〜Pannacotta não tem um encontro〜

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E mais uma tarde se passou. Fugo observava o relógio com um teor de ansiedade atravessando seu corpo. A qualquer momento o garoto iria chegar. Pela primeira vez em dias, o albino não queria que aquilo acontecesse. Não depois daquele vexame de ontem.
Seu rosto queima só de lembrar, tanto de vergonha quanto de raiva.
Como Bruno já estava em casa, tanto ele quanto Narancia receberam seus devidos castigos naquela hora e lugar. E parece que Fugo vai ter que passar uma semana sem ver seus programas favoritos antes de dormir. Talvez no máximo ouvir Mista e Abbacchio comentando sobre na sala. O menino grunhe sozinho pensando na ideia.

Mas ainda assim, isso não era a maior preocupação do albino. O pior era como o dia ia se desenrolar hoje. Provavelmente o garoto dourado iria ficar bem constrangido de ir até lá, ele já mal olhava nos olhos de Fugo.
Céus, será que ele ia ter medo dele? Pensar que ele era agressivo? Ou que ele maltrata a família?

As ideias turbulentas atrapalham tanto Fugo que ele nem notou um sino tocar na entrada da loja, apenas notou que alguém tinha chegado quando apareceu uma figura no balcão.

"Boa tarde, o que você deseja?" Palavras baixas e arrastadas ressoam da garganta de Pannacotta, fazendo ele parece um camundongo por um breve instante.
"O de sempre."
Como palavras ditas de maneira tão doce e serena podiam arrebentar Fugo como uma batida de caminhão? Somente aquele garoto de cachos dourados e olhos verde-esmeralda podia fazer aquilo.
O garoto somente pegou seu bloco de notas, escreveu duas ou três palavras e entregou na cozinha.

Eles se mantiveram em um silêncio por uns instantes, era difícil saber se era um silêncio confortável ou agonizante.
"Como você está?" Para Fugo, estava agonizante. Ele se sentia na obrigação de falar algo depois de ontem.
"Oh, estou bem." Para o outro garoto, estava confortável estar nesse silêncio, ele parecia mais tranquilo que o normal. "Eu ia sair pra encontrar alguns amigos, mas hoje meu dia vai ser ocupado demais pra isso."
Fugo concorda, um pouco agitado ainda. Sua cabeça estava meio longe pra conversas assim, esperando ansiosamente pelo pedido, que finalmente aparece da cozinha.
"Mas sempre tem uma próxima vez não é?"
"Hmh..." o loiro saca sua carteira, deixando seu pagamento e sua gorjeta reforçada rotineira. "Amanhã eu vou sair pra ver eles... Quer ir junto?"
Pannacotta não processou direito aquelas frases, contando os centavos. Só um pouco depois ele parou e digeriu aquela frase.

"Sair?" Fugo repete, como se desse uma segunda chance para o menino repensar.
"Ver meus amigos do parque, pode ser num horário mais cedo se preferir." O menino bate os dedos no copo.
Fugo pensa bastante, ele nem sabia o nome desse desconhecido, ou quem eram seus amigos.
Mas algo sobre o jeito dele, e toda essa energia que envolvia ele, acalmava Fugo, e falava que tudo iria ficar bem.
"Meu nome, é Giorno aliás." O menino evita contato visual.
"O meu é Fugo." Ele diz ajeitando a postura.
"Eu sei, tá no seu broche." Giorno aponta pro próprio peito, onde ficaria o broche se ele tivesse um igual ao do barista.
Pannacotta dá um tapa na testa mentalmente.
"Sim sim-" Ele arruma o cabelo, colocando atrás da orelha. "Bem amanhã, meio dia e meio até uma e meia é meu horário de almoço, podemos tentar."
"Certo." A única vez que Giorno olha pra ele, mas logo desvia de novo.
"Ótimo." Fugo concorda.
Giorno sai da loja sem olhar para trás.

