarto com um estrondo.
"QUEBRA NÃO É VOCÊ QUE COMPRA!" Ele conseguiu ouvir o puxão de orelha do corredor.

"Ta animado para levar outro gelo hoje Fugo?" Mista brinca com o menino.
"Hoje é meu dia Mista nem vem." Ele se senta na mesa também, pegando manteiga para passar no pão.
"Hoje é meu dia também! Tenho certeza que fui bem nessa prova de química!" Narancia enfiava vários livros desconexos dentro de sua mochila.
"Bem, tipo sete?" Leone dá um gole no café.
"Bem tipo dez!" Narancia levanta as mãos.
Bruno bate em uma delas.
"Boa, eu falei que estudar vale a pena."
"Eu pensei que você tivesse reprovado sete vezes no fundamental e desistido no nono ano." Abbacchio provoca Bruno.

Bruno puxa de leve a orelha de Abbacchio, tão leve parecia nem um castigo, e mais um carinho.
"Que exagero. Eu não reprovei tanto assim, foi só duas vezes no quinto ano e duas no oitavo." Dá para ouvir do outro lado da mesa Mista engasgando.
"Você reprovou quatro vezes?! Bruno, eu te imploro, volta para escola e reprova mais uma vez, por favor!"
Fugo sai de mansinho antes que aquilo vire uma discussão sobre escola e numerologia. Ele tinha que guardar cada gota da sua paciência para o dia de hoje, assim como a sua sanidade.

O dia foi até que bem tranquilo.
Depois de ele deixar Narancia no cursinho de bicicleta, Fugo foi para sua própria escola também.

                                                                                     ꕤ

Fugo respira fundo ao sair da escola.
Quase no fim do bimestre e ele ainda não fez nenhuma prova importante.
Quem iria imaginar que o terceiro ano seria tão mais medíocre quanto os anos passados?

Ele pega as chaves do cadeado de sua bicicleta e vai até ele.
"Ei Fugo!" A voz de uma menina chama. "To vendo seu cofrinho!" Ela ri, indo até ele.
"Ugh..." Fugo termina de de desencadear sua bicicleta e puxa sua calça para cima. "Nem vem Sheila to guardando minha paciência."
"Ah para Fugo é só uma piada, você nem tem bunda." Ela tira sua bicicleta do lugar também.
Fugo vira os olhos.

Os dois começam a andar lado a lado.
"Posso te pedir algo Fugo?"
"Eu não vou escrever outra redação para você Sheila."
"AH VAI EU VOU REPROVAR ASSIM!"
Os dois fazem a curva do parque perto do café.
"Mas é sério Fugo, eu preciso dessa nota." A menina de trancinhas verdes ultrapassa ele.
Fugo se pergunta se podia passar por cima dela. Ela é tão baixinha mesmo. Mas invés disso ele respira fundo e lembra que tá guardando toda sua paciência para algo mais importante.
"Quando é para entregar?"
"Semana que vem."
"Eu te ajudo a fazer, mas eu não vou escrever uma linha. Até porque da última vez eles reconheceram minha letra de primeira."
Sheila comemora em silêncio. Ceder para garota era o caminho mais curto para paz de Pannacotta mesmo.
"Mas você teve mais de um mês de prazo para entregar essa redação, por que não fez antes? Tema difícil?"
"Bem... É que na verdade, eu conheci uma garota e-" mas Sheila bufa ao ver os olhos de Fugo revirarem tanto que quase dava para ver o cérebro dele. "Ei! Não é minha culpa que você tem ninguém!"
"Eu não preciso de ninguém." Fugo para ao lado da casa de Sheila.
"Eu também pensava assim, até ver aqueles olhos verdes." Ela para bicicleta. "Mas te conto mais dela mais tarde! Eu tenho um encontro hoje!" Ela bate as palmas juntas.
"Adorável. Trocar a escola por um romance de verão."
"Estamos no outono Fugo." Ela abre o portão da casa, e entra.
"Mesma coisa." Fugo engata a bicicleta e vai embora abanando as mãos.
A ida de volta para casa era mais tranquila, uma grande decida até o prédio um pouco escondido.


Fugo mergulha nos seus pensamentos na volta de casa. Aqueles cinco minutos de paz eram tudo o que Fugo precisava antes do almoço e ir trabalhar, aonde ele podia refletir sobre sua manhã e o que ele faria de tarde.
O assunto que persiste na sua cabeça é o que Sheila falou antes deles se despedirem.
Claro, Fugo estava muito bem sozinho, e um relacionamento só seria mais algo para se preocupar. Além que ele não era fútil assim para ficar em relações curtas só para suprir uma carência temporária, ele não era tão baixo.
Mas ainda assim, ele imaginava como era a sensação de ficar perdido na ideia de alguém, de ter alguém.
Ficar perdido no sorriso, no jeito da pessoa, nos olhos.
Olhos verdes como esmeraldas...
Fugo aperta o passo para acabar com essa linha de ideias.
Com a maior rapidez do mundo, ele prende a bicicleta no cadeado em frente ao café, sobe as escadas correndo, abre a porta da cozinha e se senta na cadeira.
"Oi para você também Fugo." Abbacchio estava no pé da pia lavando a louça que ele sujou para fazer o almoço.
"O que tem de almoço?"
"Os favoritos do Bruno."
Fugo dá um grunhido alto.
"Não me diga que é-"
"Sim é macarrão com lula." Ele interrompe Fugo. "E frutos do mar grelhados com cogumelos." Fugo bufa mais alto ainda.
"Por que você me odeia Abba?!" Ele joga seus braços sobre a mesa.
"Por que eu amo o Bruno." Abbacchio sorri enquanto o cheiro de mar invade a cozinha, e Fugo fica mais enjoado a cada segundo.