Logo uma cabeça sai da porta da cozinha.
"O que foi isso."
"Nada do seu interesse."
"Você foi convidado pra um encontro?" Mista se apoia no balcão.
"Claro que não!!! É só o garoto da água. Ele me convidou pra ir conhecer os amigos dele."
O silêncio mal teve tempo de se manter na sala, até Mista dizer.
"Uma suruba então?"
"Eu vou cortar sua garganta com um copo descartável." Fugo fala entre os dentes.

No dia seguinte, Fugo estava nervoso. Mais do que ele esperava. Tinha acabado de começar o horário de almoço na cafeteria, e Fugo estava sentado em uma mesa, vestido um pouco mais formal do que normalmente, com algumas presilhas tirando seu cabelo do rosto, por recomendação de Narancia.
Ele refletia sozinho nas possibilidades do que podia acontecer nesse pequeno encontro.
Ser sequestrado? Ao mesmo tempo que o menino era angelical, ele era bem suspeito.
Ser morto? Serial killers são sempre quietos. Pelo menos se ele morrer a história dele pode ser parte de um podcast legal.
E ele nem queria pensar nas outras possibilidades de final para essa tarde.

O sino do café bate, lá está o menino, agora com uma bolsa de couro, com o cabelo ainda preso numa trança e nos rolinhos na franja dele.
"Pronto?" Ele pergunta.
"Pronto." Ele responde.

Antes de sair, Fugo deixou avisado a todos onde iria e quando voltaria e que se ele demorasse, era para chamar a policia.

A caminhada toda até o parque foi silenciosa. Apenas isso.
Foi quase esquisito, pois Fugo não estava acostumado a ter tanto tempo em silêncio com outra pessoa, isso desde em casa até na escola, com todos os colegas de classe que gritavam como se o mundo fosse acabar.

O garoto é surpreendido quando Giorno dá um leve tapinha no seu ombro, chamando sua atenção.
"Geralmente nos encontramos naquele banquinho ali." Giorno gesticula. Fugo nem percebeu quando eles chegaram ao parque. "Eles são um pouco tímidos, podem te estranhar de primeira, mas logo eles se acostumam."
Giorno senta no banquinho, bem em frente ao lago do parque, Fugo toma lugar junto a ele.
Aos poucos os patos do lago se juntam na beira, da bolsa de Giorno ele tira um saquinho com sementes, jogando algumas pra eles.
"Quer jogar também?" Ele oferece para Fugo, que aceita calado. "Eu nem sempre dou os morangos para eles." Giorno continua.

Algo clica na cabeça de Fugo.
Nem sempre dá os morangos, para eles.
Os morangos são para os patos.
Os patos são os que são tímidos e que podem estranhar.
Os patos são os amigos do parque do menino dourado.

"O açúcar das frutas faz mal pra eles em excesso, sabia?"
Okay. As chances desse garoto ser um psicopata diminuíram muito. Talvez ele só seja um entusiasta de animais. Mas que tipo de pessoa passaria seu tempo alimentando patos no parque que não seja um velho? Okay talvez ele seja um pouquinho esquisito de mais.
Fugo guarda todas suas emoções confusas bem dentro de si.
"Não, eu não sabia disso." Ele responde a pergunta.
"Pão é horrível pra barriga deles, e ainda assim, isso é tudo o que as pessoas dão pros pobrezinhos."
Fugo engole a seco em nome de todos os patinhos a qual ele deu pão na vida.
"Mas outras coisas como sementes e verduras eles podem comer."
"E você por acaso trabalha para alimentar os patos?" Uma pergunta bem idiota, mas para ele saber tanto sobre alimentação dos bichos, poderia ser uma pergunta plausível.

"Eu trabalho com flores."
Isso fazia mais sentido, pois o menino tinha um cheiro predominante de rosas.
Não que Fugo estivesse cheirando ele de propósito.
"Mas de certa forma, eu sinto uma afinidade com animais. Já cuidei de vários também." As sementes já estavam na metade, mas a quantidade de patos só aumenta ao redor deles.
Fugo era bem ao contrário dele. Não que ele não gostasse de animais, mas as vezes parece que os animais que não gostavam dele. Mas também, ele nunca teve uma iniciativa tão gentil assim como Giorno. Talvez na volta ele compre ração pra dar pros gatinhos da rua.
Os dois ficam em silêncio olhando os patos dando voltas no lago, é fim de outono, as folhas as poucos estão caindo, logo os patos vão migrar, e Giorno vai parar de visitar o café até eles voltarem.
Isso dava um aperto no peito de Fugo, ele mal conhecia o menino, mas sabia da importância que ele fazia na rotina dele.