Fugo mal tocou no almoço. O gosto de romance tava muito forte, não combinava com a pimentinha de cheiro.
Mas logo Fugo supera isso. Ele toma mais um banho e se enche de perfume de novo. Nem os bolos da loja iriam conseguir competir com o cheiro de doce que ele tinha agora.
A sensação de estar se arrumando tanto para o trabalho era boa, mas ao mesmo tempo o deixava nervoso. Por que ele estava fazendo aquilo mesmo?
Mas ele prefere não pensar muito naquilo, em nome da sua paciência e sanidade que foi mantida durante uma manhã toda, um recorde. Geralmente a essa hora ele já teria gritado com Mista por ter deixado a roupa dele no varal durante a noite e estar molhada pelo orvalho da manhã, ou se irritado com os garotos do terceiro ano que só sabem gritar sobre putaria.
Mas hoje o seu humor estava nas alturas. Agora, ele iria conseguir finalmente chegar ao seu objetivo, sem falha.
As horas se passam, a cada cliente e minuto que se passava era um número a menos na contagem regressiva mental para a chegada do menino de cabelos dourados.

17:56 Fugo olha para o relógio, logo Narancia iria voltar da escola. Então por tudo que é mais sagrado, venha logo menino dourado.

O sino toca.
Amém! Aleluia senhor! Vovó não mentiu! Jesus é o pastor e nada faltará! Alegria filhos pois o pai é bom até com os filhos pródigos!


"Bom dia o de sempre?" Fugo se vira para atende-lo e...
Oh não é ele.
Ele nem se quer se lembra do rosto dessa pessoa.
"Ah sim, sim, vou querer o de sempre."
...merda.

Por um milagre, Mista reconhecia o rosto da cliente.
"Oh, aquele cara deu em cima de mim uma vez, ele sempre pede café extra forte com leite, e qualquer salgado que tiver na vitrine."
E Fugo está livre de mais uma enrascada.
Ele estava agindo impulsivamente. O que houve com ele? Ele geralmente pensa tanto antes de agir, mas ultimamente ele tem sido tão... Estúpido?
Mais uma vez, os sinos da porta da frente badalam.
"Boa tarde, o que vai querer?" Fugo estava envergonhado demais para poder olhar no rosto de mais um cliente. Estava na hora de ser profissional.
"O de sempre, por favor." Aquela voz melódica arranca toda a profissionalidade de Fugo com um soco na barriga.

Ele tropeça nas próprias palavras, mas antes de gritar o pedido para Mista, o mais velho já entrega.
"Pode deixar que esse é na conta da casa." Ele dá uma piscada para o menino de olhos esmeralda, e bate no braço do albino.

Mas mesmo assim o loiro coloca uma nota dentro do pote com gorjetas.
"Você tem bastante dinheiro para gastar." Fugo comenta.
O menino se apoia no balcão.
"Sim podemos dizer que sim."
"E seus colegas? Nunca vão vir para cá gastar suas mesadas também?"
Essa pergunta sarcástica tirou uma risada do menino dourado.
"Não, acho muito improvável."
"Por que? Somos muito simples para eles?" Outra pergunta engraçadona, Fugo tinha que parar de passar tanto tempo com Mista.
"Oh não! Nunca aqui é muito aconchegante e-" O menino brilhante é interrompido pelo sino da porta batendo com força.

"FUGO VOCÊ NÃO VAI ACREDITAR NO QUE AQUELA PROFESSORA COM CARA DE FIAT UNO 2009 AZUL CALCINHA ME FEZ PASSAR HOJE!" Ah se não é Narancia, com seus xingamentos estupidamente elaborados.
"AQUELA CARA DE CU DE CAVALO AZEDO ME FEZ PASSAR NA FRENTE DA SALA A MAIOR VERGONHA, FUGO DO-"
"Narancia." A voz do albino estava estável. Até demais. O sorriso dele também estava meio afetado. "Estou atendendo agora."
"Aí mas ele já pagou, não pagou? Eu vi você só puxando papo! Esse é o menino que você tem falado-"
"Não, não é." E agora que Fugo começa a tremer. "Por que não sobe? Eu logo vou subir também para te ouvir."
"MAS FUGO VOCÊ TEM QUE ME OUVIR AGORA ENQUANTO EU TÔ ANIMADO, POR FAVOOOOR!"
Fugo pega um dos cardápios sobre a bancada e dá um baque na cabeça de Narancia.
"E EU ESTOU OCUPADO! SOBE!" Fugo fazia tudo isso com um sorriso.
Mas quando levantou o olhar para continuar a conversa e finalmente pedir o nome do menino.
Ele já foi.
"PORRA NARANCIA!"
Fugo por um instante senta de novo, e bufa duas, três, quatro vezes, o rosto vermelho queimava. E então ele fica quieto na cadeira tremendo.
Ele tinha-se preparado tanto, mas o raio caiu duas vezes no mesmo lugar e atingiu o peito de Pannacotta todas as vezes. E pior de tudo. Ele nem sabia porque estava tão frustrado assim.

Primavera Tardia ꕤ〜 Fugio JojoOnde histórias criam vida. Descubra agora