"Isso está sendo..." Ele pausa um segundo. "Entediante para você?" Giorno pergunta.
"Oh não!" Fugo responde. "Claro que não. Na verdade está sendo bem relaxante, eu gostei da calmaria."

Giorno sorri de leve, sem tirar os olhos dos patinhos no lago, comendo os pedaços aos poucos.
"Isso me tira um peso da consciência. Estava preocupado de estar desperdiçando o tempo do seu almoço."
"Oh não!! Tá tudo bem, eu realmente não me importo com isso. Essa é uma atividade diferente do que eu faço normalmente mas é algo divertido." O albino segura as próprias mãos, com um certo nervosismo.
Giorno sorri e se aproxima de Pannacotta pra entregar as últimas das sementes, e o albino aceita.

"Patos podem comer pipoca?"
"Não, eles não podem. Tem óleo e sal, faz mal."
O garoto faz um som de concordância, enquanto os patos a frente deles esperam mais sementes, mas sem receberem mais nada.
"E milho?"
Giorno abre a boca por um instante, mas logo a fecha novamente, olhando para o horizonte, os patos, os próprios sapatos...
"Eu não sei." E ele procura seu celular no bolso. "Nunca me perguntei sobre isso. Não quero te dar uma resposta errada."
Fugo olha sobre o ombro dele.
Na tela inicial a foto de uma família, com dois meninos loiros um de cabelo marrom esse mais alto, e um homem de cabelos negros segurando o ombro de uma mulher loira.
Não que Fugo estivesse fuxicando no celular do menino, ele apenas estava observando.
Na foto da tela inicial eram apenas rosas comuns.

Rapidamente Giorno abre a Internet e pesquisa.

"Sim, eles podem. E é até uma boa fonte de energia pros pequenos."
"Que bom" Fugo sorri.
Silêncio mais uma vez.
Diferente de Narancia e de Mista, junto de Giorno, Fugo conseguia muitos momentos de silêncio, o que era algo bom pra ele, acalmava os nervos do albino.
"Nós somos amigos Fugo?" Giorno pergunta.
"Sim, nós somos Giorno." Fugo respondeu com um sorriso.
"Ótimo." Ele volta a olhar pro horizonte.
"Incrível." Fugo permanece olhando para Giorno.
Os olhos verdes, a pele bronzeada, os cabelos dourados em trança.
"Fugo?"
"Hm?" Droga, ele olhou demais.
"Obrigado por ser meu amigo."
Oh.
Isso conseguiu deixar Fugo sem jeito. Um gesto tão bobo mas... ninguém nunca agradeceu ele por algo assim.
"De nada." Apesar do impacto que ele levou, sua voz não tremeu. "Obrigado por ser meu amigo também, Giorno..."
Mais alguns instantes em silêncio.
Quando Fugo começou a imaginar que nada iria o tirar daqueles instantes de paz, seu telefone toca, e Aquarela do Brasil começa a tocar as alturas.
Giorno nem tem tempo de tapar os ouvidos, pois o albino logo atende o telefone.
"Alô, Bruno? 20 minutos atrasado?! Me desculpa de verdade, chego aí em 5." Mais alguns murmúrios em concordância e uma despedida, e Fugo suspira guardando seu telefone.
"Precisa ir?" Giorno pergunta, chateado, pois o pequeno momento deles acabou.
"Preciso..." Mas ele não queria, se for ser sincero.
"Eu te acompanho até a loja então!!"
"De forma alguma!" Fugo se levanta. "Vai deixar seus amigos aqui?" Ele brinca.
"Bem você é meu amigo também, vou apenas te acompanhar." Giorno retruca ele com fatos.
"Certo certo, mas Bucciarati vai brigar com você por ter me atrasado 25 minutos." Fugo explica, mas mesmo assim, seu novo amigo segue ele com as mãos no bolso pelo caminho do parque.
"Quem é Bucciarati?" Giorno faz uma pergunta genuína.
Que acaba pegando num ponto fraco de Fugo.
Para ele, quem era Bucciarati?
Um pai? Um irmão mais velho?
Ele cuidava dele, mas o que ele era para ele?

"O dono do café." Uma resposta que não iria tirar tantos neurônios de Fugo.
"Oooh." Que tipo de resposta era essa? Fugo acabou gostando. "Aquele que me atendeu aquele dia com você?."
"Ele trabalha mais de manhã, e eu de tarde."
Giorno anda discretamente nos pisos pretos da calçada, enquanto sorri e diz:
"Que bom que eu escolhi ir a tarde alimentar os patos então."

Fugo ri com a imagem mental de Bucciarati ou Mista indo alimentar os patos com Giorno.
Se bem que eles iriam fazer alguma piada ou comentário sobre engordar eles pra comer que poderia deixar Giorno triste, ou faria ele rir, Fugo não sabia como o menino poderia reagir, mas sabia que os dois iriam falar algo assim.
Também surgiu a imagem mental dele saindo com Narancia ou Abbacchio.
Narancia iria assustar os patos e jogar pedras na água pra espanta-los, isso ele tem certeza que deixaria Giorno magoado.
Abbacchio não iria nem cogitar sair com ele.

"Uma ótima escolha de verdade." Os dois estão quase chegando na porta do café, e Fugo já podia avistar bruno e Mista na porta ansiosos.
"Ei, talvez seja melhor eu ir daqui sozinho." Fugo interrompe Giorno quando ele estava pulando no último piso preto da calçada, quase o fazendo cair.
"Seria melhor eu te entregar são e salvo na porta do trabalho, não?"
"Nah. Não quero que te olhem torto ou algo assim. Pode deixar que eu explico a história e levo o sermão sozinho."
O loiro olha bem pra Fugo antes de sorrir.
"Mas vamos poder sair de novo né?"
Oh.
Ele realmente queria? Fugo nem imaginou que realmente tinha cativado tanto assim ele.
Mas ainda assim, com um certo alívio, o albino responde:
"Vamos sim."

Giorno abre a bolsa, tira um caderno e uma caneta, escreve rapidamente, e entrega um papel rasgado para ele.
"Aqui meu telefone." Em letras cor de rosa redondinhas, Giorno Giovanna, e o número dele. "Vou esperar sua mensagem." Giorno fecha a bolsa e dá meia volta.
"Até amanhã." Fugo acena.
"Até." A voz melodiosa segue seu dono voltando para o caminho do parque.

E bem como ele imaginava, Mista e Bruno o esperavam na frente da cafeteria.
"Com quem você estava?" Bruno pergunta, voz firme.
"Por que demorou tanto?" Mista também.
"Era um amigo." Fugo responde os dois, entrando na loja.
"AH! O menino que te pediu pra um encontro?" Mista fala.
"Encontro!?" Bruno segue o menino batendo os pés.
"Não era um encontro!" Fugo para atrás do balcão e bate as mãos no mármore.


                                                                            ꕤ


{OIOI!! Aqui é o Peaches vindo pedir desculpas sobre a certa demora que tivemos pra postar esse, sei que não há muitas pessoas seguindo mas, fake it till you make it right? A escola está sendo bem estressante, pra nós dois, então com todas as provas, trabalhos, tarefas etc... fica meio difícil pra seguir uma rotina certa de postagens por enquanto. Mas o quarto capitulo e outros segmentos da historia estão em produção nesse momento!! Não vamos desistir dessa vez! Espero encontrar vocês aqui no próximo capitulo!! ~☆
*alias não são patos, são cisnes no header. }   



Primavera Tardia ꕤ〜 Fugio JojoOnde histórias criam vida. Descubra agora